O Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, deu uma entrevista à CNN (ler aqui), afirmando que nenhum dos Estados-membros que integram a Zona Euro vai abandonar a moeda única adoptada no velho continente. Durão Barroso afirmou ainda que, do ponto de vista da integração, daqui a 10 anos, a União Europeia vai estar mais consolidada. Ao ouvir a notícia, lembrei-me do que li no "The Wall Street Journal", cuja edição da passada 4ªfeira, dia 21, foi praticamente preenchida com artigos sobre a crise europeia. Dessa edição vale a pena destacar, antes de mais, uma excelente reportagem sobre a crise grega, onde se chamava a atenção para os seus efeitos sociais, designadamente, ao nível da taxa de suicídios que registou um aumento da ordem dos 40% e cujas causas estão associadas às falências empresariais, ao desemprego e à representação social que estes factos implicam em termos de estigma, desprestígio, honra e vergonha. Mas, a edição de 4ªfeira do "The Wall Street Journal" trazia ainda dois artigos de opinião que vale a pena assinalar. Um deles, da autoria de Paul Hannon, afirmava que a questão que se coloca aos europeus é a de saber como se chegou até aqui e como se pode travar o ritmo de descalabro que a economia dos Estados-membros da UE alcançou, denotando a insustentabilidade do poder económico europeu face aos mercados emergentes da Rússia e da China. Alertando para que não podemos ignorar o significado do nível e do grau da necessidade de ajuda externa, P.Hannon escreveu que devemos compreender que "Somos basicamente chimpanzés mas com sentido de vergonha" e que nos encontramos perante o grande desafio de, por um lado, reconhecer a necessidade do crescimento europeu e de, por outro lado, assumir a consciência de que, até agora, os esforços de reforma falharam. Colocando o dedo na ferida, o autor enunciou assim a pergunta crucial: "(...) O que é preciso fazer para que a zona euro caminhe na direcção certa assumindo que pode continuar a existir?(...)". O segundo artigo que me chamou a atenção tinha a assinatura de Brett Stephens sob o título: "O que virá depois da Europa?" e, ao longo do seu desenvolvimento, o autor lembrava que, do lema que marcou o pós II Guerra Mundial, a saber: "Russos fora, Americanos dentro e Alemães em baixo" à criação, primeiro, do marco alemão e, depois, da identidade económica europeia (a que, escreveu!, Jean Monnet se esqueceu de associar a identidade política), a Europa viveu 3 ficções: a de ultrapassar os EUA como super-potência, a de acreditar que sem capacidade militar desenvolveria uma efectiva influência política na diplomacia e nas relações internacionais e, finalmente, a crença no chamado "modelo europeu" como forma de enfrentar os desafios da globalização, do islamismo e da demografia. Claro que sabemos que, à análise norte-americana da crise europeia, subjaz a interpretação económico-financeira da guerra dos mercados mas, a verdade é que não podemos ignorar a leitura que o exterior faz desta crise de que, B.Stephens tomou como exemplo o caso grego para dizer que se trata mais de um caso tipo Madoff do que de um caso tipo Lehman... até porque o título de 1ª página da edição do "The Wall Street Journal" dois dias depois, 6ªfeira, 23 de Setembro, era, ilustrado com os gráficos dos mercados da passada 5ªfeira sobre os quais se via o rosto perplexo da Presidente do FMI, Christine Lagarde, simplesmente: "A Economia Entrou na Zona de Perigo"... e agora, digam lá se é ou não perceptível o sentido da entrevista de Durão Barroso à CNN!!!... ah!... pois!...
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