quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Da Austeridade ao Ressuscitar Dos Dilemas Históricos...

O que diariamente se vai tornando uma evidência, ficou hoje caucionado nas palavras do Professor Jorge Miranda sobre o indiscutível risco de "desagregação da Europa" (ler Aqui). No mesmo dia em que a agência de notação Moody's ameaça baixar o rating de 87 bancos europeus e de todos os países da Zona Euro... como se não bastasse esta crise que, já sem tibiezas, ameaça a Itália, a Bélgica, a Espanha, a França e a própria Alemanha e a que acrescem não só as preocupações dos EUA mas, também, a reiterada afirmação do FMI que continua a alertar para o facto de nenhum país ser imune à hecatombe provocada pelos mercados!... Por tudo isto, torna-se, cada vez mais, incompreensível a ausência de medidas políticas e económicas ou até de recomendações dos organismos internacionais no sentido de promover e privilegiar o reforço dos aparelhos produtivos nacionais... porque, sem esse reforço, nenhum país poderá sobreviver e nenhuma economia poderá garantir a subsistência das suas populações sem um empobrecimento radical e generalizado da sociedade. Evidencia-se assim a completa ausência de legitimidade, no sentido da razoabilidade ou da eficácia, das medidas que pretendem evocar a necessidade de aumento de produtividade com a imposição de mais 30m de trabalho diário ou o aumento da taxa do IVA em sectores estratégicos como a restauração que, a troco da subida efémera de mais dinheiro fácil para reduzir a despesa pública, implicam, por um lado, a redução da produção nacional e do poder de compra dos cidadãos e, por outro lado, o aumento do desemprego, da pobreza e da violência social. Das duas uma: ou os economistas não percebem nada da ciência em que se pensam especialistas ou estão todos, economistas e políticos!, empenhados em deixar as populações europeias servir de isco à fome dos monstros esfaimados dos mercados que, sem rosto, devoram países e pessoas.... moral da história: ainda têm dúvidas sobre o facto de não ter acabado a História, nem o antagonismo de classes ou sequer o confronto das ideologias? 

9 comentários:

  1. Mas que ideologia essa gente tem?
    Pra mim, acabou-se a época em que havia políticos com uma "ideologia;
    Beiljos. Força, união e fé.
    Mery* do Brasil, onde também só há corrupção e miséria nas ruas e Eles# enganam" bem, mas os"brasileiros parece que se acostumaram a sofrer e quietos.

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  2. Boas palavras, querida Mery :)
    ... vindas de quem sabe o que os povos vivem, para além das palavras que ouvem apregoar...
    Obrigada, amiga!
    Beijos deste lado de cá do oceano... que nos deixa, afinal de contas!, tão perto :)

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  3. "estão todos, economistas e políticos!, empenhados em deixar as populações europeias servir de isco à fome dos monstros esfaimados dos mercados que, sem rosto, devoram países e pessoas...."

    Vou mais por esta versão, embora com uma hesitação em aceitar o "todos"...

    Excelente texto

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  4. É certo que a política falhou. E está a falhar. Mas convém ter presente que esse falhanço, em grande medida, assentou na crença de que "as ciências sociais" sabiam o que andavam a dizer. A Economia, desde logo, mas não só. Por isso, o que se está a passar é, também, e gravemente, um fracasso das ciências sociais. É bom que os próprios cientistas sociais não esqueçam isso.

    (Também gostei da foto...)

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  5. Perfeitamente de acordo, Rogério... felizmente, o uso deste indefinido "todos" é abusivo!... obrigado pela ressalva :)

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  6. Porfírio, apesar de compreender o sentido do comentário, faço uma adenda "rectificativa": não se trata de falhanço dos cientistas sociais porque não foram os cientistas sociais a criar, implementar e desenvolver estas dinâmicas económicas, sociais e políticas... quando muito, foram os protagonistas políticos sob pareceres e "estudos" pretensamente científicos, feitos por pessoas que se pensam e intitulam (ou deixar intitular-se) cientistas sociais que serviram de justificação e fundamentação aos regimes... o que é, de facto, muito diferente do que devemos entender e entendemos por "espírito científico"! Aliás, na minha perspectiva e de há muito, defendo que é a ausência de espírito científico através da generalização abusiva, da retórica e da estatística deficientemente interpretada que tem servido de "pseudo-ciência" à vigência da orgânica económico-social e política contemporânea... mas, Porfírio, na minha opinião, esta é e deveria ser reconhecida como uma das questões centrais da epistemologia dos nossos dias.

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  7. Ana Paula, se as pessoas que fazem as teorias, os modelos, as previsões, e aconselham políticas, são professores nas melhores universidades, nos melhores departamentos, será possível dizermos que isso não é um falhanço da ciência? A escapatória de deixar de chamar cientistas aos que falharam, e às suas teorias e modelos, mas a posteriori, parece-me uma escapatória meramente retórica. Porque "ciência" ou "científico" não é aquilo que tu ou eu dizemos que é, mas o que é reconhecido como tal institucionalmente. E, aí, não há escapatória nenhuma: as ciências sociais falharam, de dois modos: os que propuseram o caminho que nos trouxe aqui, mas também os que não souberam ver outros caminhos e não souberam criar investigação alternativa com pujança suficiente para fazer a diferença. Acho que não vale a pena alijarmos a carga sempre para os políticos.

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  8. Não concordo apesar de compreender, Porfírio. Porque o problema começa exactamente nesta confusão que as sociedades das últimas décadas deixaram grassar e que foram reforçando ao ponto das próprias instituições a reconhecerem sem contestação: refiro-me à pretensa identificação entre ensino e ciência. Porém, ensino e ciência não são uma e a mesma coisa... de modo nenhum! Ciência é pesquisa, investigação, constante crítica e correcção, reformulação, adaptação, verificação e previsibilidade... antagónica relativamente a resultados fechados, a ciência não coincide com pura e simples reprodução de teorias não problematizadas ou de métodos destituídos de debate e de contestação - instrumentos e procedimentos que, infelizmente!, caracterizam o ensino contemporâneo. Mais: tal reprodução é, a maior parte das vezes, redutora por não questionar ou analisar as condições de produção do pensamento cujas teses tendem a ser perspectivadas como definitivas... o lema do "Magister dixit" persiste em detrimento da criatividade e da crítica... daí que, já há mais de 10 anos, Juan Goytisolo escrevesse no El País que a investigação científica está cada vez mais afastada das universidades porque estas se transformaram numa espécie de escolas de "formação profissional avançada" - realidade que decorre da concepção utilitarista do saber e da lógica redutora da produção do conhecimento livre e criativo em nome da sua sujeição a metas e objectivos impostos pelos mercados em que os políticos têm vindo a investir.

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  9. Carissima amiga Ana Paula Fitas,

    Fiz link deste “post” na última atualização do meu blogue.

    Fraternas e cordiais saudações, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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