domingo, 31 de agosto de 2014

Problematizar G.Deleuze a propósito do Acto da Criação...


Gilles Deleuze - O que é o ato de criação... por rodrigo-lucheta-1 ... Nesta palestra, dos conceitos às expressões artísticas e científicas, o filósofo explica, de forma ilustrativa, o cerne essencial da capacidade criativa através do dissecar dos objetos criados... Vale a pena ouvir e ler (porque a conferência está legendada em língua portuguesa)!... Pretexto para a dissertação temática, Gilles Deleuze opta pela abordagem do conceito de "Ideia" em duas ~das linguagens mais paradigmáticas da arte: o Cinema (com destaque para o de Bresson, o de Kurosawa e o de Straub) e a Literatura - registo que, neste contexto, relativamente à abordagem literária, talvez o mais extraordinário desta sua reflexão seja a interpretação da essência construtiva subjacente aos personagens de Dostoiewsky. O exemplo da singularidade dos protagonistas das densidades narrativas de Dostoiewsky evidencia aliás, na perfeição, o sentimento instintivo de sobrevivência que nos permitiu e permite escapar à "sociedade do controle", que Deleuze nos apresenta definida pela circulação da informação e da comunicação controlada... Contudo, no que a esta definição diz respeito, não posso deixar de registar, estribada na pertinência do trabalho interdisciplinar e transdisciplinar que a Filosofia também implica, que, por exemplo, no trabalho de antropologia social concretizado no terreno em meio rural em Portugal, evidenciei, em 1993, a partir da categoria das relações de género (a nível social e de parentesco) a natureza da sociedade de controle caucionada pela gestão da circulação da informação e, consequentemente, pelo controle intencional da comunicação. Neste contexto, G.Deleuze define e defende a obra de arte como acto de resistência o que, sendo uma evidência justa e correctamente afirmada é, porém, demonstrado logicamente com base num erro enunciativo e demonstrativo decorrente da definição de comunicação que Deleuze aqui nos propõe: a comunicação como informação, ou seja, como "conjunto de palavras de ordem"!... Porque, na verdade, a comunicação não coincide com a informação: transcende-a!... e é exatamente nesta transcendência que a obra de arte coincide essencialmente com a comunicação uma vez que a obra de arte só o é quando é percepcionada e reconhecida como tal... e o reconhecimento, a partir do acto percpetivo é, em termos cognitivos, um acto resultante da descodificação - processo indissociável da comunicação! Por isso, sim, ao contrário do que defende G.Deleuze, a obra de arte, mesmo enquanto acto de resistência é, sempre, essencialmente, um acto de comunicação!... sendo admissível e interessante perceber ou discutir até que ponto esse acto de resistência não resulta (apenas?!) de uma especificidade da sua natureza comunicacional: a de não ser direcionada para destinatários particulares! A possibilidade conduzir-nos-ia a uma outra tese, pela qual nos reaproximaríamos do conceito de liberdade, uma vez que é pelo facto de se não deixar reduzida à percepção direcionada de destinatários que a obra de arte, enquanto acto de resistência comunicante, escapa (ou pode escapar!) à "sociedade de controle"!

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