A história destas eleições europeias chama-se: "O Cego Que Não Quer Ver". O título caracteriza, por um lado, a campanha eleitoral marcada pela exclusividade das críticas e condenações do governo às oposições e das oposições ao Governo e, por outro lado, o facto de nenhuma das forças político-partidárias candidatas à eleição ter analisado, esclarecido, reflectido, problematizado e discutido a arquitectura institucional europeia, relativamente aos custos da perda da soberania nacional e à limitação das opções político-económicas que condicionam a organização da coesão social e a afirmação da diversidade cultural. A história, consistente e efectivamente ilustrativa do título que aqui se propõe, foi aliás reiterada pelo silêncio conivente dos comentadores e da comunicação social no que se refere à constatação desta objetiva disfuncionalidade (des)informativa da campanha - que é, em si própria, registe-se!, uma táctica ideológica!... A oportunidade e justeza do título confirma-se nos resultados que, esta noite, obtivemos, em Portugal:
a) Abstenção: 66,2%
(pergunta: numa Europa que se requer dos cidadãos, quando a abstenção é superior a 60%, deveriam convocar-se novas eleições?!);
b) PSD/CDS: 27,7%
(pergunta: quando uma coligação tem menos de 30%, a ética aconselharia a que continue a assumir a responsabilidade de gestão de um país?);
c) PS: 31,5%
(pergunta: num contexto em que a crise económico-social e política atinge os patamares de gravidade que caracterizam a vida dos portugueses no que ao desemprego, à pobreza, à economia, à saúde, à educação, ao desenvolvimento regional, etc. diz respeito, quando o maior partido da oposição obtém apenas pouco mais que 3% do que a aliança governamental, deve considerar esse resultado uma vitória?);
d) CDU: 12,7%
(pergunta: num contexto em que a crise económico-social e política atinge os patamares de gravidade que caracterizam a vida dos portugueses no que ao desemprego, à pobreza, à economia, à saúde, à educação, ao desenvolvimento regional, etc. diz respeito, quando o maior partido da oposição obtém apenas pouco mais que 3% do que a aliança governamental, deve considerar esse resultado uma vitória?);
d) CDU: 12,7%
(pergunta: que ilações retirar do facto de um partido que, sem alterações programáticas mas, com renovação de quadros, num contexto ideológico completamente adverso, sobe de 2 para 3 eurodeputados?);
d) MPT: 7,2%
(pergunta: que ilações retirar do facto de ter sido eleito um protagonista social cuja campanha eleitoral foi completamente ignorada pela comunicação social mas que se tornara conhecido por ter denunciado estratagemas, conluios, maquinações, estratégias e desonestidades de governantes, políticos, bancos e até, com contundência e desassombro sistémico, dos que encarnam os interesses corporativos da classe que representou no mais alto cargo da sua ordem profissional?);
e) BE: 4,6%
(pergunta: que ilações retirar dos resultados de um partido que, num contexto económico-político e sociocultural de crise agravada e sem penalizações provocadas por qualquer desgaste de exercício do poder, perde 2 eurodeputados?);
A história "O Cego Que Não Quer Ver" merece ainda 4 apontamentos:
1) relativamente ao eventual epifenómeno que se materializa em Marinho Pinto, perguntar se, em verdade!, a acusação de populismo que sobre ele recai é ou não é um argumento retórico de quem não sabe o que dizer perante alguém que se apresentou, à revelia de todos, com uma atitude de denúncia, sem "parti pris" e que, mesmo sem historial ideológico público de suporte, apela à defesa intransigente do exercício da justiça, dos valores, da solidariedade e da liberdade (designadamente de imprensa) - exactamente as matérias que o tornaram conhecido e popular na sociedade portuguesa, pela "gritaria" com que tirou o país da estupefação, da ficção e da intriga dos escândalos político-financeiros conferindo-lhes sentido, significado e intencionalidade, chocando tudo e toda a gente;
2) perguntar porque razão não é motivo primordial de análise e preocupação política o actual mapa da geografia da abstenção em Portugal (66,2%) que demonstra cerca de 70% de abstenção em 5 distritos: Bragança (71,1%), Faro (71,5%), Vila Real (70,4%), Viana do Castelo e Viseu (69%) e apenas menos de 65% de abstenção em 6 distritos: Évora, Lisboa e Porto (62%), Beja e Braga (63%) e Setúbal (64%)... neste contexto, é, simbólica e incontornavelmente!, relevante, a verificação dos custos de proximidade que se denotam no facto de Faro ter 71% de abstenção tal como Trás-os-Montes e o Alto Minho;
3) constitui ou não motivo de séria preocupação o facto de uma sociedade ter um sistema político em que os seus representantes são eleitos por, apenas!, cerca de 35% dos inscritos e merece ou não reflexão a problemática que nos leva a verificar que esta realidade é a expressão de um regime de que as pessoas estão realmente afastadas, cuja arquitectura formalmente democrática, reproduz, objetivamente!, taxas de participação eleitoral de regimes que limitam o direito ao voto - apesar da diferença de, em regimes ditatoriais, não existir o direito de decidir ir ou não votar?!;
3) constitui ou não motivo de séria preocupação o facto de uma sociedade ter um sistema político em que os seus representantes são eleitos por, apenas!, cerca de 35% dos inscritos e merece ou não reflexão a problemática que nos leva a verificar que esta realidade é a expressão de um regime de que as pessoas estão realmente afastadas, cuja arquitectura formalmente democrática, reproduz, objetivamente!, taxas de participação eleitoral de regimes que limitam o direito ao voto - apesar da diferença de, em regimes ditatoriais, não existir o direito de decidir ir ou não votar?!;
4) finalmente: nos restantes Estados-membros merecem ainda destaque, pelo paradigma que representam, os resultados obtidos em França pela extrema-direita de Le Pen e a estrondosa e assutadora derrota do Partido Socialista...
... diz o povo: "O Pior Cego é Aquele Que Não Quer Ver"!...
Sem dúvida. Só voltando à Europa socialmente solidária e financeiramente disciplinada
ResponderEliminarAinda que eles vejam fingem que não vêem. Continuam em frente e assobiando ara o ar...No fim nada lhes falta...tem garantias de uma boa vida sem a política...
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