A crise está (e vai continuar) a agravar as desigualdades sociais não só entre pobres e ricos (esses dois grupos que levaram a que, desde Proudhon e Marx, se destacasse a problemática do antagonismo entre classes sociais enquanto determinante essencial a considerar para a construção de uma sociedade mais equitativa) mas, também, entre homens e mulheres. A questão é incontornável e assume uma dimensão que não pode ser ignorada - nomeadamente porque a sociedade contemporânea integrou o trabalho feminino no mercado laboral a um ponto tal que a própria economia depende em grande parte do desenvolvimento do trabalho realizado por mulheres... refira-se, aliás, que, em grande parte, as questões da igualdade de género foram assumidas políticamente como consequência das exigências económicas de que, em última análise, decorrem também as alterações da estrutura familiar tradicional que conhecemos (cuja diversidade está muito além das designadas famílias monoparentais). E se a primeira questão que nos é suscitada pelo facto de se saber que, actualmente, as mulheres ganham, em média, menos 18% do que os homens (ler AQUI onde cheguei através de um post da Shyznogud), é o problema da pobreza que vê reforçado, com pertinência, o seu rosto feminino, não é de menor importância, o que se refere aos cuidados com os cidadãos considerados não-activos (refiro-me a crianças e pessoas da terceira idade)... de facto, o problema da pobreza feminina arrasta consequências sociais calamitosas a vários níveis e deles destacamos, pela sua transversalidade, o que decorre de ser ainda sobre as mulheres que se denota, por razões culturais, maior grau de responsabilidade sobre a educação dos mais novos e a assistência aos mais velhos. O efeito societário desta realidade significa, não apenas o aumento do risco de exposição à violência pela deficitária autonomia financeira que, comparativamente, o género feminino continua a enfrentar mas, acima de tudo, um potencial de multiplicação da pobreza que a sociedade terá que pagar e que, seguramente, lhe ficará mais caro do que se investisse na efectiva igualdade salarial entre homens e mulheres. Por isso, a sociedade contemporânea e a sua gestão política não podem, sob o pretexto da crise, negligenciar as questões sociais e cívicas no que se refere à defesa dos direitos das mulheres (e não só!) sob pena de contribuirem decisivamente para o crescimento de mais um factor de substancial agravamento estrutural das condições endógenas de continuidade dessa mesma crise.
Tem toda a razão
ResponderEliminarSó que´essa é a velha questão
agora numa outra (e até não nova) dimensão...
A luta, essa é a mesma.
É verdade, Rogério... há lutas que persistem tão actuais que não podemos deixar de evocar o seu passado, presente afinal no que se julgou o futuro...
ResponderEliminarAbraço.
Querida Ana Paula: Aqui no Brasil a diferença salarial entre homens e mulheres é estrondosa, muito maior que 18%. Mas a questão ainda pior querida é que esse século vai trazendo: enfrentar os chineses, vai ser duro. Teremos que ter muita criatividade e com certeza haverá uma volta da valorização das coisas mais simples, afinal: como viver num mundo sem emprego? Alguns sociólogos dizem que será o século do escambo, com 90% da população excluída, foi o que eu ouví numa palestra com a Rose Marie Muraro, socióloga famosa aqui no Brasil. A senhora poderia expor algo sobre sua opinião no tema?? Beijocas, Dani
ResponderEliminarQuerida Dani,
ResponderEliminarObrigado pelo excelente contributo que aqui partilha. De facto, o problema do nosso tempo é aprender a viver sem emprego, com o regresso a uma noção de trabalho que parecia ultrapassada (prestação de serviços incerta, sazonal e mal paga). Como temos visto, dadas as exigências das entidades empregadoras face ao desenvolvimento tecnológico e o desemprego, políticos e sindicatos vão diminuindo as exigências relativamente aos direitos dos trabalhadores e os cidadãos ficam, cada vez mais, expostos ao empobrecimento e à exclusão. Se nada for feito para contrariar esta progressiva tendência contemporânea, o cenário traçado por Rose Marie Muraro poderá tornar-se uma realidade... e, a somar à competitividade económica asiática onde as regras laborais tornam os cidadãos simples máquinas de execução de um trabalho cujo rendimento lhes permite apenas sobreviver, teremos uma sociedade assustadoramente desigual e empobrecida, distanciada do que hoje conhecemos e que, apesar de tudo, consideramos -justamente, acrescente-se!- insuficiente para a dignidade de uma existência capaz de permitir aos seres humanos o pleno desenvolvimento das suas competências e capacidades... Beijocas, com esperança de que saibamos agir a tempo de prevenir o que, afinal!, podemos prever :))