... a propósito do referendo que o governo grego pretende realizar sobre o perdão da dívida do seu país pelas instâncias internacionais e as recorrentes questões relativas à continuidade das medidas de austeridade e à permanência da Grécia na zona euro, ocorreu-me esta entrevista de Slavoj Zizek sobre a "plasticidade" do capitalismo... provavelmente, por não estar assim tão segura de que os gregos votem NÃO - já que a sua saída da moeda única europeia poderia significar, no curto e, quiçá, no médio prazo, maiores dificuldades à vida dos cidadãos... por isso, penso que todo o alarde à volta da anunciada medida de Papandreou mais não é do que o contributo político que o próprio pretende para que, afinal!, vença o SIM... porque a crise, se me permitem!, está para durar e, por ora, para descontentamento de todos, continuamos apenas a assistir à estratégia e às táticas de preservação do poder dos que defendem a lógica de gestão socio-económica e financeira que nos conduziu até aqui.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
De Slavoj Zizek ao Referendo Grego...
... a propósito do referendo que o governo grego pretende realizar sobre o perdão da dívida do seu país pelas instâncias internacionais e as recorrentes questões relativas à continuidade das medidas de austeridade e à permanência da Grécia na zona euro, ocorreu-me esta entrevista de Slavoj Zizek sobre a "plasticidade" do capitalismo... provavelmente, por não estar assim tão segura de que os gregos votem NÃO - já que a sua saída da moeda única europeia poderia significar, no curto e, quiçá, no médio prazo, maiores dificuldades à vida dos cidadãos... por isso, penso que todo o alarde à volta da anunciada medida de Papandreou mais não é do que o contributo político que o próprio pretende para que, afinal!, vença o SIM... porque a crise, se me permitem!, está para durar e, por ora, para descontentamento de todos, continuamos apenas a assistir à estratégia e às táticas de preservação do poder dos que defendem a lógica de gestão socio-económica e financeira que nos conduziu até aqui.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Também me parece que se o referendo avançar, os gregos votarão a favor das medidas e é esse aval que Papandreou pretende, Ana Paula. Só que depois a direita provoca eleições antecipadas e, chegada ao poder, agirá com o argumento de que os gregos até votaram favoravelmente.
ResponderEliminarBeijinho
Todos os posts que me propõem reflexão, me agradam. É o caso deste seu. Não é possível ter ideias, sem haver pensamento e por isso retribuo com uma proposta também de reflexão: Não será que o alarme espalhado pela simples possibilidade de um referendo não é já um sintoma de que os pequenos paises (pequenas economias) terão mais poder negocial do que se tem afirmado?
ResponderEliminarExplorando esta situação como um "case", não será pedagógico apontar o receio pelo mero evocar de um acto democrático, para denunciar o paradigma actual?
Olá Carlos :))
ResponderEliminar... pois... é exactamente esse o problema - para os cidadãos, claro! já que, para os mercados será até conveniente... verdade? :)
Beijinho.
Boa reflexão, Rogério, esta que nos propõe... as pequenas economias devem explorar mais e melhor o seu poder negocial, ao invés de se limitarem a ceder, ceder, ceder até não restar a rendição incondicional... quanto à pedagogia deste "case study" penso que é muito sintomática: dificilmente o poder poderá ignorar os povos... e cada vez menos, Rogério! Felizmente!... é essa a lição dos nossos dias: as lutas que nos antecederam não foram vãs porque as pessoas ainda vão e continuarão a ir para a rua e as ruas terão, sempre!, cada vez mais, uma palavra a dizer... aliás, esta troca de chefias militares na Grécia pode ser sintoma do medo deste poder... o problema, depois, é o que o Carlos, no comentário anterior a este, coloca... será?
ResponderEliminarMuito provávelmente será como o Carlos prevê. Mas tal é o resultado de Papandreou ter reagido tarde. O eleitorado não foi ouvido em todo o processo, deste a assinatura do Tratado de Lisboa. O referendo vai ser percepcionado não como um acto legitimo de intervenção democrática do povo, mas como uma fuga à assunpção das responsabilidades politicas por parte do próprio governo. A direita irá aproveitar esse argumento... e continuará a politica que o Pasok iniciou. Resta comentar a divisão deste partido. Nessa divisão, não é clara em que medida sectores significativos do Pasok não diferem significativamente nas soluções politicas preconizadas pela direita. Lá, como cá, as questões devem ser colocadas na pespectiva de quem alinha ou não com o paradigma actual que, como sabemos, é caracterizado pela inevitabilidade dos resgates determinados pela troika, sobre continua pressão dos mercados.
ResponderEliminarCaríssima amiga Ana Paula Fitas,
ResponderEliminarGostei muito da lúcida entrevista de Slavoj Zizek.
De facto, o capitalismo tem-se arrastado historicamente, de crise em crise, sem se vislumbrar uma luz ao fundo do túnel... O primeiro-ministro Papandreou tirou da manga a solução para conciliar as posições que subscreveu com os líderes europeus, nas recentes cimeiras, com o recurso a um mecanismo democrático, no auge de uma tensão interna de grande sufoco. O referendo proposto às medidas de austeridade e salvação que carregou das cimeiras europeias é um autêntico plebiscito aos compromissos que assumiu.
Esta cena dramática, do atual teatro grego, trata-se de um momento decisivo que pode fazer colapsar a Zona Euro, fazendo abrir os olhos aos líderes Europeus que não conseguiram fazer avançar a Europa para novos patamares de coesão política e social.
Em suma, esta habilidade do primeiro-ministro grego, nesta fase avançada do "capitalismo de casino", é apenas um recurso democrático para dar aparência de que os povos ainda são ouvidos, acalmando as hostes inquietas da sociedade grega, e não apenas o Directório franco-germânico e as forças ocultas das estruturas financeiras, altamente voláteis pelos interesses especulativos em causa. Cada vez sobressai mais a necessidade da Europa e do mundo terem uma estratégia global para enfrentarem os desafios da Zona Euro e da Globalização Financeira. Ou seja, um novo paradigma político global de que nos tem falado o Drº Mário Soares nos seus últimos escritos é cada vez mais urgente.
Saudações cordiais e fraternas, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt