sábado, 1 de novembro de 2014

Uma Viagem no Tempo...



Nasci 2 anos depois de Fernando Lopes ter realizado este filme, cuja luminosidade da imagem, a branco e preto, se valoriza entre o cante e o silêncio.
Esta é a autêntica cidade viva da minha infância - do Café Arcada e dos arcos cheios de homens (esse género que dominava, quase em exclusivo!, o espaço público), da Praça do Geraldo cruzada por autocarros azuis com tejadilho branco, da Feira de S.João com vendedores de tapetes de buinho, de cantarinhas e panelas de barro, de tachos e alambiques de cobre, de bóias e bolas de praia (a minha tinha a cabeça de um pato)... o mesmo circo e até o mesmo carrossel...
Évora, a das igrejas, dos espaços abertos, dos labirínticos circuitos de ruas desertas e das paredes muito brancas... Évora, a dos telhados altos, recortados e cruzados, a dos recantos por onde tanto passeei, calmamente pela mão do meu avô e, mais depressa, pela da minha tia, entre perguntas e respostas, entradas na Gráfica para comprar os pequenos livros das histórias que me encantavam os dias e os bolinhos da Académica e da Bijou...
Évora, a misteriosa princesa feita de portas desenhadas, janelas rendilhadas, corínticas colunas viradas ao céu e silêncios que persistem eternos.
Évora, uma espécie de encantado intervalo no penoso trabalho dos campos, durante os rigores do estio, quando o pó enchia a boca dos trabalhadores sem terra e, tantas vezes!, sem pão.
Évora, coração do Alentejo.
 
(o meu agradecimento ao Rui Arimateia que partilhou, no Facebook, este filme que, se me permitem a sugestão, se pode ver também, de uma forma extraordinária, se lhe retirarmos o som)

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