Em Julho de 2005, num concerto em Joanesburgo, Nelson Mandela afirmou: "A eliminação da pobreza não é um gesto de caridade. É um ato de justiça". Hoje, em Portugal, o número de pessoas a viver em risco severo de privação e pobreza é de 2 milhões (LER AQUI)... ou seja, 20% da população!... Contudo, a trágica face do problema não é reconhecida com rigor na enormidade quase insultuosa destes números!... Porquê? ... Vejamos... Os dados trabalhados e apresentados agora pelo INE dizem respeito a 2012 e desde essa altura até agora, a realidade agravou-se, exponencial e drasticamente - tanto no desemprego jovem como no de longa duração mas, também, de forma inusitada, nas alterações sofridas por essa imensa massa flutuante de trabalhadores precários, cujos contratos não foram renovados!... acresce a esta observação, a realidade da quebra do número de subsídios de apoio social a cidadãos e famílias que, tendo terminado, legalmente, os respetivos prazos de atribuição, não contam para a estatística - apesar de, provavelmente!, o número de pessoas com rendimento zero configurar uma percentagem elevadíssima da população em idade ativa, tornada "invisível" no discurso político (LER AQUI)!... Registe-se ainda, relativamente a esta vertiginosa mudança social que caracteriza de forma inequívoca, para a História, a última década, que, como se não bastassem os dados conhecidos, a verdade se esconde sob uma outra perspetiva que é a de que todos os indicadores estatísticos a que, atualmente, se recorre (sociológica, estatística e institucionalmente), em termos comparativos, apesar de evidenciarem aumentos dramáticos em todas as áreas (designadamente: pobreza, desemprego, natalidade e desertificação humana), não terem em conta a percentagem de pessoas que, entretanto, emigrou e que será provavelmente, a grande responsável por não estarmos com taxas de empobrecimento e falta de emprego da ordem dos 25 a 30%. Porém, porque hoje é sábado e não ajuda pedagogicamente à libertação mental indispensável aos fins-de-semana (para quem ainda os tem em termos de descanso do trabalho ou de capacidade para se descontrair!), termino apenas com um detalhe que, se me permitem, considero elucidativo: doravante, como há mais de 40 anos atrás!, a terminologia política vai deixar de recorrer ao termo "desempregados" e passar a falar de "pobres"... porquê? Porque, no entendimento do poder económico-financeiro internacional, em cuja lógica se inscrevem as governações e ideologias do poder, o Direito ao Trabalho não é um direito universal mas, apenas, uma possibilidade ditada pelas oportunidades criadas pelos mercados!!!... deveríamos, por isso, refletir, ponderada e seriamente, no que estamos a fazer e a permitir que aconteça nas sociedades democráticas ocidentais (porque os negros cenários do futuro decorrem das decisões e opções contemporâneas): se a condição de "trabalhador" deixa de ser o estatuto condigno inerente à existência cívica de cada pessoa, consequentemente, o direito a uma vida digna dependerá, cada vez mais, numa espécie de "reductio ad absurdum", das flutuações oportunistas do exercício público da caridade dos governantes...
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