Muito há a dizer na noite que antecede o início dos trabalhos do FMI em Portugal, em pleno período pré-eleitoral, após o congresso do partido do governo, depois de mais um tétrico tremor de terra no Japão e depois da entrevista que Mário Soares acabou de dar à RTP. Porém, pelo valor intrínseco que motiva as nossas intervenções no sentido do reconhecimento da ética, da objectividade, do interesse prioritário da qualidade de vida das pessoas e da defesa dos direitos dos cidadãos conquistados democraticamente e recentemente alvo de sucessivos retrocessos, há uma notícia que merece, de facto!, a nossa reflexão. Refiro-me a Fernando Nobre, o homem que se proclamou independente e apartidário, que entrou numa corrida eleitoral presidencial com objectivos que evidenciaram, desde o primeiro momento, o intuito de alterar os resultados possíveis de uma eleição, como agente externo mas, a quem poderiamos, num acto de boa-fé (é verdade que, como diz uma amiga minha sempre que eu invoco o princípio da boa-fé, base jurídica primordial: "Tu lembra-te sempre que Boa-Fé é uma freguesia" - e é!... localiza-se, para quem não sabe no concelho de Montemor-o-Novo, a escassos kilómetros de Santiago do Escoural), presumir ingenuidade (a que eu já chamei, apesar disso e aqui mesmo, narcisismo!) ou inexperiência, vulnerabilidade ou megalomania... mas se a notícia merece hoje o nosso destaque é, simplesmente(?), porque, ontem, o mesmo Fernando Nobre aceitou ser cabeça-de-lista do PSD pelo círculo eleitoral de Lisboa, a troco de um lugar até hoje nunca pré-anunciado: o de Presidente da Assembleia da República, no caso de vitória do, afinal!, seu partido! Por isso, depois de ontem ter consultado (sem comentar, refira-se) a página do Facebook de Fernando Nobre e de ter lido a expressão clara de sinceras desilusões de pessoas que nele votaram por acreditarem na sua titubeante e patética demagogia, acabei de ler, há pouco, em nota de rodapé nas televisões, que a referida página foi encerrada para calar ou esconder as críticas que a sua afinal tão propagada transparência não foi sequer capaz de enfrentar. Por tudo isto e pelo significado que a decisão de Fernando Nobre traz à cidadania em que as sociedades contemporâneas depositam parte substantiva da esperança , vale a pena destacar uma série de leituras, de autores sérios e lúcidos que sempre defenderam o exercício saudável desta cidadania que Fernando Nobre tem o desmérito de trair, despertando a justa desconfiança das pessoas no que parecia ser uma fonte de energia alternativa, paralela ao exercício de uma democracia representativa que, por sinergias próprias, incorre muitas vezes em erros, a que a democracia participativa pretende dar um contributo qualitativo, generoso, benéfico e corrector. Pelo mal que Fernando Nobre acabou de institucionalizar contra o interesse público e o altruísmo democrático, fruto de um genuíno exercício puro de participação cívica, leiam-se aqui alguns dos comentários que, por suas mãos e por sua exclusiva culpa narcisista, suscitou:
JMCorreia-Pinto no Politeia
Raimundo Narciso no PuxaPalavra
Graza no Arroios
Renato Teixeira no Cinco Dias
Luís Menezes Leitão no Albergue Espanhol
...porém, felizmente!, porque o problema de Portugal se não esgota nas atitudes que caracterizam as personalidades e patologias de cada protagonista, vale a pena ler, com atenção, sobre a tão requerida "ajuda externa" a Portugal, o que escreveu o já citado JMCorreia-Pinto, sobre o papel político dos cidadãos, o excelente texto de José Saramago no Outros Cadernos de Saramago e sobre o "estado da arte" do panorama político-partidário português, o post de Rui Namorado no O Grande Zoo.
A terminar o Leituras Cruzadas de hoje, fica ainda registo de uma boa notícia (leia-se o post de Sofia Loureiro dos Santos no Defender o Quadrado e ouça-se, na íntegra, no Absorto de Eduardo Graça*) e a divulgação, o apelo e o agradecimento ao também já citado Graza no Arroios.
(nota: o post assinalado com asterisco foi publicado umas horas depois da publicação deste post)
Pois é, Ana Paula, às vezes pode parecer cruel atacar sem acrimómnia aqueles que estão fazendo m grande esforço para fazer passar uma mensagem apelativa na qual muita gente está acreditando.
ResponderEliminarMas quando a gente os conhece...décadas de conhecimento...tem de o fazer para tentar impedir que outros mais, além dos que já estão, sejam enganados.
Para falar com franqueza, a minha dúvida estava só em saber onde seria aplicado o "golpe"...porque "golpe" iria haver de certeza. Ao que parece a tarefa ficou facilitada por excesso de oferta...
Abraço e obrigado pelas referências
Tem tanta razão, caro Correia Pinto... é por isso que depois me irrito com o esforço inglório de uma certa complacência de intenção pedagógica a que me obrigo, para evitar o ímpeto de um imediato "desancar" (perdoe-me a expressão!) que me suscita quem, logo à partida, nos espicaça a intuição e faz reagir, até à ebulição, a própria razão... vale-me por isso o olhar lúcido e desassombrado de quem escreve sem reservas e deixa claro, para o presente e o futuro, aquilo que, de facto, para a realidade dos dias e para a História, é digno de registo!... e agradeço-lhe por isso... por encontrar nos seus escritos a âncora segura do saber em que, sem medo, se pode confiar!
ResponderEliminarBem-haja!... e obrigado por estar sempre aí e por aqui!
Receba, com a minha sincera admiração e amizade, aquele abraço amigo e solidário de sempre.