A intensidade da atenção e o envolvimento da atitude humana perante a vida e o mundo em que coexistimos, decorre do processo e do percurso das vivências que acumulamos, em cujo contexto, as formas de educação de que somos palco e objeto, ocupam um papel de relevância extrema, quase determinante. Seremos e agiremos sempre em conformidade com os padrões e os valores que a interação com os outros, em nós sedimentarem. Porém, tal interação não se basta a si própria, articulando-se, de forma essencial, com o espaço de liberdade e de reflexão que, ao longo do nosso crescimento, nos foi permitido, e que, decisivamente, concorre para a definição do nosso modo de gestão do "pensar o mundo"... Apesar de aparentemente vaga, a observação que aqui partilho inscreve-se também na forma como entendemos e devemos estudar a forma de reação perante a política e as lideranças que encontramos pelos caminhos que cruzamos ao longo da vida... porque os líderes, designadamente políticos!, e as configurações ideológicas com que se identificam (ou de que se aproximam) correspondem, essencialmente, às redes de interesses que reconhecem como válidas em resultado de uma educação que, para tal, os "formatou". De facto, a formatação geral da moral de uma sociedade hierárquica, segregadora, discriminatória, assente na culpa, no castigo e no prémio, na valorização da competição e do "ter", resulta na promoção de pessoas, de modos de ação e de atitudes que assentam em visões do mundo egocêntricas e imediatistas, enaltecidas numa autoestima infundada e extemporânea, cujo reflexo moral se caracteriza no reconhecimento de valores em que as palavras "prioridade" e "dever" protagonizam atitudes promotoras de interesses corporativos, por incapacidade de exercício de um pensamento crítico e autónomo, capaz de distanciar a consciência em si própria dos interesses das redes em que, socialmente, estamos inscritos... Não há, por isso, modelo político capaz de vencer a interiorizada forma de submissão às estruturas de poder, mais ou menos evidentes mas, sempre presentes e subjacentes, à tomada de decisão individual e coletiva... Por isso, as ditaduras também emergem em contextos político-partidários democráticos nos quais, por um lado, se assiste ao aumento desmesurado e quase incontrolável da violência e, por outro lado, se constata uma identificação cada vez maior do descontentamento à extrema-direita na exata medida em que, proporcionalmente, constatamos a diluição de uma mensagem política tradicionalmente identificada com a esquerda e com uma radical intransigência relativamente à defesa dos Direitos Humanos, com a mensagem do poder dominante que utiliza o recurso retórico aos valores da igualdade e da responsabilidade para justificar as práticas promotoras da injustiça e da reprodução da desigualdade.
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