Dia 1 de Março, 5ªfeira, às 21.30h, em ante-estreia, na Cinemateca (Rua Barata Salgueiro - Lisboa) podemos ver o documentário "Filhos do Destino" realizado por José Meireles, sobre a vida e o papel da música no Povo Roma... e porque a comunidade romani é conhecida pela mobilidade que durante séculos e séculos a caracterizou, faz sentido evocar António Machado, poeta que tornou célebre a expressão: "se hace camiño al andar" (estrofe XXIX do poema "Proverbios y Cantares" que integra o livro "Campos de Castilla", editado pela primeira vez em 1910)... porém, se todos compreendemos e valorizamos o sentido de tão perfeita estrofe pela sincrética forma de tão universal significado, torna-se estranho que não compreendamos a história dos povos e das culturas que melhor a ilustram... principalmente quando vivem entre nós! É o caso do Povo Cigano perseguido e discriminado em quase todos os países onde se sedentarizou. Por isso e por ser de tal forma grave, infundada e injusta a representação socio-cultural (e, consequentemente, económica e política) de que é refém a comunidade cigana, designadamente nas práticas dos povos de que somos parte integrante, a União Europeia tem vindo a desenvolver ao longo dos anos, no âmbito da sua política social e da luta contra a pobreza e a discriminação, recomendações dirigidas aos Estados-membros no sentido de serem reforçados os mecanismos de integração dos povos Roma... sem grande sucesso, confesse-se!... sem grande sucesso porque, de facto!, as representações culturais sobre os Ciganos estão de tal forma interiorizadas, a partir de uma atitude xenófoba, que o próprio trabalho institucional nesta matéria encontra sérias resistências e graves obstáculos na implementação concreta das políticas que tendem a valorizar a diversidade e a promover a igualdade de oportunidades desta comunidade... a verdade é que tudo se processa ao nível de uma espécie de silêncio segregador que subjaz aos procedimentos em que, apesar da rejeição formal da discriminação, antagonicamente, se não investe, com o empenhamento indispensável, na causa inerente ao romper do racismo étnico que ainda caracteriza a ideologia dominante... infelizmente, claro!... Não só porque o Povo Roma é um povo cuja história, por ausência do seu registo escrito, tem origens que se perderam na memória e esse facto é, antes de mais, testemunho de um património único na História da Humanidade, mas também porque, a causa em que radica a tradição xenófoba com que é encarada, decorre de ser considerado um povo resistente à assimilação da sociedade envolvente, cujo grau de obediência e subserviência é um desafio aos padrões da dominação de sociedades hierarquizadas em função de critérios que exigem a homogeneização dos valores, das regras e das práticas... Uma análise cuidada deste fenómeno denotaria que o problema é, essencialmente, um problema de comunicação e transparência das percepções de "um" sobre o "outro"... Reconhecer o problema é, por isso mesmo, o primeiro passo e implica, necessariamente, que o passo seguinte seja: Agir... porque agir é o único passo que se lhe segue no quadro da defesa pelo respeito efectivo pelos Direitos Humanos. Vale por isso a pena ir ver o documentário "Filhos do Destino" de José Meireles.
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