sábado, 5 de julho de 2014

A Esquerda não Morre! -Considerações sobre a Mudança Europeia


Felizmente, os sinais começam a surgir... Veremos, com o tempo!, se são relevantes e sustentáveis do ponto de vista político-ideológico -no que se refere aos apoios dos respectivos agentes organizacionais. O primeiro sinal veio da Grécia, com a população a vencer a ameaça da tirania dos credores internacionais e a dar um voto de confiança ao SYRIZA (ler aqui)... depois, foi o PODEMOS em Espanha (ler aqui), um movimento emergente da manifestação das massas indignadas e que deu corpo e alma às forças alternativas, promotoras de uma democracia participativa sem medo de testar novas formas organizacionais e cientes que a História da Humanidade nunca viu reduzida a sua evolução aos conservadorismos do poder dominante... Sinais que nasceram dos territórios do sul, vítimas privilegiadas no espaço europeu, das tendências hegemónicas de uma Germânia nunca conformada à perda do império, do poder absoluto e do prazer de sentir os ossos "do outro" estalar sob as suas botas cardadas. Sinais que começam a impor a sua presença no espaço público, político e mediático, revitalizando alguma da esperança perdida no futuro. 
Reconhecer a importância desta redinamização do debate político como um grande sinal das ruas do Sul da Europa, é, aliás, decisivo para as próprias estruturas político-partidárias tradicionais que, se não se adaptarem à mudança sociocultural e economicamente exigida pelos milhares e milhões de cidadãos em estado de pré-ruptura política, podem perder não só a batalha mas, a guerra da preservação da democracia.
É neste contexto que, agora, se fez ouvir a voz desta Europa do Sul de que somos orgulhosamente parte integrante, através de Itália, cujo primeiro-ministro, Matteo Renzi, afirma, por um lado, não ter medo da Alemanha e, por outro lado, pretender com a Presidência da União Europeia (protagonizada por Roma desde o dia 1 de julho), devolver a Europa aos cidadãos e não aos banqueiros (Ler Aqui) - assumindo a determinação de que os bárbaros (agora travestidos de meros gestores financeiros), nos pensaram incapazes - gélida, cruel e injusta convicção que ia crescendo à medida que subia o tom dos seus insultos a uma (tão invejada!) cultura de sol e rua, feita de paixões - contrárias ao fleumático e perigosamente entediante "cinzentismo" alemão de uma pretensa eficácia que destrói sociedades e povos em nome da consolidação de banqueiros, fortunas e desigualdades. A expressão de desafio ao autoritarismo e ao esforço de hegemonia político-financeira liderado pela Alemanha de má-memória, protagonizada atualmente pela Senhora Merkel, vem agora, como dissemos!, de Itália e a notícia, escrita pelo jornalista Sérgio Aníbal, foi publicada no jornal Público (Ler Aqui)... pelo seu interesse, sintomático e paradigmático, partilhamos aqui a sua transcrição:
«Weidmann ataca a Itália, Renzi responde
O confronto entre a nova liderança italiana e a Alemanha continua a subir de tom. Depois da troca de palavras com um deputado europeu do partido de Angela Merkel, Matteo Renzi protagoniza agora uma discussão com o presidente do banco central alemão, Jens Weidmann.
O líder do Bundesbank abriu as hostilidades num discurso feito na quinta-feira à noite, em que disse que o primeiro-ministro italiano, ao comparar a União Europeia com “uma tia velha e aborrecida”, tinha revelado que o seu Governo não estava disposto a abdicar da sua soberania orçamental, isto, apesar de Renzi defender muitas vezes a necessidade de uma união orçamental.
Além disso, Weidmann, em resposta aos apelos de Renzi para que seja dado à Itália mais tempo para cumprir as metas do tratado orçamental, defendeu que “aumentar a dívida não produz crescimento”, acusando a Itália de apenas anunciar reformas, sem as passar à prática.
A resposta de Matteo Renzi não se fez esperar. O primeiro-ministro italiano começou por dizer que não tinha ainda ouvido qualquer comentário negativo às suas políticas orçamentais por parte do Governo alemão. As críticas, disse, vêm dos banqueiros. “O Bundesbank não tem como sua tarefa participar no debate político italiano. Da mesma maneira que eu não falo sobre o Sparkassen ou os Landesbanken”, afirmou numa referência aos bancos regionais alemães que beneficiaram de algumas excepções no apertar das regras de regulação financeira na Europa. “A Europa pertence aos seus cidadãos, não aos banqueiros, sejam eles alemães ou italianos”, finalizou Renzi. Em declarações a vários meios de comunicação italianos, fonte do gabinete do primeiro-ministro italiano respondeu ainda que, “se o objectivo é criarem medo, enganaram-se no país e no governo”.
Este estilo de contra-ataque imediato de Renzi contra a Alemanha já tinha sido ensaiado esta semana no debate de abertura da presidência italiana que teve lugar no Parlamento Europeu. O alemão Manfred Weber, novo líder da bancada do Partido Popular Europeu (PPE, conservador), criticou os apelos italianos a uma maior flexibilidade no tratado orçamental. “Renzi quer mais tempo para fazer as reformas, Barroso deu mais tempo à França, mas ninguém viu as reformas", disse.
O primeiro-ministro respondeu recorrendo também à história recente da UE, lembrando antes o caso da Alemanha em 2004. “Se Weber fala em nome da Alemanha, recordo-lhe que nesta mesma sala, sob a anterior presidência italiana, [a Alemanha] foi o único país ao qual foi concedida flexibilidade e que violou os limites para ser hoje um país que cresce”, disse.»
Porque todos os contributos são importantes e decisivos quando se pretende anunciar a "morte da esquerda" (ler aqui o artigo do Nouvel Observateur) apenas e só porque se pretende reduzir a amplitude do que entendemos por Esquerda aos tradicionais partidos europeus conotados com os comunistas e os socialistas (o que levaria a uma outra discussão cuja especulação não urge, de momento, aqui fazer)... mas, principalmente porque (tal como já aconteceu quando os ditos e auto-designados "pós-modernos" quiseram proclamar a morte da Ideologia e da História), enquanto houver Pessoas, capacidade crítica, racionalidade problematizante e competências para a avaliação ética, tal como acontece com os Direitos Humanos, a Esquerda Não Morre!

1 comentário:

  1. Que nos sobre sempre esta força e que nunca se deixe de lutar por mais paz, justiça, fraternidade e igualdade.Acredito muito _PODEMOS

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