"The Monuments Men" realizado por George Clooney, interpretado por uma dezena de alguns dos melhores atores do momento (Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Hugh Bonneville, Jean Dujardin e Cate Blanchett), é um filme que, inspirado numa história verídica, depois de o ter visto, só consegui classificar como sendo um filme sobre a Dignidade! Considero, antes de mais!, curiosa a classificação deste drama como "comédia" mas, presumo que o facto se enquadra na mesma lógica que permitiu a tradução do seu título como "Caçadores de Tesouros" - testemunho do recurso a uma racionalidade em que o sentido da responsabilidade histórica, bem como os valores subjacentes ao desempenho de uma qualquer missão, submergem sempre, face aos interesses dominantes - que transformam em caricatura o que pretendem não ver justamente reconhecido, na exata medida da sua validade e do seu significado!... Cabe-me, aliás, neste contexto, dizer que o grupo de protagonistas da realização cinematográfica norte-americana que saltou do primeiro plano da interpretação para a cadeira da realização, de Robert Redford a Ben Affleck, a Matt Damon ou George Clooney, tem o extraordinário mérito de ter trazido para as "luzes da ribalta" uma geração de cidadãos norte-americanos que, mais do que defender a imagem do país que o mundo lhes reconhece (nas guerras e na exibição da potencialidade económico-financeira e política), pretende defender a imagem de uma América que é a sua, enquanto cidadãos livres, críticos e socio-politicamente ativos como agentes e intervenientes que assumem, conscientemente e de cabeça erguida (porque podem, é certo! - isto é, porque têm dinheiro!), uma postura distanciada do poder - a que recorrem para o usar, em nome de causas próprias, elas sim, coincidentes com os interesses públicos!... E se faço esta ressalva é para prevenir interpretações escusas apenas e só!, porque, a dado momento, a título de exemplo do que pratica a ação humana em contexto de competição e de guerra, a bandeira americana surge... fazendo até sorrir... um russo!!!... Sim, o filme faz rir ou, pelo menos!, sorrir... e chorar!... e se os pobres classificadores dos filmes em exibição marcaram "The Monuments Men" como "comédia" é por terem ficado no registo inicial e básico que fez o realizador não incorrer na exploração da violência gratuita, tentando desenvolver a narrativa de acordo com a capacidade humana de relativizar os contextos, caracterizando-os com normalidade (dimensão que é absolutamente realística, se nos situarmos em contexto de guerra, onde a vivência diária não pode ser enfrentada com o espanto e a indignação permanente que nos suscita o distanciamento!). Inspirado em realizações de boa memória de que me ocorreram, assim, espontaneamente: "A Farsa" de Giuseppe Tornatore, "Ocean's Eleven" de Steven Soderbergh, "A Vida é Bela" de Roberto Benigni , "O Código da Vinci" de Ron Howard , "Good Night and Good Luck" também de G. Clooney ou "Regra de Silêncio" de Robert Redford, porque (presumo-o!) Clooney quis homenagear quem faz cinema para além do espetáculo, demonstrando que os conteúdos têm a capacidade de, além da divulgação da verdade e da promoção da arte, garantir público... e que, consequentemente!, a velha receita que defende as teses promotoras de audiências, assentes na exacerbação da violência, do sexo e dos efeitos especiais, é um "engodo" comercial, alienante e gratuito... próprio, se me permitem!, de quem não sabe fazer cinema!... A este propósito, deixem aliás, que diga, a "talhe de foice", que, um dia destes, felizmente!, acontecerá o mesmo ao jornalismo, quando alguns dos seus protagonistas deixarem de ser simples leitores das mensagens manipuladoras de que se travestiu a comunicação social nos tempos que correm e se conseguirem emancipar relativamente ao poder económico dos atuais proprietários e gestores, fazendo alinhamentos noticiosos condignos com o direito à informação e com o acesso à livre formação da opinião... Sim, é verdade!... não conto nem comento nada do filme... porque penso que vão gostar de ver!... e repito: se alguma coisa dele se pode dizer é que é um filme sobre a Dignidade!...
Nota Final: quando saí e soube da Manifestação em Madrid (ler AQUI),ocorreu-me que, se a Dignidade fosse hoje um valor, não correríamos o risco de voltar a ver repetir-se a fenomenologia que constitui a essência do filme... infelizmente, a Dignidade continua a ser uma referência individual, de que os grupos dominantes falarão sempre como "relativizável" (bem aproveitado por uns e desvirtuado por outros) no persistente esforço de que não venha a integrar, de forma vinculativa, o espírito da "(Nova?) Ordem Internacional"...
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