A desertificação social dos territórios do interior é, em Portugal, na Europa, na América do Sul, na China e na Índia (para só citar os exemplos mais relevantes), o maior drama das sociedades contemporâneas e, consequentemente, da sociedade portuguesa... por muito que o ignorem, minimizem ou relativizem os políticos! O problema das megacidades que proliferam no planeta (de S.Paulo a Bombaim, da Cidade do México a Beijing, de um a outro continente, de norte a sul, de leste a oeste) persegue as tendências demográficas de um mundo que selecciona como território de eleição, o espaço urbano onde se concentram os investimentos económicos e financeiros que criam emprego e alimentam sonhos e expectativas, projectando ansiedades e ambições e transferindo desesperanças. Abandonada, a agricultura deixou sem futuro, pelo menos, duas ou três gerações... sem alternativas viáveis quer no campo, quer na cidade! ... consequências?... campos abandonados, anomia e êxodo rurais, desemprego urbano e um esvaziamento populacional de mais de um terço dos territórios nacionais... Não se trata, naturalmente, de "ressuscitar" a velha actividade agrícola tradicional; trata-se, isso sim, de saber que futuro económico e social vamos construir para, no presente e no futuro, responder às necessidades de uma população que não pode continuar a aumentar o número de habitantes das concentrações urbanas que, sem emprego ou habitação, alimentam os bairros sociais e clandestinos, as redes de excluídos e pobres que, mais ou menos directamente, engrossarão, inevitavelmente, as fileiras de uma economia paralela que hoje, nas megacidades, atinge já proporções desconhecidas mas quase, seguramente, a roçar a maioria silenciosa das suas gentes... Repito: ignorar e relativizar o problema é esconder a cabeça na areia! ... e, que eu saiba, ainda somos muitos os que preferem a condição humana ao estatuto de avestruz!... Talvez por isso me canse a política das intrigas, das suspeitas e da má-fé, da injustiça, da impunidade e da retórica demagógica e sobranceira em que os "poderosos" (no sentido dos que têm acesso ao poder, pelas várias vias de acesso que permitem a sua aproximação) se escutam e destratam, uns aos outros, convictos de que dispersam a atenção da opinião pública - para o que concorre, definitivamente, a cobertura que lhes é garantida pela comunicação social que atentamente lhes segue os interesses, sem razão e sem reserva... Entretanto, o mundo continua a girar e se não houvesse campanhas do Banco Alimentar Contra a Fome, o próximo Natal seria o grito de fome de muitos e muitos concidadãos que já acorrem, sufocados pela pobreza, ao que seriam "petisquinhos" do 1º de Maio na Alameda (sim, eu vi!!!) para poderem ter a refeição do dia, convictos ainda de que, um dia, tudo será melhor, para todos...
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Olá Ana Paula
ResponderEliminar"Se houver uma centralização do poder em que as actividades locais possam estar em causa, a palavra democracia torna-se uma palavra isenta de sentido. Achar uma solução para este problema baseia-se efectivamente na distribuição de território e de cidadãos que possam exercer a sua vida a nível local, cooperantes capazes de funcionar fora do Sistema do Alto Governo e da Alta Finança. O direito de voto é em princípio um alto privilégio, mas na prática tem mostrado que por si só não é garantia de liberdade. Por isso se quisermos evitar a ditadura por plebíscito, quebrai as vastas sociedades, semelhantes a maquinismos da sociedade moderna, em grupos autónomos. A super população e a super organização, produziram a metrópole moderna, na qual uma vida amplamente humana de múltiplas relações pessoais se tornou impossível. Portanto se quereis evitar o empobrecimento espiritual dos indivíduos e de sociedades inteiras, abandonai a metrópole e fazei reviver a pequena comunidade rural, e humanizai a metrópole criando no interior da sua organização mecânica, os equivalentes urbanos das pequenas comunidades rurais, onde os indivíduos se possam encontrar e cooperar como pessoas completas, não como meras encarnações de funções especializadas. Isto é um axioma político, porque o poder persegue a propriedade."
Como vê Dr. Querida Ana Paula, Aldous Huxley em 1958 já previa no que isto ía dar...
Agora realmente é difícil voltar a redescobrir o caminho da Democracia, porque em 50 anos, continuamos com as políticas erradas... mas há que tentar e motivar todos para a este fim, antes que tudo dê para o torto. Crise e poder concentrado, aliado à corrupção é uma bomba relógio! Há que pensar nisso... foi assim que se implantaram as piores ditaduras do passado
Um beijinho de um grão de pó. :)
Ana Paula,
ResponderEliminaristo é "chamar os bois pelos nomes".
Neste inicio de Dezembro, (Dezembro é sempre Dezembro...),estes temas, que nos preocupam durante todo o ano, aparcem-nos, recorrtentemente, com maior acuídade.
E há que denunciá-los - a fome e a míngua material têm de ser denunciados - de forma permanente.
Bom texto.
Um abraço.
Querida Fada do Bosque!... obrigado! Muito, muito obrigado! ... pela transcrição do clarividente texto de Aldous Huxley e pelo reforço das suas palavras!... só por isso valeu a pena ter escrito o texto que lhe mereceu esta evocação :) ... e sim, Fada do Bosque, é, de facto, exasperante perceber que a maturidade democrática não enfrenta a realidade e que a sustentabilidade do presente e do futuro se nos escapa, entre os dedos, como a areia fina e seca do deserto onde, sob um sol abrasador assistimos, sem capacidade de intervenção efectiva e imediata, ao queimar dos melhores recursos e à gratuitidade das miragens que nos vão oferecendo, entre histórias comezinhas e mirabolantes, megalomanias e ilusões de uma complexidade que se alimenta da sua própria inércia para se manterem os miseráveis dividendos que excluem a maioria dos humanos em nome de grupos que parasitam a economia como jogadores de um casino em cuja estrada de acesso, os pobres não podem passar.
ResponderEliminarUm beijinho persistente e lutador :)
Obrigado, T.Mike, pelas palavras certeiras que subjazem à grande prioridade do combate contra a pobreza... como escrevi na resposta ao excelente texto que a Fada do Bosque aqui partilha connosco, é exasperante perceber que a Democracia perde oportunidades a cada dia que passa para fazer mais e melhor pelos princípios e as práticas que a justificam como escolha primeira dos cidadãos! Até quando será sustentável este desequilíbrio, é a questão que se nos coloca e nos aflige... Um grande abraço :)
ResponderEliminarAinda bem que a Ana Paula gostou... embora eu ache que a verdade de há 50 anos, sendo a mesma de hoje, só que ainda mais ampliada, se torna verdadeiramente assustadora, como diz a Ana Paula e bem, mostra o quanto a sociedade é dirigida por parasitas e como disse Churchil, nunca tantos foram governados (manipulados e esquecidos) por tão poucos.
ResponderEliminarAldous Huxley foi um grande humanista e profeta... tento dirigir a minha vida pelos seus ensinamentos. Deveriam ser duas obras a aprender na escola e para todos, infelizmente e como ele previu, a tirania está íntimamente ligada ao poder e ao dinheiro, por isso não poderia nunca ser divulgada a sua obra até ao 12º ano.
Como muito bem se adapta ao que se passa hoje, vou divulgando aos bocaditos aqui na net, conforme o assunto em discussão. Tipo um grãozito de pó a batalhar contra os ventos da tirania. :))
Obrigada pelas suas palavras tão reconfortantes, minha Querida Ana Paula.
Foram por certo grãozitos que fizeram crescer o mundo, Boa Fada do Bosque... é verdade, tal como diz, que as obras literárias que se poderiam estudar nas escolas poderiam contribuir para a formação de um pensamento mais crítico, autónomo, solidário e saudável... é pena que prefiram a infantilização dos jovens ou a instrução escolástica... e é ridículo ouvir falar da desmotivação juvenil em relação à vida escolar quando pouco ou quase nada se faz para cativar a inquietação curiosa dos mais novos e pouco ou nada se lhes dá que reconheçam como útil para o entendimento dos dias e a perserverança das causas... Ainda bem que vai divulgando o pensamento humanista de A.Huxley... afinal, todos precisamos de nos ir reencontrando com ecos em que nos possamos rever para retemperar forças e avançar "contra os ventos da tirania" (sic).
ResponderEliminarBeijinho de gaivotas sobre o rio :)