quinta-feira, 29 de maio de 2014

António Costa e o Mestre-Sala do Baile da Pinha...

António Costa decidiu candidatar-se à liderança do PS!... Reiterando o que aqui escrevi, há cerca de um ano atrás, posso agora dizer: finalmente e felizmente! ... porque o país precisa de uma oposição condigna e de um partido capaz de se colocar, depois de 2 oportunidades criadas e negociadas por António Costa com o líder do maior partido da oposição, no sentido de dar um crédito de confiança ao PS liderado por António José Seguro (para que este assumisse o lugar de protagonismo e credibilidade que lhe era requerido pela extrema gravidade da situação social e socio-económica portuguesa), o Partido Socialista alcançou (apenas!) uns míseros 31,5% nas eleições europeias quando, na atual conjuntura político-económica, caso fruísse de credibilidade e confiança junto do eleitorado, não deveria surpreender que tivesse alcançado 38 a 40% dos votos úteis!!!... Por isso, agora, do ponto de vista ético, deontológico e desinteressado, em nome do interesse nacional e à revelia dos tristes e pobres corporativismos partidários revelados precipitadamente por alguns militantes socialistas que ocupam (quiçá há demasiado tempo!) lugares de destaque na AR e no PE (mais surpreendentes ainda pela tradicional imagem de combatentes que tinham ganho e agora desbaratam em nome de "nada"), a António José Seguro resta a dignidade de assumir uma atitude democrática assente na ética cívico-política, através da convocação de um Congresso Extraordinário e da coragem em apoiar a opção pelas "directas", enquanto configuração do modelo eleitoral para o cargo de Secretário Geral. Na realidade, nem vou repetir o que escrevi nos dois textos anteriores e que concorrem para se compreender a legitimidade da decisão de António Costa: é preciso reinventar a Europa e é preciso falar,de forma sustentada ideologicamente, sobre conteúdos, propostas económicas e medidas políticas, capazes de, por um lado, contrariar o radicalismo empobrecedor e cruel da austeridade e de, por outro lado, viabilizar o crescimento e o desenvolvimento económicos através da promoção de políticas sociais sustentáveis e suscetíveis de contrariar o desemprego e de reforçar o Serviço Nacional de Saúde, o Ensino Público e a Segurança Social... É preciso contribuir para devolver aos Estados-membros da União Europeia, um grau de reconhecimento da soberania nacional capaz de permitir a recomposição de um aparelho produtivo que salvaguarde a economia e a independência e que, simultaneamente, garanta a sustentabilidade de um salário mínimo nacional e de pensões mínimas de sobrevivência adequadas a uma existência condigna em termos de alimentação, acesso à saúde, à educação, à habitação, ao rendimento, ao trabalho e à proteção social.
Neste contexto, a atitude da atual liderança do PS que, em "passo de corrida", discreta e subliminarmente, convocou para a expressão pública à manifestação do apoio ao seu protagonismo "de salão", os seus setores mais corporativos e reacionários (Braga, UGT e Madeira, por exemplo) é, verdadeiramente!, apenas mais um sinal de uma humilhação assumida desde o início desta liderança socialista - que, confessemo-lo!, sempre se assemelhou a uma espécie de ritual comandado pelo ocasional e dispensável mestre-sala do Baile da Pinha... Provavelmente, os mais jovens não perceberão o significado da metáfora e da alegoria mas, talvez percebam se explicarmos que, na estação primaveril, as comunidades rurais organizavam bailes que tinham a especificidade de decorrer em salas onde se colocava, pendurada do tecto, uma estrutura de madeira, oval (a Pinha), de onde caíam fitas de várias cores, uma das quais acionava o mecanismo que "abria" a Pinha, soltando, por exemplo, um casal de pombos, conferindo ao casal que a "puxara" o título de "Reis" da Festa ou da Pinha. As fitas eram compradas pelos casais que iam dançar e, como se pode depreender, neste ritual, era inútil a existência de um Mestre-Sala, uma vez que o direito de "puxar" a fita decorria de se ter comprado bilhete para o efeito e que o prémio (a aclamação dos "Reis") resultava de acertar com a fita que acionava o mecanismo de abertura da Pinha... Inútil mas, contudo, irresistível, o  protagonismo do palco...

Parece ser este o caso da atual liderança do PS - luxo ou capricho que, convenhamos!, já teve, a título de tempo de exposição, um excesso que os cidadãos não estão dispostos a alimentar (conforme ficou demonstrado nos resultados das eleições europeias). Alentejana que sou, congratulo-me pelo anúncio que há pouco ouvi na comunicação social de que os autarcas socialistas do distrito de Évora decidiram apoiar António Costa... porque A. Costa garante a capacidade de concretizar alianças à esquerda e de ganhar apoios tácitos e explícitos no mundo empresarial, pelo reconhecimento da sua inteligência estratégica e da sua prática não-dogmática e não-demagógica. Se há altura própria para discutir e esclarecer, em tempo útil, a liderança do maior partido da oposição e de criar condições para concretizar a alteração da correlação de forças entre PS e os partidos da atual maioria governamental, esse tempo é, exatamente!, o momento presente! Por isso, também o aparentemente inesperado anúncio de António Costa é de saudar, enquanto expressão amadurecida de uma decisão que resulta da reflexão face aos factos e não da mera pressão exterior. Pela revitalização da discussão política nacional, pela elevação ideológica da análise socio-económica e política e pela capacidade e competência na construção de propostas alternativas ao atual modelo governativo, a possibilidade de uma alteração na liderança política do maior partido da oposição, António Costa abre a esperança aos portugueses no sentido de vislumbrarem a mudança como luz ao fundo do túnel... sentimento indispensável à recuperação do interesse pela participação política e pelo investimento individual no projeto social coletivo que é, em última análise, o país em que nos inserimos e a cultura de que participamos - realidades relativamente às quais mantemos sentimentos de pertença.   

3 comentários:

  1. Um final muito desejado e ansiado.
    Aguardemos os próximos capítulos.

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  2. Nao conhecendo bem Antonio Costa, digo no entanto que para mim ele é o melhor candidato para lider de uma oposiçao que saiba verdadeiramente fazer frente ao governo. Antonio Seguro é o pior que podia ter acontecido ao PS acabou por ser um grande favor aos partidos que governam o pais.

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  3. Também penso que Antonio Costa é neste momento o melhor candidato pare liderar o PS. Antonio Seguro é muito fraco e acaba por ser melhor para o governo do que para a oposiçao.

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