quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

"Filhos do Destino" - Contra a Discriminação, na Cinemateca!


Dia 1 de Março, 5ªfeira, às 21.30h, em ante-estreia, na Cinemateca (Rua Barata Salgueiro - Lisboa) podemos ver o documentário "Filhos do Destino" realizado por José Meireles, sobre a vida e o papel da música no Povo Roma... e porque a comunidade romani é conhecida pela mobilidade que durante séculos e séculos a caracterizou, faz sentido evocar António Machado, poeta que tornou célebre a expressão: "se hace camiño al andar" (estrofe XXIX do poema "Proverbios y Cantares" que integra o livro "Campos de Castilla", editado pela primeira vez em 1910)... porém, se todos compreendemos e valorizamos o sentido de tão perfeita estrofe pela sincrética forma de tão universal significado, torna-se estranho que não compreendamos a história dos povos e das culturas que melhor a ilustram... principalmente quando vivem entre nós! É o caso do Povo Cigano perseguido e discriminado em quase todos os países onde se sedentarizou. Por isso e por ser de tal forma grave, infundada e injusta a representação socio-cultural (e, consequentemente, económica e política) de que é refém a comunidade cigana, designadamente nas práticas dos povos de que somos parte integrante, a União Europeia tem vindo a desenvolver ao longo dos anos, no âmbito da sua política social e da luta contra a pobreza e a discriminação, recomendações dirigidas aos Estados-membros no sentido de serem reforçados os mecanismos de integração dos povos Roma... sem grande sucesso, confesse-se!... sem grande sucesso porque, de facto!, as representações culturais sobre os Ciganos estão de tal forma interiorizadas, a partir de uma atitude xenófoba, que o próprio trabalho institucional nesta matéria encontra sérias resistências e graves obstáculos na implementação concreta das políticas que tendem a valorizar a diversidade e a promover a igualdade de oportunidades desta comunidade... a verdade é que tudo se processa ao nível de uma espécie de silêncio segregador que subjaz aos procedimentos em que, apesar da rejeição formal da discriminação, antagonicamente, se não investe, com o empenhamento indispensável, na causa inerente ao romper do racismo étnico que ainda caracteriza a ideologia dominante... infelizmente, claro!... Não só porque o Povo Roma é um povo cuja história, por ausência do seu registo escrito, tem origens que se perderam na memória e esse facto é, antes de mais, testemunho de um património único na História da Humanidade, mas também porque, a causa em que radica a tradição xenófoba com que é encarada, decorre de ser considerado um povo resistente à assimilação da sociedade envolvente, cujo grau de obediência e subserviência é um desafio aos padrões da dominação de sociedades hierarquizadas em função de critérios que exigem a homogeneização dos valores, das regras e das práticas... Uma análise cuidada deste fenómeno denotaria que o problema é, essencialmente, um problema de comunicação e transparência das percepções de "um" sobre o "outro"... Reconhecer o problema é, por isso mesmo, o primeiro passo e implica, necessariamente, que o passo seguinte seja: Agir... porque agir é o único passo que se lhe segue no quadro da defesa pelo respeito efectivo pelos Direitos Humanos. Vale por isso a pena ir ver o documentário "Filhos do Destino" de José Meireles.
 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sons Femininos...

... "Foggy Day" na voz de Billie Holiday.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Do "Acordo" (?) Ortográfico...

... Pronuncio-me hoje, sobre o dito Acordo Ortográfico, para dizer: Não!... e se ainda o não fizera, foi apenas por razões que se prendem com o escrupuloso cuidado que é devido a tais matérias... Porém, acabei por assinar a iniciativa que o rejeita (aqui)!... Pela falta de rigor com que foram definidas as alterações (apesar dos forçados argumentos linguísticos!) em que se baseia e por não respeitar a evolução cultural das línguas!... de certo modo, perdoem-me o desabafo!, mais parece um exercício resultante de uma pretensa "modernidade"... sem "claridade" ou função social (utilidade - se o preferirem!) que o justifique.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Do (In)Sucesso das "Medidas" de Austeridade...

Os dados recolhidos em 2008 no relatório da OIT (World Work Report) constataram que, a partir de meados dos anos 90, houve um crescimento global da riqueza na economia mundial com reflexos no aumento do volume da população empregada - a qual, entre 1997 e 2007, aumentou cerca de 30%.... porém, como o próprio relatório assinalava, tal crescimento não resultou da diminuição generalizada das desigualdades de rendimento (entre 1990 e 2005, pelo menos em dois terços dos países abrangidos pelo estudo, registou-se o aumento da proporção do rendimento apenas!, nos agregados familiares mais ricos face aos mais pobres)! Vale ainda a pena destacar uma outra constatação que decorre da conclusão paralela apresentada pelo Global Wage Report: o facto de, na generalidade dos países, a percentagem do PIB relativa a salários ter vindo a diminuir (por exemplo, entre 1995 e 2007, por cada 1,0% de aumento anual do PIB per capita houve um aumento de apenas 0,75% dos salários), evidencia que o aumento do PIB não tem sido proporcionalmente acompanhado pela compensação salarial dos empregados. Por esta e muitas outras razões, podemos afirmar que, não só o crescimento da riqueza não implica diminuição das desigualdades salariais mas, de facto, não existe uma relação linear e automática entre o aumento da produtividade e o crescimento de salários... e se às condições de partida da recolha destes dados acrescentarmos os elementos drásticos que significam as taxas de desemprego, a recessão económica e os efeitos sociais das chamadas medidas de austeridade que, nos últimos anos e, em particular, nos últimos meses, têm agravado de forma vertiginosa as condições de vida das populações, podemos, mesmo com falta de dados mais actualizados, ter uma ideia do cenário que, no médio prazo, reflectirá, nestes estudos, um inequívoco e profundo retrocesso socio-económico global e, naturalmente!, nacional.  Logo, se dúvidas houvesse, bastaria este pequeno apontamento para podermos, sem medo de errar, afirmar contundentemente que as orientações políticas adoptadas pelas instâncias financeiras e cegamente seguidas pelos Governos dos países delas dependentes  para, pretensamente, debelar a "crise", não têm em consideração, nem de longe nem de perto, os dados objectivos da análise socio-económica contemporânea e, por isso, não visam, de forma alguma e apesar de toda a argumentação demagógica e castradora das dinâmicas sociais, a recuperação económica e, menos ainda, a revitalização social dos países e dos povos. 
(sobre os dados dos relatórios em causa podem ler aqui uma síntese esclarecedora; quanto à imagem, direi que esta prodigiosa obra de Salvador Dali adquire, nos dias que correm, uma pluralidade de significados  que justifica a nossa melhor reflexão).

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Crimes de Ódio... Contra as Mulheres!


De David Fincher, com Daniel Craig no papel do jornalista Mikael Blomkvist e Rooney Mara, nomeada para os Óscares pela sua interpretação da investigadora Lisbeth Salander, o filme é uma muito bem conseguida adaptação do 1º volume da excelente trilogia do jornalista e escritor sueco Stig Larssen "Millenium..."... e mais não digo, a não ser que este olhar os crimes contra as mulheres enquadrados socio-cultural e ideologicamente, numa dimensão que lhes confere a natureza de "crimes de ódio" é notável - em particular se pensarmos que há uma opinião pública generalista que tende a reduzir a violência contra as mulheres a questões meramente passionais... vale mesmo a pena ir ver!

A história mais querida do mundo...


... deslumbrem-se!... porque este vídeo é, simplesmente!, encantador! :))

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Força dos Dias...

"Quanto mais pessimista é a visão que eu tenho do mundo e das coisas, mais vontade tenho de me envolver nelas."  José Afonso (via Folha Seca)



"Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti

ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô (bis)

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô (bis)

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô (bis)

Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer

ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô (bis)" (José Afonso)

Entre a "Crise" e a Razão...

Como a imagem bem ilustra, as faces da razão legitimam a diversidade e desautorizam o monolitismo... por isso, a linearidade das pretensas evidências é uma falácia e todas as soluções apresentadas como únicas (ler aqui e aqui), no que à sua necessidade e suficência diz respeito, são apenas escolhas a que subjazem interesses - ou, se preferirem, motivações. Neste sentido, é desajustado o conceito de "crise" (dada a natureza "aguda" ou, pelo menos, conjuntural que supõe) para a análise e compreensão das sociedades europeias contemporâneas... uma vez que o conjunto de regras e procedimentos em que assenta (no conjunto das instituições internacionais -com destaque para a UE e o FMI) a gestão política e financeira das economias nacionais, configura, a partir de um condicionalismo ideológico "a priori", uma estrutura organizacional... "para bom entendedor, meia palavra basta".

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"... Panos de Seda..."


... "Era de noite e levaram..." - palavras de José Afonso... para que se não esqueça! Obrigado, Zeca! Não esqueceremos!

Sonoridades Intemporais...


... "Redondo Vocábulo"... de José Afonso...

"... Sê Constante..."


"Tinha uma sala mal iluminada
Perguntavas pelo amigo e estava a monte
A fuga era a última cartada
A pide estava ali mesmo defronte

As vezes uma dúvida rondava
Valia ou não a pena o que fazias?
Se alguém caía um outro alevantava
O tronco que tombava e renascias

A velha história ainda mal começa
Agora está voltando ao que era dantes
Mas se há um camarada à tua espera
Não faltes ao encontro sê constante

Há sempre quem se prante à tua mesa
Armado em conselheiro ou penitente
A luta agora está de novo acesa
E o caminho é só um é sempre em frente

Perdeste a treino falta-te a paciência
Ouviste antes do tempo mil fanfarras
Já os soldados fazem continência
Ao som do choradinho e das guitarras

A velha história ainda mal começa
Agora esta voltando ao que era dantes
Mas se há um camarada à tua espera
Não faltes ao encontro sê constante."
José Afonso

"Maior que o Pensamento"...


... 25 anos depois, ainda e sempre!, Zeca Afonso... a Voz que nos conduz ao enfrentar de todos os futuros...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Feliz Ano Novo :))

... hoje, 22 de Fevereiro, começa o Ano Novo Tibetano... um ano que esperemos que acabe com o período de imolações, desaparecimentos, torturas e privação de bens e liberdades.

Filhos do Destino - 2


Filhos do Destino Trailer 2 from Pedro Davim on Vimeo.
... um novo excerto do documentário de José Meireles "Filhos do Destino"... a imagem é de Pedro Davim e Miguel Quental e o som de Alexandre Lau... vale a pena ver... porque a história dos povos se conhece na partilha das suas histórias de vida, por dentro de cada tempo e em todos os espaços!...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

... não, não é opinião!...

... é crime!... e não é demais lembrá-lo porque, regra geral, da persistência das "crises" renascem, como das cinzas, atitudes e juízos facéis, profundamente infundados e injustos...

A Grécia não está Sózinha!

... apesar do novo empréstimo de 130 milhões que o Eurogrupo disponibilizou à Grécia, o cenário mantém-se terrível para a vida dos cidadãos... dessas dificuldades podemos ter uma "pálida" ideia se pensarmos que, para além da exigência de mais "esforços" à sociedade grega que implicam, necessariamente, a desaceleração do consumo e consequentemente de toda a economia, bem como um mais "rigoroso acompanahmento" da execução das medidas de austeridade, o pretenso horizonte da eventual "recuperação"(?) pretende que, até 2020, a dívida pública do país desça aos... 120% do PIB!!!... a pergunta é inevitável e a resposta também: que condições objectivas oferece uma dinâmica desta natureza para o crescimento e a competitividade que continuam a ser, "aos olhos" dos mercados!, os eixos de qualquer revitalização da confiança dos investidores, a não ser a do aumento sem escrúpulos da especulação?... é por isso que nenhum economista ou cidadão de bom-senso acredita no "plano de ajuda" em curso... e o que é verdade para a Grécia é igualmente verdadeiro para todos os europeus.    

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Olivença - o reabrir da polémica...

A polémica reacendeu-se a propósito da "peregrina" ideia do Partido Popular que, em Olivença, através do seu "Exmo Ayuntamiento", resolveu celebrar a ocupação e anexação do território oliventino pela administração espanhola. Refira-se, antes de mais, que esta ocupação/anexação foi protagonizada por um conjunto de forças militares europeias (franco-britânicas e espanholas -claramente integradas no espírito da conquista napoleónica, cuja validade foi reconhecida como ilegítima e anulada 14 anos depois, em 1815, pelo célebre Tratado de Viena e em particular pelo seu artigo 105º - LER AQUI), cujo intuito se caracterizou por ser inquestionavelmente alheio não só ao Direito Internacional mas, também aos interesses regionais e, em particular, à época, das populações. Ridícula, por extemporânea e, porque não dizê-lo?,  anti-democrática, a iniciativa é apenas uma "manobra de diversão" de um poder político agravadamente contestado em função da crise e do desemprego, que visa a dissimulação através do acender dos "fantasmas" das rivalidades vizinhas numa região de fronteira. A questão não é de somenos e, felizmente!, em Portugal, o Partido Socialista reagiu já (LER AQUI) de forma pública, colocando o problema à tutela ministerial adequada (MNE). Esperemos que a razão e o rigor se sobreponham às estratégias ideológicas e partidárias do Partido Popular que não tem o direito ético de, por mero interesse conjuntural, hipotecar a verdade e a convivência pacífica com que as populações das duas margens do Guadiana têm vivido ao longo da história das democracias portuguesa e espanhola, ressuscitando tempos de uma má-memória franquista que, por toda a região, não colhe felizmente!, senão resistência! ... porque o pretexto de, entre os oliventinos, o interesse pela língua e a cultura portuguesa, ter aumentado significativamente nos últimos anos não justifica procedimentos políticos tão empobrecedores da riqueza cultural e do património que nos une!... a não ser perante uma visão imperialista e autoritária, receosa das regras de solidariedade que a vivência comunitária ensinou às populações, cujas práticas democráticas são exemplo não só de tolerância mas, essencialmente, de entreajuda e confiança recíproca!... porque a amizade, a dignidade e o respeito pela identidade cultural das populações é um Direito que se não pode tratar no tabuleiro dos jogos dissimuladamente "didácticos" ou diplomáticos!   

A Democracia Sequestrada...

...
... de José Saramago, algumas das palavras... lúcidas, necessárias e intrépidas - como convém aos dias que correm em que nunca é demais relembrar!

Cinema, Cultura e Coesão Social...


RAFA teaser 01 from João Salaviza on Vimeo.
É a falta de uma consciência de serviço público que sustenta a falta de apoios ao cinema português - quem o diz é Miguel Gomes, realizador de "Tabu" o filme português que ganhou na categoria "Inovação" a edição deste ano dos Prémios de Cinema em Berlim (ler aqui)... entretanto, João Salaviza, vencedor do "Urso de Ouro" no "Festival de Berlim Shorts"com a curta-metragem "Rafa", dedicou o prémio, a título condicional, aos governantes portugueses se decidirem vir a apoiar o cinema nacional (ler aqui). Tem razão Miguel Gomes ao referir o não reconhecimento do estatuto de serviço público à produção cinematográfica, entre outras... de facto, a ideologia dominante e as prioridades políticas não reconhecem à cultura e, consequentemente, ao cinema e às artes em geral, o estatuto de pilares do trabalho permanente que cria condições efectivas para a coesão social das populações, das culturas e dos países... Esta realidade, para além de confirmar a ideia que a opinião pública tem da gestão política e financeira das economias e das sociedades contemporâneas, denota não apenas a incapacidade de se reconhecer os "nichos" de mercado e as potencialidades inerentes ao investimento na arte mas, ainda, a falta de cultura da classe "dirigente" que, da política à economia, continua sem perceber e assumir que é com produções e equipamentos culturais permanentes e dinâmicos que se pode promover com eficácia a tal "aprendizagem e educação ao longo da vida" que, seguramente, se não adquire em pequenos cursos de informática ou inglês, para entreter a "reforma" e o "desemprego".  

"Existe um Povo..."


"Navio Negreiro" é o nome do Poema... um poema extraordinário!, de Castro Alves, aqui narrado pelo actor Paul Autran e ilustrado com imagens do filme "Amistad"... porque... somos todos, todos os povos do mundo!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Sonoridades Intemporais...


"Moonlight Sonata", a 14ª sonata para piano, de Beethoven... uma espécie de retrato do som do silêncio que se faz dentro quando, cá fora, se ouvem notícias como as que, nos últimos dias, falaram de Beja e de Águeda...

Uma Igreja voltada para o Passado?!...

O 3º Cardeal português destacado para o Vaticano afirma que as mulheres deveriam permanecer em casa, para cuidarem da educação dos filhos (ler aqui)!!!... felizmente, a influência das figuras lusas neste "Estado" não é de grande relevo (um número significativo de países tem um número de representantes muito superior, entre 10 e 12, como é o caso da Itália, da Espanha, do Brasil, etc.)... ... De facto!, a afirmação deste Cardeal "é obra"!!! - depois de gerações de cidadãos, cientistas e pedagogos terem empreendido os processos de análise da construção socio-cognitiva e cultural da estruturação da personalidade das crianças e da sanidade da organização social até se compreender que, para o "desenvolvimento integral dos indivíduos" (Bento de Jesus Caraça dixit) é fundamental a mudança dos papéis sociais tradicionais e a promoção de relações sociais paritárias entre homens e mulheres, num contexto real de igualdade de oportunidades em que a igualdade de género é decisiva!... Tudo isto num contexto económico em que o trabalho de todos é indispensável para a sobrevivência e a dignidade das condições de vida das famílias!... percebe-se que numa mentalidade parada no tempo em que se supõe o mundo sujeito à regressão dos valores e das práticas que as democracias se esforçam por combater, a ideia faça sentido... nos dias que correm, com taxas de desemprego elevadissimas e taxas de natalidade em constante declínio é só, simplesmente!, ridículo!

Desistir da "austeridade"?! ... e depois?

... a Islândia nem sequer alinhou com as ditas "medidas de austeridade" impostas pelas "troikas" do imperialismo financeiro... e depois?... depois, pouco depois!, subiu no rating das agências de notação que comandam as tendências dos mercados (Ler Aqui)... portanto, como dizia a canção e porque os resultados da persistência em querer permanecer em lugares que se não nos adequam, está à vista: "para pior, já basta assim"... faltam-nos apenas os políticos dotados de um saber que lhes permita confiar mais nas suas próprias soluções do que no "alimentar" das dependências externas... e isso, no caso, é difícil, tal é a História da alienação mental e material do pensamento económico-político (e social?) português - cujo perfil já Fernando Pessoa traçou no seu "O Caso Mental Português"... apelidando-o, simplesmente!, de "provinciano"... será?... Será!... até se provar o contrário!

Uma Economia Sem Saída?!

Dos 770.000 desempregados, 250.000 sobrevivem sem trabalho há mais de 2 anos... e se a taxa de 14% superou rapidamente as piores expectativas e, entre os jovens, essa taxa ultrapassou os 35%, tornando-se a 2ª mais alta da União Europeia, a verdade é que a tendência continua a ser a de crescimento desta insustentável realidade (ler aqui). Neste contexto, o interesse público nacional impõe que a delegação da troika, em Portugal desde 4ªfeira para avaliar o grau de cumprimento das condições inerentes aos empréstimos internacionais, seja confrontada com estes números (e consequentemente com o do número de empresas que, diariamente, encerram no nosso país) para que comente com clareza o problema: as medidas de austeridade e a política económica e financeira da UE e em particular as que incidem sobre a Grécia e sobre Portugal, estão a recuperar as economias nacionais e a resgatar da pobreza as sociedades? NÃO ESTÃO!... nesse caso, é legítimo concluir que estas medidas de austeridade não visam, de forma alguma, ajudar os países a revitalizar as economias, limitando-se exclusivamente a garantir que o endividamento dos países não põe em causa o pagamento das "prestações" e dos "juros" desse endividamento... e não vale a pena chorar sobre o "leite derramado", apontar o dedo acusatório em todos os sentidos, inventar pretextos e argumentos para justificar o anátema desta insustentabilidade... a única solução é assumir que este lodaçal dos números anónimos e das opções ideológicas subjacentes a esta gestão económica não conduz a lado nenhum a não ser ao colapso social europeu... e ter a coragem de sentar à mesa das negociações todos os parceiros europeus e internacionais, confrontando-os com estas realidades e obrigando-os a alterar, com realismo, regras e procedimentos de intervenção... ou então, traçar um percurso próprio e sair de uma rede que, actualmente, não oferece quaisquer condições a não ser as da continuidade do empobrecimento, da violência e da desestruturação social.
(Publicado também Aqui) 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um Direito Inalienável...

...
... um texto fabuloso de Eduardo Galeano: "O Direito ao Delírio"... porque estar vivo e querer viver a integralidade do ser-se humano é um direito inalienável... vale a pena ver e ouvir, sem reservas.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Os funcionários públicos podem sempre demitir-se - disse ele?!

Quando a euforia defensiva de uma ideologia, em pretensa guerra quixotesca contra uma imaginária ofensiva ideológica de sinal contrário, cega o uso da razão e do discernimento, produzem-se declarações politicamente irresponsáveis com as quais ninguém ganha... e em que toda a sociedade, a credibilidade da classe política e a democracia perdem. Por isso é, no mínimo!, lamentável, a expressão cruel, desajustada, injusta, ridícula e perigosa de que hoje foi protagonista o vice-presidente do CDS, João Almeida (LER AQUI)... que a esta hora deve estar a pensar que foi muito corajoso ao afirmar que defende a pobreza e a degradação radical da sociedade portuguesa, acelerando a extinção de uma classe média portuguesa já quase inexistente... que lhe façam bom proveito "os louros"... nós ficamos com a consciência e o conhecimento...   

Sons Femininos...

...
..."Tiro ao Álvaro" nas vozes, encantadoras!, de Elis Regina e Adoniran Barbosa...

Pobreza e Violência - retrato de um futuro europeu anunciado...

Com uma taxa de desemprego que atingiu os 13,6%, Portugal é agora o 3º país com maior número de população activa desempregada.,, acrece ao facto um PIB que persiste em tendência de quebra e o aumento de uma carga fiscal avassaladora. Por isso, apesar da justa decisão de não aumentar o IRS aos funcionários públicos cuja penalização ultrapassou já os limites do razoável, o facto é que a nova regra sobre a mobilidade de quem desempenha funções públicas constitui um precedente para o aumento do desemprego e da crise social porque o afastamento compulsivo da residência familiar destes trabalhadores conduzirá a um aumento de despesas que grande parte não terá condições para enfrentar. Assim, as medidas de austeridade aplicadas indiscriminadamente começam, de forma inquestionável, a revelar, cada vez mais, a gravidade dos seus efeitos secundários, com sequelas perigosas para a sanidade de um tecido social cada vez mais fragilizado... porque a austeridade, o aumento da carga fiscal e a liberalização radical das regras laborais podem ter sucesso em economias onde o poder de compra, o consumo, a taxa de emprego e o nível de vida são realidades que se situam muito acima dos indicadores de razoabilidade mas, em países onde o consumo desce assustadoramente em sentido inverso à vertiginosa subida do desemprego, a receita só pode conduzir ao agravamento social da existência individual, familiar e colectiva dos cidadãos... Torna-se por isso urgente reconhecer que a União Europeia optou por um caminho que se encaminha cega, firme e hirta, para onde a Grécia já se encontra... e todos os europeus sentem e sabem que, por tudo isto, temos, à porta, um futuro de pobreza e violência cujo preço a História cobrará aos seus responsáveis.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Sons Femininos...

... "Gracias a la Vida"... na voz de Elis Regina...

Pinto Monteiro, Beirão, Provedor do Povo...

No meio da selva ou, se preferirem!, da floresta legislativa portuguesa onde há sempre caminhos que contornam a realidade, em nome de um relativismo absoluto permitido pelo quase indefinido número de recursos de que as decisões são objecto e por essa espécie de instrumento protector do indefensável que é a prescrição de crimes em casos de "colarinho branco" e afins, é reconfortante ouvir Pinto Monteiro, Procurador-Geral da República. Afirmando que o exercício do cargo é efectivamente um "acto solitário", disso não nos restam dúvidas se pensarmos que foi o próprio quem assumiu que, em Portugal, o segredo de justiça é uma fraude. Sendo incontornável que, apesar do muito que está por fazer, foi sob o seu mandato que mais casos de corrupção foram julgados (banqueiros, bancários, políticos, dirigentes desportivos, autarcas e por aí adiante), Pinto Monteiro foi hoje igual a si próprio: um homem de corpo inteiro, íntegro, democrata, verdadeiro e capaz de assumir as insuficiências do sistema judicial português e as deficiências do seu aparelho legislativo (relembrem-se as afirmações e decisões do PGR em casos como o das escutas ilegais e o da violência nas escolas) . Comove-me sempre ouvir pessoas honestas, conscientes das dificuldades intrínsecas da teia em que se movem, no esforço de exercer com dignidade o exercício das funções públicas de que são investidas - nomeadamente quando o fazem, podendo chegar ao final de "cabeça levantada", cientes de que fizeram o melhor do que de melhor se pode fazer em nome do interesse colectivo da sociedade e dos cidadãos... e se muito se pode sempre especular sobre o exercício de responsabilidades desta natureza, a verdade é que a opinião pública pensa sempre que o acesso ao poder significa liberdade de actuação. Não significa! A única liberdade de que se usufrui é a que resulta do exercício das funções nos termos da lei e a que resulta da capacidade de não ceder aos múltiplos interesses instalados, pela persistência na confiança da sua própria solidão e da sua capacidade de gerir os processos com prudência, inteligência e a ética indispensável à dignidade conceptualmente inerente ao sentido do dever público! - mesmo quando se está perante interlocutores que se investem de porte e vestes intimidatórias e se presumem capazes de criar ou destruir a imagem de pessoas insuspeitas.

Da (des)informação e da manipulação político-económica

A OCDE diz que há sinais de retoma económica... entretanto, as previsões das agências de notação assumem dados de sinal contrário... é o caso da Moody's que baixou o rating de 6 países europeus (Espanha, Itália, Malta, Eslováquia, Portugal e Eslovénia) - descida que integra o agravamento da posição portuguesa de Ba2 para Ba3, ou seja de "lixo" para "lixo de 2ª"! Prevendo uma contracção económica de 3% para o nosso país no ano em curso, a Moody's atribui à "concertação social"o motivo de nos não descer mais níveis (ler aqui)... além disso e como se não bastasse!, França, Reino Unido e agora até a Aústria foram colocadas em perspectiva negativa enquanto as agências Standard & Poor's e a Fintch baixaram, uma vez mais, a notação da banca espanhola (ler aqui)... e se a moral da história repete que quem perde com a dinâmica da manipulação económica e política são sempre as populações, a pergunta é: quem ganha com tudo isto - a não ser os especuladores que até já no reino das imagens dos mercados têm tabuleiro de jogo?!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"Filhos do Destino"...


... Lindissimo... Excelente... Importante!... por si próprio e pela Europa que Somos!... vale a pena, seguramente!, assistir à ante-estreia, no próximo dia 1 de Março, na Cinemateca!
(via José Meireles no Facebook)

O Preço do Trabalho Infantil...

... é, no caso, como aliás em muitos outros, a morte! De facto, a notícia da maior epidemia mortal por envenenamento de mais de 400 crianças, grande parte das quais menores de 5 anos!, deve-se ao facto de trabalharem em minas de ouro, no norte da Nigéria. As poeiras de chumbo que, libertadas, já provocaram a morte de centenas de meninas e meninos, ameaçam milhares destes pequenos/grandes protagonistas da exploração do trabalho infantil que o governo nigeriano diz querer ajudar... mas, o processo de limpeza das aldeias contaminadas ainda mal começou e é, claramente, insuficiente. A denúnica é da Human Rights Watch (LER AQUI e AQUI) e a realidade com que nos confronta, volta a actualizar a questão: quando e com que condições podem, de facto actuar as organizações internacionais para evitar e controlar os danos desumanos que a pobreza e a ignorância propagam, designadamente por negligência das lideranças económicas e políticas que relativizam sempre, com mais ou menos argumentos fáceis, a morte, a fome e a miséria... (Ler também Aqui sobre "Crianças - o Rosto mais Frágil da Globalização da Pobreza...").

Sonoridades Femininas - A Voz dos Deuses...

... "I Will Always Love You"... homenagem incontornável a Whitney Houston...

A ONU com Garzón... Contra os Crimes do Franquismo!

... afinal, as organizações internacionais ainda conseguem ter uma palavra a dizer... e se tal palavra não for eficaz, com consequências reais no plano das decisões concretas, fica, pelo menos!, o registo da sua pronúncia simbólica que, (in)felizmente?!, nos tempos que correm, não é de minimizar... refiro-me à ONU que se pronunciou em defesa de Baltasar Garzón, o Juiz que a Espanha levou à fogueira inquisitorial contemporânea... LER AQUI! 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Versos e Sonoridades Felizes...


... talvez eu devesse pintar ou, pelo menos, fotografar a magnífica lua nascente sobre o rio: "minha laranja a arder na noite fria" - como cantou um dia, Vitorino... deve ter sido por isso que me ocorreu a sonoridade do seu "Tocador da Concertina", cuja melodia encanta e cujo vídeo enternece, pelo retratar de um imaginário romântico que povoa culturas e constrói identidades...

O Povo foi ao Terreiro...

...como se vê!... num inequívoco acto cívico de consciência e veemente protesto contra as medidas de austeridade  de uma Europa que sacrifica os seus povos ao rating dos mercados e dos alinhadissimos discípulos de Frau Merkel... a organização foi da CGTP e vale a pena assinalar que, por aqui, no meio da sociedade empenhada em defender a dignidade das condições de vida, o culto da personalidade ainda não é o centro das causas - eis a lição dos cidadãos aos políticos que resistem e penalizam a aprendizagem, o saber e a competência.

Ao Terreiro... do Povo!

(acedemos ao cartaz, brilhante!, via Renato Teixeira no Cinco Dias)

A leitura do Engª Mira Amaral...

O Engº Mira Amaral, na edição desta semana do Expresso da Meia-Noite, na SIC Notícias, teve uma prestação que vale a pena registar.,, porém, como ainda é cedo para poder divulgar as suas declarações, (já que a edição do programa ainda não está disponível), sugiro que, se não assistiram à emissão, fiquem atentos e a procurem... porque Mira Amaral explicou, por outras palavras, o que, há tempos, aqui escrevi, ao dizer que o decréscimo dos salários a partir do agravamento da crise e da incapacidade política em proteger os direitos dos trabalhadores, é uma estratégia dos mercados para obter, no Ocidente, um cenário de mão-de-obra barata, capaz de competir com os mercados dos países há pouco sub-desenvolvidos e agora, "em emergência"... e disse mais!... disse, com objectividade e desassombro, que, face à concreta fragilidade das economias nacionais, Portugal só tem, relativamente à Roménia, a vantagem de dominar melhor o inglês e de estar um bocadinho mais habituado às regras do mercado... "para bom-entendedor, meia-palavra basta" - diz o povo com razão e o Engº Mira Amaral é um bom-entendedor... resta-nos perceber o significado das suas palavras que a realidade sustenta... infelizmente, claro!... para todos! 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Critérios?... ou falta deles?...

A conversa, dita secreta, entre Vitor Gaspar, ministro das finanças e F. Schultz, ministro alemão foi recebida de "braços abertos" pela comunicação social portuguesa, com o alívio do PSD e a reacção indignada da oposição que acusa o Primeiro-Ministro, Passos Coelho, de ocultar informação sobre a verdadeira situação financeira do país, apesar de todas as medidas de austeridade em curso... independentemente dos desmentidos posteriores dos referidos ministros (ler aqui e aqui), o que mais surpreende é a comunicação social portuguesa nem sequer se pronunciar sobre o carácter "informal" da referida conversa... sinal de que o que mais interessa é a hipotética "esperança" que o anúncio permite para reduzir o medo dos cidadãos e o sensacionalismo que permite por dar voz à oposição e criar "caso" no direito do jornalismo nacional, contra a falta de dignidade formal da abordagem de uma questão desta natureza... critérios?!... ou falta deles?!

Da Tragédia na Grécia ao Trucidar da Europa...



As contrapartidas que a Troika exigiu à Grécia para o avançar de mais um empréstimo são, acima de tudo, um sinal preocupante e um alerta que nenhum país da União Europeia pode ignorar (a título de exemplo, refira-se apenas a decisão de proceder ao congelamento dos salários, sem prejuízo do anteriormente decidido, a saber, milhares e milhares de despedimentos!). Está, de facto!, em curso, o inequívoco desmantelamento das soberanias nacionais em termos económicos e, consequentemente, a apropriação política das independências nacionais pelo eixo franco-alemão, no qual a França desempenha o velho papel, de má-memória!, do colaboracionismo... (ler Aqui, Aqui, e Aqui)
(Publicado também aqui)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Conhecer Garzón... Condenar a "(In)Justiça"...

Ganhem 30 m de vida e vejam, com atenção!, os 2 vídeos que ilustram Quem é o Juiz Baltasar Garzón: o Homem que prendeu Augusto Pinochet, ditador do Chile, que quis julgar os assassinos a soldo de Franco e do Fascismo espanhol, que condenou os GAL contra os interesses (ditos "de Estado" mas, seguramente, corporativos!) e que defendeu e ajudou, como ninguém!, os indígenas na Colômbia... Tenham a coragem de saber e de conhecer, com objectividade, as razões que assistem às obscuras motivações em que assenta a condenação de Garzón, o Juiz que ilustra o modelo de democracia pelo qual, todos, mas, mesmo todos!,aspiramos!... e sim, VIVA GARZÓN!

A Sentença Contra Baltasar Garzón...

O regime judicial espanhol perdeu a credibilidade ao condenar o Juiz Baltasar Garzón  com uma sentença que pode ser lida AQUI... Condenado a não poder exercer durante 11 anos por, alegadamente, ter autorizado escutas a corruptos em cumprimento de regime prisional, a partir de uma argumentação que faz jus à retórica distante da verdade e da justiça, o Juiz exemplar que todos gostariamos que fosse o modelo do exercício de uma profissão de que pode depender, tantas e tantas vezes, a vida e o futuro das pessoas, viu interrompida uma carreira cheia de dignidade a partir de uma ordem medíocre e indigna. A Espanha está mais pobre e mais sózinha, assumindo tempos de má-memória, particularmente assustadores nos tempos que correm! Entretanto, o mundo está com Baltasar Garzón! Viva Baltazar Garzón!
(LER MAIS AQUI)

"Um Dia Isto Tinha Que Acontecer...

Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?"
ANÓNIMO

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sons Femininos...

... "Besame Mucho" ... na voz, única!, de Cesária Évora...

Ainda a MGF ...


... campanha europeia da Amnistia Internacional... contra a Mutilação Genital Feminina...

(publicado também AQUI)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Contra a Mutilação Genital Feminina...


.. o alerta é violento como violentissimos são os números deste flagelo sem nome que, em nome das mais variadas tradições, mutila, para sempre!, o corpo e a alma de milhares e milhares de mulheres, adultas e meninas, por todo o mundo... a realidade é muito mais grosseira e cruel do que podemos imaginar e aqui mesmo, na Europa, este crime é praticado com uma frequência de que não suspeitamos, à revelia do respeito pelos mais elementares Direitos Humanos... É, por isso, urgente conhecer, reconhecer, alertar, explicar, apoiar, ajudar, denunciar, impedir e socorrer! (o vídeo chegou-nos via Isabel Rodeia no Facebook)

Sob o sol, nada de novo...

Os dias correm belos e limpos, sem nuvens sob o magnífico sol de inverno, num testemunho quase ímpar de que as mudanças climáticas assumem o comando da natureza, sem compaixão pela agricultura e a água de que precisamos para sobreviver... urge, por isso, pensar de forma integrada uma sustentabilidade económica e ambiental, capaz de, com eficácia, recriar uma dinâmica equilibrada à preservação da vida. Paralelamente, no mundo humano da política, é cada vez mais premente promover e desenvolver um diálogo capaz de reorientar os caminhos adoptados a pretexto da crise e que mais não são do que o retomar de velhas soluções, incapazes de inverter o horizonte sem esperança deste panorama europeu, caracterizado pelo desemprego e a ausência de criação de condições para a emergência de aparelhos produtivos, revitalizadores da economia... porém, considerando o conformismo e a habituação a uma dinâmica relacional assente na cómoda acusação pronunciada agressivamente e sem objectivos concretos, poder e oposição continuam de costas voltadas, sem sequer manifestarem as diferenças que a defesa do interesse público e, consequentemente, da vida das populações, justificariam... e esta deficitária reflexão e argumentação política empobrece, a cada dia que passa, a democracia que temos, descredibilizando a sua dimensão representativa... disso são exemplo as declarações do líder do PS que afirma ser contra uma parte do Memorando assinado com a Troika (ler aqui) por exemplo, no que se refere à privatização das redes energéticas nacionais. Está certo... mas, é pouco!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Leituras Cruzadas...

... para uma leitura cruzada do que vai pelo mundo e pelo país, sugiro muita, mas mesmo muita literatura... de qualidade!... por exemplo:
JM Correia Pinto no Politeia
João Abel de Freitas e Raimundo Narciso no Puxa Palavra
Francisco Clamote no Terra dos Espantos
Joana Lopes no Entre as Brumas da Memória
Osvaldo Castro no A Carta a Garcia
Eduardo Maia Costa no Sine Die
Rolf Dahmer, Ariel, Rogério da Costa Pereira, Luís Moreira e António Leal Salvado na Pegada
Célia de Sousa e Maria Flor Pedroso no Sem Embargo
Alexandre Rosa no Olhares do Litoral
M.S.Ferreira no On The Road
A.Pedro Correia no Aventar
Ricardo Santos Pinto e João Valente Aguiar no Cinco Dias...
... e porque nos faz bem pensar duas ou mais vezes antes de nos precipitarmos a avançar juízos sem sustentabilidade e que pouco atendem às lições da História, vale ainda a pena ler Ana Vidal e Pedro Correia no Delito de Opinião, Xavier Canavilhas na já citada Pegada, Nuno Serra no Ladrões de Bicicletas e... Vitor Oliveira Jorge no Trans-ferir.

Do Carnaval à Política Económica...

Não tenho o hábito de me mascarar ou de participar nos rituais que integram a celebração tradicional do Carnaval... porém, não posso deixar de me pronunciar sobre o anúncio da inexistência de tolerância de ponto para este dia, por considerar que a decisão reflecte a forma de pensar um país, a sua sociedade e a sua economia. De facto, o anúncio inscreve-se nessa outra orientação mais alargada de reduzir o número de feriados nacionais, como se desse facto decorresse a crise económica e a deficitária capacidade de produção com que nos defrontamos. A realidade é que o PIB é condicionado pelas determinações económico-políticas ditadas pelos compromissos e acordos comunitários - a que Portugal nunca ofereceu a resistência que a defesa da soberania e da independência requeriam e não, como demagogicamente nos querem fazer crer, pela produtividade dos trabalhadores (refira-se a este propósito que estas questões da soberania parecem ser de somenos já que até o feriado do 5 de Outubro vai ser extinto - mas isso seria motivo para outra abordagem que não é o tema explícito deste post). Posto isto, cabe dizer que a decisão de não conceder tolerância de ponto pelo Carnaval é absurdamente contraditória, designadamente porque tem vindo a ser inscrita na pretensa lógica do aumento da riqueza e da revitalização económica nacional (ler aquiaqui e aqui). De facto, o significativo número de autarquias que investem e recolhem receitas a partir das iniciativas festivas deste período anual, sofrerá um prejuízo sério já que, aos investimentos feitos, é retirada "a priori" a potencialidade de reunir os públicos que os justificam... Depois do que acabei de escrever (ler AQUI), cabe agora perguntar: que grau de responsabilidade e de coerência política assiste a esta decisão que revela, afinal, a ausência de um planeamento sustentado e indispensável como resposta à grave crise que todos conhecemos, sentimos e enfrentamos? 

Sonoridades Intemporais...

... L. Shankar e Zakir Hussein "Shankarabaranam..."...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Com um Pé na PEGADA...

Confesso que o convite vem de longe mas, desta vez, como dizia o Rogério da Costa Pereira, cedi ao cansaço e, com sincero regozijo, começo, a partir de agora, a escrever, também, no PEGADA... como digo no 1º post que aí acabei de publicar (ler aqui), tentarei não me repetir :))

Do poder da Realidade contra a Liberdade...

... não nos iludamos!... o sistema de crenças e representações a que, de forma estrutural, nos encontramos alienados por determinações socio-cognitivas, culturais e psicológicas, é o instrumento maior da manipulação do livre-arbítrio e da autonomia do pensamento... é por isso que o controle social se exerce mesmo no aparente contra-poder que mais não faz do que criar condições de continuidade às lógicas de corporativismo que justificam a escolha dos contrários... assim, vivemos reféns de uma contínua ilusão de mudança que só por momentos nos permite vislumbrar o movimento... ocorrem-me as teorias dos pensadores pré-socráticos, Heraclito, Empédocles e Zenão de Eleia cujo grau de percepção denota excelsas explicações do papel e da função do simbólico... ou, se preferirem, essa obra magistral de Bertolucci intitulada "O Último Imperador" onde se dá conta da dificuldade em se manter o rumo por mais tolerante que seja, face à cegueira das dinâmicas do poder que podem até nem se reconhecer como tal...   

Evidências...

(via Fernanda Guadalupe no Facebook)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sonoridades Intemporais...

... "El Anarquista" na voz e no sentir de Pedro Soriano...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ilacções Eletrizantes...

Depois da apologia da privatização da EDP e da sua compra por responsáveis pela produção elétrica de uma das maiores barragens do mundo, a Standard & Poor baixou o rating de uma das poucas empresas públicas portuguesas -que conseguiu manter-se cotada nos mercados internacionais até à sua venda- para um nível considerado LIXO (ler aqui)... curiosamente, a delegação brasileira da Reuters afirma ser convicção da EDP a possibilidade da Three Gorges lhe reduzir o risco financeiro (ler aqui)!!??... pois... mas, a realidade que expressa o nível de confiança dos mercados está à vista e as ilacções que se podem (e devem!), neste caso!, considerar eletrizantes são, naturalmente!, políticas!... estranhamente - ou talvez não?!- o silêncio, menos que muito pouco iluminado, torna-se, à medida que o tempo passa, cada vez mais... negro!

Reparos Dispensáveis em caso de Justeza e Bom-Senso

 
(via Bruno Peixe Dias no Facebook)


Obrigado, Arquitecto...

Nuno Teotónio Pereira, arquitecto e antifascista, foi justamente homenageado no passado dia 30 de Janeiro, na comemoração do seu 90º aniversário. Notável pela criatividade e o sentido de dever público com que desenvolveu a sua obra, dando cumprimento à profissão que escolheu e com a qual fez questão de abraçar a dimensão da habitação social, o arquitecto Nuno Teotónio Pereira é um testemunho vivo da integridade com que se pode realizar um percurso pessoal e profissional, valorizando sempre o interesse público e a solidariedade social. Exemplo da capacidade de enfrentar os desafios temporais, sem preguiça e sem receio, Nuno Teotónio Pereira, foi, por várias vezes, preso e torturado pela PIDE até, finalmente!, lhe ter sido devolvida a liberdade, no dia 25 de Abril de 1974. Ainda que uns dias depois da sua data de aniversário, não poderiamos deixar de nos associar a esta homenagem, símbolo de que o melhor do nosso Património (sim, Património com letra maiúscula!), são os que nos legam o traço de carácter que nos torna capazes de dignificar a condição humana! Obrigado, Arquitecto!... Bem-haja, Nuno Teotónio Pereira!... "Venham mais cinco...", outros tantos e mais uns quantos para que se não perca a oportunidade de, constantemente, revermos viva a imagem da persistência, da confiança e da esperança (ler aqui, aqui e aqui).

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Para Reflectir...

"A Cultura é a soma de todas as formas de arte, amor e pensamento que, ao longo dos séculos, permitiram ao homem ser menos escravizado." (André Malraux).

(do "Público" de hoje, via Flávio Pinho no Facebook).‎