domingo, 1 de julho de 2012

Quintino Lopes - O Descanso do Guerreiro...


Quintino Lopes - O Descanso do Guerreiro
Nunca sabemos como e quanto as pessoas nos marcam”, costumava dizer, deixando à reflexão de quem ouvia, o decifrar de um sentido que se pressentia sempre mais profundo do que as palavras deixavam transparecer… É verdade! - sabemo-lo todos os que o conhecemos, gerações e gerações de homens e mulheres, eternas crianças  perante um saber que só a fusão bem temperada, como o aço!, pela maturidade, a cultura e a experiência, permite aos Homens que, mesmo sem terem tido tempo para ser meninos, se tornam referências e exemplos maiores do Ser e não do Ter (como, tantas vezes, repetia - ele para quem o “ter” era sempre, apenas e só, uma forma de aproximação ao caminho das causas que moviam a extraordinária consciência social sob a qual se equacionava toda a realidade).

Quintino Lopes, o lutador indómito e corajoso que, solitária e solidariamente, preencheu e dedicou a vida à defesa dos valores em que acreditava, inteligente e intransigentemente, deu tréguas, aos 95 anos de idade, ao último combate com que se deparou, conquistando, enfim!, o justo descanso do guerreiro.

Partiu no solstício que as festas joaninas assinalam, num dia quente como o eram os dias do Estio em que gostava de atravessar o Alentejo, para concretizar a missão de que foi zeloso e incansável protagonista, em continuados, discretos e eficazes esforços pela mudança social numa região devastada pela miséria… uma região que mudou sob o seu olhar vivo e penetrante, como o era esse olhar a que apelava Che Guevara quando dizia “o nosso olhar tem que ser atento ao ponto de sermos capazes de ouvir crescer as flores”!

E foi… foi atento ao que se passava no mundo, na teoria e na prática, não esmorecendo nunca na diligência com que adaptava ao sul que habitava, o melhor do que se produzia para ajudar a realizar o melhor para todos, sem sede de protagonismo e sem ambições de poder - a não ser o de ver a razão como fio condutor de um desenvolvimento em que acreditou e que (muito mais do que supomos ou pensamos reconhecer) contribuiu, de forma ímpar, para materializar.

Um Homem (o mesmo Homem de que falava Rudyard Kipling no seu imortal poema “If…”) vive sempre à frente do seu tempo… e é à frente do seu tempo que semeia o que altera o presente e se faz futuro, para além de todas as críticas, de todas as reservas, de todos os medos e de todas as perseguições… “sem medo e sem preguiça”!  Sempre!

Quintino Lopes, o Homem, o Político, o Economista, o Resistente Antifascista, o Arqueólogo, o Empresário, o Cidadão era um Homem Raro… muito raro e, como tal, Precioso!... e eu que compreendo mas não acredito nesse lugar-comum que diz que “todos somos substituíveis”, afirmo aqui o seu contrário: “Há Pessoas Insubstituíveis”!...

Hoje, evoco e partilho aqui a memória dos dias e das noites em que, ininterrupta e rica, a conversa revisitava a História da Humanidade para nos devolver, revitalizados e confiantes, ao presente, sempre com os olhos no futuro… e recordo, para sempre!, a confiança, a indefectível amizade, a camaradagem, a sabedoria, a firmeza e o canto com que aligeirava a dura tarefa da missão que se impusera e que, nos limites do que nos é permitido pela nossa frágil mas, tão poderosa condição humana, foi cumprida!

(Évora, 25 de Junho de 2012 – 01.35h - Publicado no Diário do Sul de 26-06-2012)

4 comentários:

  1. Um Homem para quem a cidadania era tão importante como respirar! Um tinto pelo cidadão Quintino.

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  2. Bem-haja, Isidoro...
    ... como imagina, não tenho muitas palavras...
    ... muito, muito obrigado!

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  3. ... o voo simples de uma pomba branca, e a carícia do vento nas pétalas de uma papoila.
    ... sei lá, os sinos tocam-nos sempre.

    Um beijo
    M.José

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  4. ... um beijo, minha Amiga...
    ... porque os sinos tocam, também, sempre, por todos nós...

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