sábado, 25 de julho de 2015

O Rosto Assustador da Pobreza - Retratos de uma Lisboa Esquecida...

Quando a pobreza é tão grande que a vida parece parada e as pessoas inscritas num quadro quase imóvel numa espécie de deserto de alma, com os corpos tão crispados e tão crestados que parecem mais escuros nas ruas bordejadas de restos de trapos e pedaços de coisas, temos a perfeita noção da escandalosa e inadmissível mentalidade política que se veste de forma chique e "de lavado", enquanto  anda pela cidade em restaurantes e salas com etiqueta... 
Quando a pobreza é tão devastadora que as pessoas se ameaçam e confrontam por um saco de feijão, arroz, açúcar e "spaguetti" e as casas parecem contentores de tijolos, uns sobre os outros, em bairros que são ilhas submersas de miséria no meio de uma urbanidade aparente, que o consumismo não pára de vender para a ambição especular...
Quando a pobreza é tão desoladora que a paisagem é só triste como um dia lamacento depois das chuvas, em que nada parece poder ser feito senão esquecer e esperar "que passe" e os corpos se vestem sem vontade no cumprimento de uma sobrevivência sem nome...
... vai diminuindo a torrente de palavras com que se diz a imagem e o sentir, perante o peso incomensurável da consciência da crueldade com que é gerido o património e o direito à existência que é de todos, numa absoluta negação discriminatória do acesso à paz e à dignidade...
Quando a pobreza é tanta que, ao conhecê-la, perdemos o sono e queremos, qual sonho acordado, despertar num mundo melhor... deixamos de acreditar no fogo fátuo dos discursos dos protagonistas político-partidários e na vaidade ilusória das suas propagandísticas intenções...
Quando a pobreza é avassaladora e as pessoas subsistem, mesmo assim... percebemos que os heróis da Humanidade são aqueles a quem outros tiram a vida, limitando-os às margens de uma exclusão que preferimos ignorar ou justificar, para fingir que a entendemos como inerente à orgânica social, apenas e só porque não temos a coragem de exigir a Mudança em nome da qual defendemos, formalmente!, os Direitos Humanos, a Liberdade, a Igualdade e a Democracia! 
Disse!

4 comentários:

  1. E a causa é... porque não há efeitos sem as causas que os produzem...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ideológica e pragmática, Rogério... ideológica e perigosamente pragmática!
      Abraço amigo

      Eliminar
  2. Um grito que dói. Uma realidade que os políticos vão colorindo conforme as cores que mais lhes convêm.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Dói sim, Luís... é indizível o sentimento tanto quanto é inqualificável a inércia política. Ontem, um amigo dizia-me que, segundo o PNUD, se houvesse uma distribuição equitativa da riqueza, cada cidadão do planeta poderia auferir, mensalmente, 1.900€ ... Portanto, como o problema tem solução, a não intervenção política é, neste caso, um crime.
      Abraço amigo.

      Eliminar