sábado, 10 de novembro de 2012

Do II Encontro "Pensar com Arte"...


“A Arte de Crescer – O Ponto de Viragem entre a Etnopediatria e a Educação
(...) Quero, antes de mais, saudar a realização deste II Encontro “Pensar com Arte”, em particular através do elogio sem reservas à respetiva comissão organizadora constituída pelas educadoras da Biblioteca Municipal de Alandroal, à Câmara Municipal de Alandroal e ao Agrupamento Escolar de Alandroal (...). Cabe-me, por isso, a honra de agradecer o convite para voltar a participar nesta 2ª iniciativa temática, cuja designação aponta os dois (...) dois tipos de destinatários subjacentes ao título da iniciativa “Pensar com Arte”, a saber: as crianças e jovens em processo de aprendizagem do Ser e do Saber e os agentes educativos da comunidade socio-cultural envolvente de que destaco: educadores/as, professores/as, pais e instituições concelhias. (...) por motivos profissionais (...) não me é possível participar presencialmente neste Encontro (...) [mas] posso, por intermédio da Educadora Maria José Manuelito, minha amiga de sempre que todos conhecemos pelo afetuoso diminutivo de Zézinha, colaborar nesta edição do “Pensar com Arte” (...).
 
Sob o mote “Aprender a Crescer – Ponto de Viragem entre a Etnopediatria e a Educação”, proponho-me trazer à consideração analítica e ao debate dos presentes, uma temática que me é cara e que incide na figura da criança e do jovem, enquanto objetos dos processos de aprendizagem e aquisição de conhecimentos. De facto, entre os mecanismos da educação informal, inerentes ao contacto humano que o nascimento inaugura e os processos institucionais que compõem a educação formal, o crescimento das crianças configura-se, perante o olhar distanciado dos teóricos, como uma composição progressiva resultante das interações socio-culturais do meio em que estão inseridas. (...) Por esta razão, dada a responsabilidade social inerente ao processo relacional entre adultos e crianças, justifica-se pensar esta tripla realidade (o crescimento da criança enquanto tal, o papel dos agentes educativos que nele intervêm e a relação estabelecida entre crianças e agentes educativos) como um processo em “continuum” e em simultâneo que, numa perspetiva didáctico-pedagógica, se pode caracterizar como “arte”, no caso, a arte de aprender a pensar e de ajudar a pensar.
 
Na perspetiva de fator endógeno do desenvolvimento, pelo papel que desempenha na formação da “personalidade cultural” dos indivíduos e das populações, a educação é, muito além do processo formativo que nela também se configura, uma dimensão em que convergem enculturação e socialização, uma vez que se não esgota no processo de instrução formal que a escolarização protagoniza. (...) Esta chamada de atenção é particularmente interessante porque fundamenta a importância do reconhecimento de uma ainda relativamente nova área do conhecimento designada “etnopediatria” (...) [que] enquanto área inter e transdisciplinar, cruza conhecimentos retirados da antropologia, da sociologia, da psicologia, da biologia e da medicina, definindo-se a partir da premissa de que as diretrizes relativas à educação são construções culturais mais ou menos adequadas às necessidades biológicas das crianças. Neste contexto, vale a pena pensar no que justifica a minha escolha desta abordagem como contributo para o II Encontro “Pensar com Arte” e que consiste, concretamente, no conceito de “criança” na perspetiva da etnopediatria. Porquê? Porque, no âmbito etnopediátrico, considera-se que o modelo da infância (...) deve considerar que, a partir do 1º ano de idade, a criança deve passar a ser encarada como “criança respeitável” (ou seja, como um ser digno de respeito), uma vez que o seu desenvolvimento passa a uma fase de progressiva aquisição de autonomia e de independência – a qual requer adequações educativas no sentido de atender, competentemente, ao desenvolvimento das competências que essa dimensão implica. (...)

Esta consciência é de um significado profundíssimo e incontornável no que se refere às considerações sobre os modelos educativos e as estratégias metodológicas de ensino-aprendizagem contemporâneas, em que a padronização dos sistemas formais de instrução tende a sub-valorizar as dimensões da problemática educativa que é preciso retomar – se pretendemos que a função social da educação promova, de facto, o desenvolvimento de competências capazes de garantir aos mais novos, a aquisição de representações sociais e de um funcionamento cognitivo dotado de capacidades de adaptação, indispensáveis ao mundo “de incerteza” em que vivemos, cujo paradigma se opõe ao da “estabilidade” que marcou decisivamente a normatividade subjacente às cosmovisões que a mudança social reconfigurou, particularmente, com o desenvolvimento das dinâmicas socio-culturais e económico-políticas das últimas décadas.
 
Eis o essencial da mensagem que quero trazer, como contributo, para a reflexão e o diálogo que este II Encontro “Pensar com Arte” deve suscitar: é preciso pensar com arte a própria educação e é preciso ensinar as crianças a pensar com arte! É preciso pensar com arte a educação porque o vertiginoso ritmo da mudança social impõe aos agentes educativos, a responsabilidade de adaptarem os modelos educativos às dinâmicas socio-culturais, numa atitude sem dogmas, essencialmente assente na permanente análise dos sistemas de representação e de crenças da sociedade local envolvente e na sua articulação com os padrões normativos da sociedade global que, cada vez mais, nos fica mais próxima, de uma forma harmoniosa e sem ruturas que provoquem condições facilitadoras da (des)inserção social local e global. E é preciso ensinar as crianças a pensar com arte porque o mundo contemporâneo vai requerer, de cada uma delas, uma capacidade adaptativa cada vez maior, que devem estar preparadas para praticar sem traumas e sem resistências gravosas no que se refere ao cômputo das hipóteses de resiliência e sucesso que a vida em sociedade lhes vai exigir.
 
Deste ponto de vista, a filosofia para crianças constitui-se como um instrumento didáctico-pedagógico de interesse fundamental que é preciso desenvolver e implementar; por outro lado, é necessário que as entidades institucionais concelhias e os equipamentos culturais locais tenham a preocupação permanente de dimensionar e planificar as suas atividades, orientando-as sempre, mais ou menos diretamente, para o cumprimento deste objetivo que é aprender e ensinar a pensar… No caso do Alandroal é, também, o que esperamos vir a poder fazer com o trabalho a desenvolver no âmbito do Centro de Estudos do Endovélico… e, para isso, contamos com a vossa colaboração e apoio.
Muito obrigado.
Ana Paula Fitas
Lisboa, 08 de Novembro de 2012"

2 comentários:

  1. ...sinfonia quase perfeita!!

    Muito Obrigada,particularmente aos meninos e meninas do 2º e 3º ano. Todos, eles e elas cinco estrelas:))

    Beijos e Abraço de Esperança
    Zézinha

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  2. :))

    ...e para ti em especial...

    http://youtu.be/Mltn9RR6y8E

    Um Abraço
    Zézinha

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