"Estereótipos, Desemprego e Profecias
Dizem os jornais que na Grécia as “piadas” – estereótipos, escreve-se no Púbico - sobre os alemães têm na Alemanha o seu inverso oposto – os anedotários nacionais são reveladores de humores e tendências da mentalidade dominante e devem, por isso, ser encarados como sintomas evidentes de doenças que se podem agravar e prolongar. Não são expressão de uma visão livre, radicam em tendências comportamentais identitárias, são expressão da voz do vulgo, da massa (o que esta palavra não carreia…), particularmente as anedotas que surgem de febres conflituais nunca erradicadas e profundamente gravadas na história e corpo da Europa. Se na Grécia, e com razão, se lembram dos nazis e estendem essa imagem ao conjunto do povo alemão, sem razão, na Alemanha, com acinte e arrogância, falam de proteger as carteiras na presença de um grego, ou de uma grega – quem roubou os gregos foram os alemães, com prova histórica, como aliás outros grandes europeus.
A Europa nada deve à Alemanha e esta, tudo lhe deve, aos aliados europeus e também aos americanos. Se a Alemanha, para se pôr de pé, quando esteve de rastos, tivesse de indemnizar todos os povos europeus pelo que fez e pelo que pilhou e saqueou, estaria ainda hoje a pagar o que deve, para além do que nenhuma indemnização paga e não deve ser esquecido, pelo contrário deve permanentemente ser lembrado para que não se repita seja de forma semelhante, seja por outras formas, através de armas financeiras e legais manipuladas segundo um qualquer exercício de força por se ter força de o impor – que são os tais mercados que não se entendam como pura violência, outros modos de guerra? Se agora estão de novo com a crista alta – os alemães da senhora chanceler e esta - é porque são potencialmente um povo com disponibilidade tragicamente maioritária para ser exército, seja ele militar e armado, seja laboral, tendo também uma predisposição nacional forte para se portarem de modo nacionalista e pretensamente superior, como se entre os humanos pudesse existir um campeonato sempre em marcha de competências caracteriais laboriosas e de predisposições intelectuais superiores – Marx, Hegel, Goethe, Brecht, são alemães muito pouco alemães neste sentido, são universalistas.
Os alemães e a Alemanha são de novo a potência forte da Europa e mandam no Banco Central Europeu, tudo gerindo segundo critérios financeiros e não segundo critérios económicos, de crescimento económico satisfazendo finalidades europeias – a Alemanha para conduzir a Europa com a sua força maior só pode fazê-lo com o consentimento de todos os outros e olhando os outros como se fossem alemães, o que não está a respeitar. Só aí o preconceito rácico e o nacionalismo se extinguiriam, em vez de agora regressarem não como estereótipos mas como arreigadas posições antagónicas entre povos e nações de um espaço que se diz comum – o estereótipo não é uma visão morta e deslocada, é pura ideologia em acção e é deste tipo de material vulgar que se fazem as “argumentações” xenófobas e se constrói o fascismo quotidiano e larvar, o que leva ao outro, ao sistémico, regime quando não houver obstáculos. Comum, espaço comum europeu, significa o quê? Que uns decidem que os outros são escravos e que eles são senhores, que há povos sopeiras e povos marquesas?
Ao fim da experiência histórica do nazismo, dos campos de concentração e dessa extraordinária capacidade de cegueira generalizada alemã que a isso levou, contra a qual muitos alemães perderam a vida e muitos construíram a sua obra – Brecht é todo um percurso contra Hitler, o pintor de paredes e contra a gestação capitalista do monstro – temos de novo uma chanceler que se mostra não só incapaz de ver além da nação, como é incapaz de ter um ponto de vista europeu, isto é, tão grego quanto alemão. Se os gregos fossem alemães e se Atenas fosse a capital da Alemanha será que a chanceler e os seus apoiantes vulgares defenderiam com a mesma facilidade as soluções anti gregas que se jogam nesta europa anti europeia?
Para espantar ainda mais o Primeiro-ministro português, um homem com visão de futuro, promete aos portugueses, aquilo que a austeridade alemã tem aprofundado: mais desemprego durante mais tempo. As coisas estão a ficar completamente claras: o alemão Passos Coelho, sub-chanceler assumido para a ingovernável província mais a ocidente sul da Europa, promete aos portugueses que estes terão mais desempregados – números, taxas – e por um tempo superior ao que se previa e que isso resolverá a crise. De previsão em previsão vamos mesmo para o caixão pois cada medida tomada é um prego acrescentado neste. E o que é mais curioso é que estes governantes fazem as contas de acordo com o seu tempo de vida útil e as coisas coincidem – haverá crise enquanto lá estiverem, pois a crise convém-lhes e não perdem o emprego nem o negócio governativo enquanto ela render."
Fernando Mora Ramos (no Facebook - com o devido agradecimento pela escrita e a partilha)
Sem comentários:
Enviar um comentário