domingo, 31 de março de 2013

"Um País de Gestores...

"Dantes dizia-se que Portugal era um país de doutores. O que deveria ser um sinal de emancipação, o saber que no país os doutores derramassem sobre processos e incultos, era antes uma separação entre os intelectuais e os simples (Gramsci), uma colocação do saber em estatuto, doutor era distância, título, obrigava a reverência, vénia, o Sr. Doutor ainda não chegou, depois pergunta-se ao Sr. Doutor, sim, as azevias são para o Sr. Doutor.
Quem, vindo de baixo, não queria o sol de ser doutor, quantos não renegaram as origens nesse trajecto que fizeram de costas voltadas para a miséria que imperava? Não foi essa, e é, voracidade de ascensão, que mata em muitos o que tendo sido revolta e sentido de justiça na juventude se transforma em oportunismo e sacanice (Jorge de Sena, O país de sacanas”) na condição adulta? Ele é óbvio que há também oportunistas natos e até criaturas que já vêm com almas pidescas, nesses habita a inveja nas formas que a literatura naturalista mais experimental traçou como sinal de certa monstruosidade biológica – já não estamos aí, na unilateralidade da explicação dos comportamentos, mas a genética recolocou o problema da determinação de certos comportamentos. O que leva um tipo a, sendo Ministro das Finanças, torturar um país inteiro com o exercício das suas imposturas supostamente ciência económica? O que explica um Gaspar?
O problema não era entretanto, tanto “doutor” no ar e, na realidade, tão poucos doutores, mas o analfabetismo, o outro reverso da estrutura pátria, o que tornava o ser-se doutor essa intangibilidade por vazio no que sobrava sociologicamente falando, esse direito de pernada do título sobre o que fosse que se apresentasse, esse chego-me para o lado dos de baixo, esse aceno cheio de “respeitinho é que é preciso” dos do meio remediado - são os piores e mais vorazes, preenchem nas administrações públicas os cargos de micro-poder, estão impantes dessa responsabilidade e não hesitam no processo disciplinar, no amesquinhamento de terceiros sob a sua alçada.
Esse furioso acesso ao bem estar que algum poder, ou muito poder – ou mesmo o poder de Estado, e neste o poder policial, o arbitrário gesto de mandar torturar ou matar, de muitas formas – permite e foi permitindo, constituindo-se famílias de poder longevas, marcou gerações de apaniguados do regime e dos regimes que se foram sucedendo à “velha senhora”. Os poderes têm sempre clientelas. Assim como a riqueza se reproduz, o canudo, qualquer que fosse, o de ser-se engenheiro doutor ( "o Senhor Engenheiro hoje engraxa? Engraxo na baixa" Alexandre O'Neil) ou médico doutor, ou advogado doutor, ou doutor em finanças ( que arrepio!), permitia ( agora é uma entrada directa no desemprego, a não ser que se pertença a uma juventude partidária) esse acesso aos patamares de reprodução da riqueza. E obviamente esse estar ao serviço da reprodução da pobreza enquanto riqueza para si mesmos.
Mas esse D. R. que se sucedia na boca de todos os “indiferenciados”, nada dizia do verdadeiro saber de muitos doutores. Os que detinham um saber e erudição verdadeiros e o punham ao serviço de todos – tentavam pôr – eram doutores. Ainda agora faleceu um grande Doutor, o Dr. Óscar Lopes, referência incontornável para todos os da minha geração e anterior. Fiz o meu exame de literatura do 7º ano com a sua, e do Dr. António José Saraiva, História da Literatura. Usei o livro proibido para efeitos de exame, era muito completo: à literatura e aos aspectos estilísticos juntava, de modo esclarecedor, os enquadramentos históricos e sociológicos. Era um livro que nos abria o país fechado na história oficial.
O saber nunca fez mal a ninguém, o falso saber, que hoje é generalizado e faz parte das estratégias da aparência, esse cola-se a uma qualquer imagem desejada. O marketing é isso: a promoção da superficialidade da imagem que esconde a substância do que desenha (design). Quando se diz que a imagem isto ou aquilo, não se está a falar do que é a imagem para além do que significa no design, mas do que parece a própria forma desgarrada e absoluta, em estatuto de aura e fetiche, sendo todas as estratégias viradas para que o que pareça convença contra aquilo que possa ser, ou na ausência total do que esse aquilo seja ou possa ser. É a sociedade do espectáculo. Trata-se de um interminável tráfico de fluxos de imagens ao serviço de operacionalidades funcionais de um vazio activíssimo. É isso que explica que não saiamos da crise. Enquanto tudo o que se faça ao coma crítico da economia europeia forem paliativos, cuidados paliativos, o que se prolonga é o coma. Só se sai disto, não com as reformas estruturais que não o são mas medidas radicais ao serviço de um alargamento do fosso que sistema cria entre ricos e pobres, com um revolução das medidas, com uma total alteração de paradigma.
O nosso problema hoje é a falta de doutores e sermos um país de gestores. As últimas gerações no poder são gerações de gestores, são conhecedores de vazios e chavões, são obcecados da palavra inovação e nada inovam nem inventam, a maior parte formados nessas universidades de cursos rápidos que aproveitaram as tais oportunidades de mercado – um mercado de ascensões sociais aceleradas – para vender um saber vulgarizado, agora abastardado ao ponto a que chegámos de se produzir iliteracia em ambiente universitário, todo ele muitos eventos e performativo.
O problema hoje é que somos um país de gestores e de engenheiros rápidos (mesmo aos doutores o que se pede é que sejam gestores) pessoas incapazes de uma visão política culturalmente informada, incapazes de perceber o mundo para além do seu horizonte salarial e tráficos possíveis alcandorados na posição política. A política é uma forma de capitalizar. Diziam esses tipos que isso era em África, enquanto durou Abril e a porta da sacanice empreiteira negocial estava fechada. África, essa África de quem não a conhece, é o que eles são."       
Fernando Mora Ramos
(via Fernando Mora Ramos e Maria de Fátima Fitas no FB - a imagem é escolha da minha autoria)

sábado, 30 de março de 2013

Da Liberdade como Libertação...


Das Ruínas da Europa ao Repto do Futuro...

O texto é de Viriato Soromenho Marques e foi publicado no DN de 26-03-2013 (a imagem é uma escolha da minha autoria):

"A União Europeia morreu em Chipre?
 
«Quando as tropas norte-americanas libertaram os campos de extermínio nas áreas conquistadas às tropas nazis, o general Eisenhower ordenou que as populações civis alemãs das povoações vizinhas fossem obrigadas a visitá-los. Tudo ficou documentado. Vemos civis a vomitarem. Caras chocadas e aturdidas, perante os cadáveres esqueléticos dos judeus que estavam na fila para uma incineração interrompida. A capacidade dos seres humanos se enganarem a si próprios, no plano moral, é quase tão infinita como a capacidade dos ignorantes viverem alegremente nas suas cavernas povoadas de ilusões e preconceitos. O povo alemão assistiu ao desaparecimento dos seus 600 mil judeus sem dar por isso. Viu desaparecerem os médicos, os advogados, os professores, os músicos, os cineastas, os banqueiros, os comerciantes, os cientistas, viu a hemorragia da autêntica aristocracia intel...ectual da Alemanha. Mas em 1945, perante as cinzas e os esqueletos dos antigos vizinhos, ficaram chocados e surpreendidos.

Em 2013, 500 milhões de europeus foram testemunhas, ao vivo e a cores, de um ataque relâmpago ao Chipre. Todos vimos um povo sob uma chantagem, violando os mais básicos princípios da segurança jurídica e do estado de direito. Vimos como o governo Merkel obrigou os cipriotas a escolher, usando a pistola do BCE, entre o fuzilamento ou a morte lenta. Nos governos europeus ninguém teve um só gesto de reprovação. A Europa é hoje governada por Quislings e Pétains. A ideia da União Europeia morreu em Chipre. As ruínas da Europa como a conhecemos estão à nossa frente. É apenas uma questão de tempo. Este é o assunto político que temos de discutir em Portugal, se não quisermos um dia corar perante o cadáver do nosso próprio futuro como nação digna e independente.»
 
(com o agradecimento à Helena Pato pela partilha no Facebook)

Sonoridades Femininas...


... "Malaika" é a mais conhecida interpretação de Miryam Makeba, cuja vida é brevemente resumida neste vídeo que chegou via Manuel Duran Clemente no Facebook (a quem aproveito para agradecer, com um abraço, a bonita partilha)...

Da Natureza da Atitude...


sexta-feira, 29 de março de 2013

Leituras Cruzadas (Atualizadas)...

Giorgio Agamben no Blog da Boitempo
José Manuel Correia Pinto no Politeia
Raimundo Narciso no PuxaPalavra*
Estrela Serrano no Vai e Vem
Alexandre Rosa no Olhares do Litoral
Eduardo Pitta no Da Literatura
Vitor Dias no O Tempo das Cerejas
Joana Lopes no Entre as Brumas da Memória
Rui Bebiano no A Terceira Noite
Unesco - Cante Alentejano a Património Imaterial da Humanidade

* com um grande abraço de agradecimento ao meu amigo Raimundo Narciso pelas gratificantes e honrosas palavras com que refere A Nossa Candeia

Sonoridades Femininas...


Leituras Cruzadas...

Giorgio Agamben no Blog da Boitempo
José Manuel Correia Pinto no Politeia
Estrela Serrano no Vai e Vem
Alexandre Rosa no Olhares do Litoral
Eduardo Pitta no Da Literatura
Vitor Dias no O Tempo das Cerejas
Rui Bebiano no A Terceira Noite

Do Saber, da Humildade, da Coragem e da Razão

Vale a pena ouvir o discurso do Reitor da Universidade de Lisboa, Professor António Sampaio da Nóvoa, na celebração do Centenário do Nascimento de Álvaro Cunhal. (o vídeo chegou via José Carlos Faria no Facebook)

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sócrates, o Agitador...

Gostei de ouvir a entrevista de José Sócrates porque reedita o debate político em Portugal, um país que anda, cinzento e pesaroso, de cabeça baixa e ombros curvados sob o peso da completa ausência de esperança. Penso que corremos o risco de assistir ao desaparecimento do protagonismo da potencial mas invisível oposição que se aguarda (?!) do PS e de ver branquear a atualidade num diálogo acusatório, defensivo e contra-acusatório que não trará vantagens na construção do futuro e alargará a margem de cumprimento de uma legislatura esmagadora... de qualquer modo, Sócrates traz um discurso capaz de ajudar as pessoas a retomarem o pensamento e a crítica política... vamos ver se consegue gerir inteligentemente as suas intervenções, sem ceder à tentação de se repetir na defesa do passado e sem sucumbir aos ataques de que vai ser alvo... e, acima de tudo, se a agitação provocada pelo regresso do espírito narrativo de Sócrates sobe o nível e a riqueza do debate político... porque, afinal de contas, é fundamental sair do pantanoso marasmo que caracteriza os dias... um bom ponto de partida para a revitalização da análise, da opinião e da discussão é, de facto, a comparação do texto original do Memorando e a versão que, entretanto, foi sendo desenhada - tema que deve integrar a problematização da economia política europeia contemporânea, dos mecanismos financeiros internacionais e da sua relação com os Estados e os Países, bem como a reavaliação do papel, da função e da natureza dos conceitos de soberania, independência e interdependência... é pedir demais? ... pois... deve ser... eu sei... mas, vale a pena lembrar que é este o cerne da questão... e que tudo o resto são "narrativas" eivadas de pseudo-ideologias mais ou menos gratuitas...    

Sonoridades Femininas...


Do Teatro...

Com um grande abraço ao José Russo... em Homenagem!... neste 27 de Março, Dia Mundial do Teatro!

Economia e Política - Entre o Rumo e a sua Falta...

terça-feira, 26 de março de 2013

Sonoridades...


Nós, Europeus, Humilhados e Ofendidos...


"O CHIPRE E NÓS

Manuel Alegre


Estamos como aqueles prisioneiros dos campos de concentração que viviam na ilusão de que a vez deles talvez não chegasse, enquanto os outros iam sendo encaminhados para as câmaras de gás. Não se vê nenhuma cruz gamada, não há soldados a gritar ordens, a frase Arbeit macht frei ainda não aparece à entrada do nosso país. 
Mas o ministro Schaulbe, Durão Barroso e os donos da Europa germanizada metem medo. Não precisam de invadir nem de bombardear. Tomam um decisão e exterminam um país. Ontem foi o Chipre. Os quinta colunas que governam os países europeus e os comentadores arregimentados acham que não se pega, o Chipre é um pequeno país. Já tinham dito o mesmo da Grécia. Enquanto não nos puserem uma marca na lapela, eles julgam que vamos escapar. Mas eu já estou a sentir-me condenado. Não consigo deixar de me sentir cipriota. Estava convencido que pertencíamos à União Europeia, um projecto de prosperidade partilhada entre estados iguais e soberanos. Mas o Chipre, depois da Grécia e, de certo modo, nós próprios, fez-me perceber que esta Europa é uma fraude. Deixou de ser um projecto de paz e liberdade, começa a ser uma ameaça de tipo totalitário, com o objectivo de empobrecer e escravizar os países do sul. Por isso é conveniente que nos sintamos todos cipriotas. Antes que chegue a nossa vez."
(Publicado, hoje, no Jornal I)

Sonoridades Intemporais...

... Chopin "Nocturno" Op.9 Nº3 em B Maior... por Anna Fedorova... (com um agradecimento a Ricardo Cardoso por me ter dado a conhecer, via Facebook, a arte de Anna Fedorova)

segunda-feira, 25 de março de 2013

domingo, 24 de março de 2013

Um Olhar sobre o País que Somos...


... é uma boa história contada e ilustrada de forma exímia, com uma bela fotografia e algumas brilhantes e até impressionantes interpretações... é um filme que cumpre, na exacta medida em que tal lhe é pedido, tudo o que um filme deve ser... é bonito, é portador de verdade e é bom... vale a pena ver: "Comboio Nocturno para Lisboa" com Jeremy Irons... pode ser surpreendente e, tal como me aconteceu, uma boa surpresa!... é verdade: gostei mesmo muito! Acredito que vai acontecer a muita gente...

Álvaro Cunhal - Da Memória como Evocação do Exemplo...

(via Manuel Duran Clemente no Facebook)

À Beira de um País que Abril Fechou...

Estão em curso as celebrações pelo centenário do nascimento de Álvaro Cunhal... ontem, na Aula Magna, para além da música, da arte, da alegria e da união solidária dos que têm como exemplo, o símbolo maior da luta política portuguesa em defesa dos trabalhadores e dos mais desprotegidos em nome da igualdade e da liberdade, ouviu-se um discurso notável proferido pelo Reitor da UL, o Professor António Nóvoa a quem ficamos a dever as palavras que são também uma "senha" para que se acorde e se levante alto o despertar de um Povo engolido pelo que se pretende mas não é, incontornável: " ESTAMOS Á BEIRA DE UM PAÍS QUE ABRIL FECHOU"... Nos tempos que correm estas são as palavras certas para homenagear Álvaro Cunhal... e para erguer a voz de Portugal.

sábado, 23 de março de 2013

Dizer da Mudança...

"MUDANÇA



O Inverno não dura sempre
névoa da nossa desilusão

Desce à terra nuvem que vogas
sobre a aridez da mentira
mil metros acima do chão

Abre-te ao nosso desejo
deixa florir tua água de mudança
nesta cidade em que tudo está à venda
e se pisam os dedos do mais fraco
e a sua dor

Trago na ponta da língua a indignação
e na mala a tiracolo uma carta
sem verdades seguras mas com esperança
num outro Abril

com plantas de luz
para ficarem."

(Urbano Tavares Rodrigues - via Maria Albertina Silva no Facebook)

sexta-feira, 22 de março de 2013

O Som da Primavera...

Aprender a Eliminar a Discriminação...

(via Maria de Fátima Fitas no Facebook)

Da moção de censura...

"O PS A REBOQUE DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

É óbvio que o PS já sabia que o TC tinha chumbado o orçamento – não todo, mas o suficiente para o governo se demitir. Portanto, a moção de censura do PS é um nado morto."

(José Manuel Correia Pinto via Facebook)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Das Primaveras...

... as Primaveras anunciam o ressurgimento da vida... talvez por isso, pelo simbolismo de esperança que dela emana, as Primaveras foram de Praga, foram de Portugal em Abril, foram árabes e continuam a ser o sinal de que a mudança é possível... faltam por aí Primaveras e sobram lágrimas... esperemos que reguem o solo ácido dos tempos que atravessamos como desertos e tornem fértil o caminho do presente para que o futuro se faça... melhor!

(a fotografia, magnífica!, chegou via António Bordalo Lula no Facebook)

Sonoridades Femininas...


... "Somos"... na voz, imortal!, de Chavela Vargas...

quarta-feira, 20 de março de 2013

A Lição Cipriota...

... a propósito do impacto da reacção do Parlamento do Chipre à sugestão do seu próprio Presidente e do Eurogrupo sobre a aplicação "cega" de um imposto sobre depósitos bancários... Chipre, uma pequena ilha mediterrânica, a sul da Europa, meio-grega/meio-turca, absolutamente cipriota, afinal de contas, deu o exemplo a quem receia o poder do dinheiro que, sob a forma de "ajuda" e "resgate" submete, controla e subalterniza os reais interesses coletivos dos povos e dos países... fica assim demonstrado que, perante forças exógenas, podem sempre emergir resistências endógenas capazes de alterar cenários aparentemente "incontornáveis"... tudo depende!... da coragem, da consciência e, se assim podemos dizer, de um certo altruísmo político... 

terça-feira, 19 de março de 2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

Da Europa - Entre o Diagnóstico e a Previsibilidade...

" Conflitos na Europa Podem Agravar-se

Num rasgo de lucidez, o ex-líder do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo, advertiu, há pouco dias, que os conflitos na Europa podem agravar-se e avisou que, no actual cenário, a «questão da guerra e da paz» não deve ser excluída.
«Quem pensa que a questão da guerra e da paz já não se coloca pode estar rotundamente enganado», avisou Junker em entrevista ao semanário alemão Der Spiegel.
Ao pronunciar-se sobre a actual crise europeia, Juncker referiu que detecta «muitos paralelismos com 1913, um período em que todos pensavam que nunca mais haveria uma guerra na Europa». E concretizou: «É impressionante reconhecer como a situação europeia em 2013 se assemelha com a registada há 100 anos».
Para Juncker, os primeiros sinais foram detectados no decurso das campanhas eleitorais na Grécia e Itália. «De repente, surgiram ressentimentos que julgávamos terem desaparecido para sempre», considerou.
O ex-líder do Eurogrupo lamentou que as campanhas eleitorais nos dois países do sul fossem «excessivamente» anti-alemãs e anti-europeias, mas sem deixar de reconhecer que, no caso da Grécia, «a forma como alguns políticos alemães se referiram ao país deixou feridas profundas na sociedade grega».
Juncker frisou que, em sua opinião, a saída da crise apenas será possível com «maior união» entre todos os países do espaço europeu.
A única coisa que não se percebe é se este lúcido «recado» de Jean-Claude Junker também terá como destinatária à chanceler alemã Ângela Merkel. Isto porque Junker aceitou o convite para participar, como apoiante de Ângela Merkel, na campanha eleitoral para as eleições legislativas na Alemanha, em Setembro próximo.
Convirá recordar, já agora, aquilo que Marx escreveu no «18 de Brumário», rectificando uma ideia de Hegel, segundo a qual a história repete-se necessariamente: «Hegel salienta algures que todos os grandes acontecimentos e personagens históricos irrompem digamos assim duas vezes. Esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e na vez seguinte como farsa».
Não sei se, afinal, não terão ambos razão. Porque nem sempre a história se repete como farsa..."
Alfredo Barroso (autor do texto a quem aproveito para agradecer a publicação via Facebook)

Expressões...


(via Luís Santiago no Facebook)

A Cor do Amor...


(via Maria de Fátima Fitas no Facebook)

Sonoridades...

... Serge Reggiani "Le Temps qui Reste"...

domingo, 17 de março de 2013

Da lógica e da desmistificação do ajustamento...

A manipulação e o desrespeito pelos povos, os cidadãos e os valores democráticos da verdade, da transparência, da justiça, da justeza, da liberdade, da igualdade e da responsabilidade social, atingiram um ponto "alto" na história "ocidental" da economia e da política, no contexto da sociedade mediatizada em que vivemos desde o século XX. Porque falar em "ajustamento" nos dias que correm é a mais evidente expressão de cinismo e de desprezo pela consciência das pessoas, pelo conhecimento e pelo (nosso) direito individual e coletivo de exigir, reivindicar e sonhar um mundo melhor... A realidade é que o ajustamento está feito e a alegada "crise" em que vivemos não é mais do que o processo de mudança de que esse ajustamento necessita para se institucionalizar. O ajustamento, ao contrário do que parecem querer fazer-nos acreditar, não é um processo em nome de um futuro melhor onde se recuperem garantias de bem-estar social agora destruídas, mais emprego e mais direitos sociais... não! O ajustamento é o processo que, legitimado no argumento da crise e na sequência das alterações decorrentes das variações financeiras do movimento de capitais, dá aos mercados a possibilidade de se reestruturarem sem os custos sociais dos direitos dos trabalhadores e, consequentemente, da Democracia. O argumento de uma esperança adiada no tempo em nome da capacidade de suportar "sacrifícios" ou seja, de suportar a penalização de vidas humanas, pessoas, famílias e estruturas sociais, através do desemprego e do desmantelamento das competências económicas dos países, é uma falácia que a História da Humanidade registará como tétrica - pelo grau de "embuste" concretizado sob a capacidade de mediatização e disseminação do dito "quarto poder" que continua a dominar a sociedade contemporânea ... Porque, de facto!, não são preciso décadas para que o dito "ajustamento" se concretize... o ajustamento da vida de todos aos interesses da lógica do lucro do mercado "deles" está aí: presente e progressivamente doloroso até nos fazer esquecer dos direitos que tivémos!... e sim, é apenas deste esquecimento que falam quando remetem o discurso para as décadas de cumprimento do tal, eufemisticamente!, chamado "ajustamento"!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Argentina...

(via Paula Brito no Facebook) ... entretanto, mais ou menos a (des)propósito, acabei de ver a notícia que podem ler aqui...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Sonoridades Femininas...

... Anoushka Shankar em "Si no Puedo Verla", num fabuloso encontro com o flamenco...

terça-feira, 12 de março de 2013

segunda-feira, 11 de março de 2013

A não perder!...

... uma jóia que faz jus ao melhor da Arte!... (via Jorge Humberto Filipe no Facebook a quem agradeço -muito!- a bela partilha)

Sonoridades Femininas... para um Bom Dia!

... "Canción de las Simples Cosas"...

Sonoridades Femininas - para Uma Amiga...

... "Hasta Siempre" ...

domingo, 10 de março de 2013

10 de Março - Ainda os Direitos Humanos!

No dia 10 de Março de 1959, a revolta dos Tibetanos contra a invasão chinesa do seu território ficou como uma referência mundial na luta pelo direito à auto-determinação e à independência... Foi também no dia 10 de Março que, há 50 anos, foi proclamada a Constituição do Tibete e, consequentemente, o Dia Nacional do Tibete... e, porque os Direitos Humanos e as Causas não prescrevem, lembramo-lo aqui!
Algumas das razões que justificam, entre tantas outras, a solidariedade com o 10 de Março pelo Tibete podem ler-se aqui e aqui...
 
Entretanto, para quem não sabe, a título de interesse e de curiosidade ou, simplesmente, para refutar a ideia de que os mundos longínquos não devem (?!) preocupar-nos, fica uma nota que sintetiza o velho contacto entre Portugal e o Reino do Tibete (ler aqui)... porque a Humanidade é Una e o Universo, na sua Diversidade, Também!
 

Da Resiliência...

A sobrevivência do Euro fez-se à custa da destruição de instituições sociais e de uma enorme taxa de desemprego na periferia. Isso é um desastre." (James K. Galbraith). Oportuna, a citação que acabei de ler no mural de Flávio Pinho, deu-me o mote: não há muito a acrescentar perante os factos, designadamente quando a necessidade de intervir é tão inequívoca... Afinal, só a China proclama acreditar na UE por estar segura de que o seu expansionismo de mercado tem aqui todas as garantias... sim, a mesma China que executa milhares/milhões de pessoas em nome de um controle político que ninguém reconhece como legítimo - a não ser nos termos da desresponsabilização coletiva com que os governos e as sociedades estão, cada vez mais, a deixar de pensar e de exigir o respeito pelos Direitos Humanos (ler aqui). Por cá, o absurdo demagógico de uma "política de poder" (dominante e oposicionista) que deixa silenciada a chamada "magistratura de influência", reforçando a inflexibilidade da subordinação política do governo aos interesses das instâncias internacionais, arrefece, progressivamente, a pressentida ausência de convições e alternativas do principal partido opositor da designada democracia representativa... Participativa e/ou representativa, a forma democrática subjacente ao sistema eleitoral está nas mãos dos cidadãos... e ainda que o seu horizonte seja tão repetitivo e insatisfatório como o panorama protagonizado pelos protagonistas políticos dos nossos dias, a esperança, resiliente!, continua a tentar encontrar caminho...  

terça-feira, 5 de março de 2013

Hugo Chávez - Comandante pela Venezuela...

(vídeo partilhado por Nuno Ramos de Almeida no Facebook)

domingo, 3 de março de 2013

Grândola à Solta para Separar o Trigo e o Joio...

"Eu vi este povo a lutar..." - diz a canção de boa-memória e que a História reedita, simbólica e relevantemente, nos dias que correm, ao som de um renovado e transversal canto de "Grândola Vila Morena". Evidência maior da natureza complexa das soluções simplistas que, durante muitos anos, na quente reação de oposição aos negros tempos da ditadura, nos fizeram acreditar que o facto de vivermos num regime democrático (leia-se: em que o sistema eleitoral e o pluralismo político-partidários se encontram garantidos), nos permite a certeza de que estamos protegidos contra a abusiva tentação de perpetuar o autoritarismo, o presente defronta-nos com o maior dos desafios: o de saber como resolver legitima e pacificamente o exercício danoso de políticas que atentam contra o interesse nacional e violentam os direitos das pessoas, promovendo o empobrecimento, a exclusão e o exílio de quem procura, apenas!, sobreviver em dignidade. E se temos, na Constituição da República Portuguesa, o melhor dos instrumentos de referência para a orientação da vida do país, na assertiva consagração dos princípios e valores que elegemos, reconhecemos e exigimos sem relativismos ou abdicações, a verdade é que constatamos a escalada inexorável da degradação das condições de vida dos cidadãos, através da degradação sem retorno das condições e dos fatores de produção que nos poderiam resgatar de um intensivo regime de austeridade cujos fins, exclusivamente financeiros e inequivocamente infutíferos, agravam a cada dia uma realidade económica e social insustentável e reduzem a possibilidade de recuperação da soberania e da sustentabilidade das populações que os Estados têm, desde a sua fundação, como primeira e inequívoca obrigação. Por isso, agora, numa altura em que assistimos a um constante e incansável movimento que devolve a vida às palavras que fizeram do poema e da canção "O Povo Saiu à Rua" (ex-libris da exercício da consciência política e do apelo à Liberdade), ocorre-me a sugestão que, um dia, a propósito de uma realidade que não quero intencionalmente aqui referir porque não vem ao caso e implicaria considerandos que se não aplicam à situação relativamente à qual a evoco,  Pinheiro de Azevedo (personagem por quem nem sequer nutri qualquer simpatia) relembrou aquilo que designou por "marcha verde", em referência ao que escrevera sob o título "como executar uma nova carta de escambo"! ... porque se um dia o número de pessoas a apelar à mudança e a imparável e repetida manifestação de vontades e opiniões for igual ou superior a dois terços, no caso, dos eleitores (e não da população conforme o previsto na doutrina evocada pelo referido Almirante), esse facto deveria ser suficiente para garantir aos portugueses a possibilidade de exigir com efeitos concretos novas políticas, novas governações e, quem sabe, apresentar um modelo conforme à Constituição que garantisse novas modalidades de gestão económico-social... porque está, de facto, em causa a vida de milhões de pessoas... e isso é matéria inequívoca de Direitos Humanos!