terça-feira, 31 de março de 2015

"...O Medo é o Assassino do Coração Humano ..."

ENTREVISTA COM UM MÉDICO TIBETANO: LAMA TULKU LOBSANG RINPOCHE
Sou uma pessoa normal, penso o tempo todo. Mas tenho a mente treinada. Isso quer dizer que não sigo meus pensamentos. Eles vêm, mas não afetam nem minha mente, nem meu coração.
Quando um paciente chega para consulta, como o senhor sabe qual o problema?
ROlhando como ele se move, sua postura, seu olhar. Não é necessário que fale nem explique o que se passa. Um doutor de medicina tibetana experiente sabe do que sofre o paciente a 10 m de distância.
Mas o senhor também verifica seus pulsos.
R Assim obtenho a informação que necessito sobre a saúde do paciente. Com a leitura do ritmo dos pulsos é possível diagnosticar cerca de 95% das enfermidades, inclusive psicológicas. A informação dada por eles é precisa como um computador. Para lê-los, é necessária muita experiência.
E depois, como realiza a cura?
RCom as mãos, o olhar e preparados de plantas e minerais.
Segundo a medicina tibetana, qual é a origem das doenças?
R
Nossa ignorância.
Então, perdoe a minha, mas o que entender por ignorância?
R
Não saber que não sabe. Não ver com clareza. Quando vemos com clareza, não temos que pensar. Quando não vemos claramente, colocamos o pensamento para funcionar. E, quanto mais pensamos, mais ignorantes somos, mais confusão criamos.
Como posso ser menos ignorante?
R
Vou ensinar um método muito simples: praticando a compaixão. É a maneira mais fácil de reduzir os pensamentos. E o amor. Se amamos alguém de verdade, se não o queremos só para nós, aumentamos a compaixão.
Que problemas percebe no Ocidente?
R
O medo. O medo é o assassino do coração humano.
Por quê?
R
Porque, com medo, é impossível ser feliz e fazer felizes os outros.
Como enfrentar o medo?
R
Com aceitação. O medo é resistência ao desconhecido.
Como médico, em que parte do corpo vê mais problemas?
R
Na coluna, na parte baixa da coluna: as pessoas permanecem sentadas tempo demais na mesma posição. Com isso, se tornam rígidas demais.
Temos muitos problemas.
R -
 Acreditamos ter muitos problemas, mas, na realidade, nosso problema é que não os temos.
O que isso quer dizer?
R
Que nos acostumamos a ter nossas necessidades básicas satisfeitas, de modo que qualquer pequena contrariedade nos parece um problema. Então, ativamos a mente e começamos a dar voltas e mais voltas sem conseguir solucioná-la.
Alguma recomendação?
R
Se o problema tem solução, já não é um problema. Se não tem, também não.
E para o estresse?
R
Para evitá-lo, é melhor estar louco.
??????
R
É uma piada. Mas não tão piada assim. Eu me refiro a ser ou parecer normal por fora e, por dentro, estar louco: é a melhor maneira de viver.
Que relação o senhor tem com sua mente?
R
Sou uma pessoa normal, penso o tempo todo. Mas tenho a mente treinada. Isso quer dizer que não sigo meus pensamentos. Eles vêm, mas não afetam nem minha mente, nem meu coração.
O senhor ri muito?
R
Quando alguém ri nos abre seu coração. Se você não abre seu coração, é impossível entender o humor. Quando rimos, tudo fica claro. Essa é a linguagem mais poderosa que nos conecta uns aos outros diretamente.
O senhor acaba de lançar um CD de mantras com base eletrônica, para o público ocidental.
R
A música, os mantras e a energia do corpo são a mesma coisa. Como o riso, a música é um grande canal para nos conectar com o outro. Por meio dela, podemos nos abrir e nos transformar: assim, usamos a música em nossa tradição.
O que gostaria de ser quando ficar mais velho?
R
: Gostaria de estar preparado para a morte.
E mais nada?
R
O resto não importa. A morte é o mais importante da vida. Creio que já estou preparado. Mas, antes da morte, devemos nos ocupar da vida. Cada momento é único. Se damos sentido à nossa vida, chegamos à morte com paz interior.
Aqui vivemos de costas para a morte.
R
: Vocês mantêm a morte em segredo. Até que chegará um dia em sua vida em que já não será um segredo: não será possível escondê-la.
E qual o sentido da vida?
R
A vida tem sentido e não tem. Depende de quem você é. Se você realmente vive sua vida, então a vida tem sentido. Todos têm vida, mas nem todos a vivem. Todos temos direito a sermos felizes, mas temos que exercer esse direito. Do contrário, a vida não tem sentido.

terça-feira, 24 de março de 2015

Herberto Helder - porque Não Há Morte para a Poesia!

Herberto Hélder (1930-2015)
"Não sei como dizer-te
Não sei como dizer-te que minha voz te procura e a atenção começa a florir, quando sucede a noite esplêndida e vasta. Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos se enchem de um brilho precioso e estremeces como um pensamento chegado. Quando, iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado pelo pressentir de um tempo distante, e na terra crescida os homens entoam a vindima - eu não sei como dizer-te que cem ideias, dentro de mim te procuram.
 Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.

Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a
primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me faltam um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.

 Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
que te procuram."
... no dia em que foi conhecida a morte do Poeta!...apesar de não haver Morte para a Poesia!

domingo, 22 de março de 2015

Sonoridades Femininas...

... Hindi Zahra em "Imik Si Mik"...

sábado, 14 de março de 2015

Preciosidades...

... para sorrir, aprender, lembrar... e ver na íntegra!... ... porque há patrimónios... inesquecíveis :)

domingo, 8 de março de 2015

Viva o 8 de Março - Da Realidade à Política e à Arte!

No dia 8 de Março de 1857, as operárias de uma fábrica de têxteis em Nova York, iniciaram uma luta indefetível pelos direitos das mulheres! Por melhores condições de trabalho e de vida, melhores salários e igualdade de tratamento!... a luta que as ameaçou desde logo, teve continuidade por muitos, longos e penosos anos em que as suas reivindicações levaram a que fossem ameaçadas, perseguidas e reprimidas pela polícia - ao ponto de, já  no século XX, também nos EUA, acabarem cercadas num incêndio que deflagrou nas instalações de uma fábrica onde trabalhavam e onde resistiam às pressões externas de uma sociedade masculina e patriarcal. Houve vítimas e até, pelo menos, uma morte entre estas corajosas, solitárias e solidárias mulheres! O facto, enquanto atentado contra os direitos das mulheres e dos trabalhadores, foi sendo conhecido e o dia 8 de Março começou a ser assinalado, progressivamente, um pouco por todo o mundo. Desta luta temos hoje um excelente registo no filme "Anjos Rebeldes" (originalmente intitulado: Iron Jawed Angels), um trabalho cinematográfico notável da realizadora Katja von Garnier que conta com a extraordinária interpretação de Hilary Swank no papel de Alice Paul, uma das mulheres cujo nome ficará para sempre, associado à luta memorável e exemplar das Sufragistas a que, nesta obra, dão corpo e voz, também, outras atrizes de reconhecido e justo mérito como Julia Ormond e Angelica Houston. Da difícil, contínua e indefetível luta pelos Direitos Humanos das Mulheres, temos o exemplo simbólico no facto de só em 1975, a ONU ter proclamado o dia 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres. Quanto à justeza da persistência desta luta, são tantos os argumentos, em pleno século XXI, que basta referir alguns dos problemas com que, nesta matéria, nos debatemos nas sociedades ocidentais: desigualdades salariais, desigualdades de tratamento, violência de género, violência doméstica, violência sexual, assédio sexual, tráfico de seres humanos para efeitos de exploração, exposição a estereótipos consumistas de mercados masculinizados e tantas, tantas outras, maiores e menores formas de expressão de "machismos" e "micro-machismos"!... Isto sem falar na urgência de solidariedade que é preciso reforçar e promover, por esse mundo fora, noutras esferas civilizacionais, em que as mulheres não têm direito de voto, não podem conduzir, não podem circular nas ruas sem estarem sujeitas à humilhação e falta de dignidade -que, muitas vezes, as próprias não reconhecem!- de cobrirem completa ou parcialmente o seu corpo, onde lhes é negado o direito ao livre-arbítrio, imposto o casamento forçado e a impossibilidade de determinar o seu futuro... e onde são, simplesmente!, consideradas, nada mais, nada menos,  do que mero património familiar e propriedade patriarcal.
 

sexta-feira, 6 de março de 2015

Desigualdade Salarial, o rosto institucional da Discriminação Sexual...

Por não existir igualdade salarial entre homens e mulheres, em Portugal, as mulheres são obrigadas a trabalhar mais 65 dias por ano para obter a mesma remuneração anual que os homens... Para ilustrar o que este facto significa, instituiu-se assinalar o Dia da Igualdade Salarial no dia 6 de Março, por ser exactamente neste dia que, a partir do 1º dia do ano, se completam os tais 65 dias de trabalho excedentário feminino para efeitos de igual remuneração, pelo desempenho de uma mesma tarefa realizada por homens. Se a este facto somarmos todo o trabalho não remunerado que, apesar da progressiva partilha dos afazeres domésticos e familiares entre pessoas de sexo diferente, continua a sobrecarregar a maioria das mulheres, a evidência de ausência de fundamento racional e o grau de injustiça desta realidade é incontornável. Quando uma sociedade legitima desigualdades básicas, como esta!, não pode, em caso algum!, considerar-se uma sociedade efectivamente republicana e democrática, pautada pela afirmação de valores tais como a igualdade, a liberdade, a responsabilidade social e a solidariedade.