As políticas sociais surgiram quando os níveis de pobreza e exclusão social se tornaram uma evidência que chocava a consciência cívica e os valores culturais da solidariedade e da dignidade. Fundamentada na previsibilidade do aumento desmesurado da desigualdade social que, há duas décadas, o aumento do desemprego permitia, a conceção política europeia das medidas de suporte à integração e à inclusão sociais, em nome da baixa qualificação dos trabalhadores, da infoexclusão e da modernização tecnológica, justificou a adoção de apoios sociais destinados aos cidadãos e às famílias em difícil situação económica... porém, rapidamente, o síndroma epidémico da revolta contra os utentes destes apoios começou a manifestar-se em nome do que grande parte das pessoas começou a apelidar de "dinheiro fácil" e de "subsidiodependência"... cresceram a xenofobia e o racismo, as acusações aos mais pobres de não quererem trabalhar (argumento velho que desde a escravatura se utilizou contra o que, em rigor, a história apelidou de "proletários"). Progressivamente, criadas as condições para a redução desses apoios e para a produção de regras cada vez mais apertadas no que ao seu acesso respeitava, emergiram, no imaginário coletivo, as condições subjetivas que permitiram a implementação objetiva de normas socialmente discriminatórias e promotoras da exclusão... as taxas de desemprego dispararam, os despedimentos também e, finalmente, a chamada "austeridade" legitimou o aumento indiscriminado da carga fiscal. Hoje, as pessoas contratadas em regime precário e pagas sob a forma dos famigerados "recibos verdes", descontam 21,5% para o IRS, 23% de IVA e, a partir deste momento, 30,7% para a Segurança Social. Quando um trabalhador precário (sublinhe-se: precário!) desconta 75,2% do seu rendimento, deixa de haver margem para dúvidas: a economia, a política e as finanças sacrificam sem escrúpulos a sociedade, legitimando a desvalorização da vida humana e concorrendo para uma emergência descontrolada do medo, da violência e de todos os mecanismos que daí decorrem. Não há argumentos que justifiquem a falta de humanidade, razoabilidade, bom senso, ética e responsabilidade social... O caos social está a ser construido a um ritmo vertiginoso!... e se, por definição, o caos arrasta a potencialidade de legitimação do que a normatividade classifica como "irracionalidade", não é difícil prever o custo social do futuro a que a desproteção social conduz...
O seu (bom) texto sugere-me a necessidade de regressar às origens da criação do modelo social europeu. Talvez essa explicação histórica concorra para a clarificação do processo que levará agora ao seu lento, mas integral, desmoronamento.
ResponderEliminarObrigada pelas boas palavras, Rogério... e pela sintética reflexão que subscrevo...
EliminarO Cuquedo - estória de Clara Cunha, ilustração Paulo Galindro
ResponderEliminarSinopse:
Alto Lá!
... O Cuquedo é um bicho felpudo, estranho, assustador e que mete medo a quem estiver parado no mesmo lugar... até que um dia, sobe a mostarda ao nariz dos outros animais da selva e, BUUUH! pregam-lhe um grande susto.
Ler + Plano Nacional de e-leitores
Um Abraço
M.José