sábado, 5 de setembro de 2009

Recentrar o Debate nos Problemas Reais do País

A mais recente polémica contra o Partido Socialista foi, mais uma vez, levada a cabo através de acusações ao Governo de José Sócrates, sugerindo e explorando a hipotética ingerência do Estado na Administração de uma empresa... seria mais um ataque grosseiro, daqueles que configuram a habitual falta de ética e de ponderação, não fosse tratar-se de uma empresa de comunicação social com dimensão nacional, mais ainda, caracterizada pelo protagonismo de Manuela Moura Guedes que, em nome do jornalismo, promove a divulgação de factos e associações de ideias sem comprovação prévia, assentes em especulações que não atendem sequer ao princípio da presunção de inocência, dando voz à sua opinião num espaço que, em horário nobre, se anuncia e apresenta como espaço informativo. Uma alteração na grelha informativa que anuncia pretender homogeneizar a linha editorial da edição dos serviços informativos da hora de jantar, levou ao afastamento da jornalista que protagonizava o programa que ocupava esse horário às 6ªs feiras. O caso, levado a extremos que nele viram a intervenção ibérica de um poder supra-nacional, a interferência político-partidária dos socialistas luso-espanhóis e, como tentou dizer Mário Crespo a Azeredo Lopes, um reflexo da propalada "asfixia democrática" enunciada pela líder do PSD (sem sucesso, diga-se em abono da verdade, porque Azeredo Lopes se recusou a comentar uma expressão utilizada em campanha por um partido político), talvez se resuma ao que bem sintetizou, com a habitual clarividência, Óscar Mascarenhas, que nele vislumbrou o possível "braço-de-ferro" entre Manuela Moura Guedes e o Conselho de Administração da TVI... porque, como bem lembrou o reputado jornalista e académico, reconhecido pelo seu trabalho sobre ética e deontologia, Óscar Mascarenhas, a jornalista pertencia ao núcleo de confiança dessa Administração e não é suposto vir chamar "estúpidos" aos que a pretendiam retirar do "ecrã" se não existisse um precedente conflitual em que Moura Guedes perdeu um grande aliado, a saber, o seu próprio marido... Não permitir que a dimensão política se reduza a questões domésticas e de gestão empresarial é um sinal de maturidade democrática... importante e urgente, particularmente em períodos pré-eleitorais... por isso, esperemos que os partidos e os comentadores saibam distinguir, com discernimento e distanciamento, o trigo do joio e não se deixem tentar até à exaustão pelo sensacionalismo gratuito e especulativo... em detrimento do debate político nacional.
(Este texto foi também publicado no Público-Eleições 2009 e Simplex)

4 comentários:

  1. Mais, Ana Paula,
    visto, ontem, o programa "Expresso da Meia Noite", conclui-se que quem enfrentar a Comunicação Social, mesmo que em defesa da sua própria honra, corre o risco de ser completamente esmagado pela mesma .
    Os jornalistas são donos e senhores que não podem ser contestados. sejam quais forem as suas motivações.
    Quanto às declarações ouvidas, felizmente existe um Óscar de Macarenhas, que se recusou a fazer um frete a Mário Crespo, apesar das constantes tentativas deste.

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  2. Ainda bem que ouviu Óscar Mascarenhas, T.Mike porque, para um democrata não comprometido com corporativos partidários assentes na vontade gratuita do poder ou na demagogia de que são reféns por sentimentos pessoais de vingança ou cego ressentimento, é grave perceber que a "espuma dos dias" criada para que o ruído impeça a clareza das ideias e das opções, faz a agenda política e social... mais grave ainda quando a teatralização dramática obscurece a evidência do prejuízo que a relevância de boatos, suspeições ou cartas anónimas podem significar para o futuro, legitimando quem se não afirma pela força da razão e da justiça e quem tudo utiliza em proveito próprio... demonstrando, aqui sim, que o maquiavelismo continua presente e que ética e profissionalismo deontológicos são cada vez mais posturas que o mercado ignora, numa clara demonstração de que poucos estão disponíveis para aprenderem com a realidade... Um abraço.

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  3. Eu já sabia, mas começa agora aser público, o ambiente de cortar à faca que se vivia na redacção da TVI, onde o casal Moniz impunha a sua lei. Com pouca liberdade de expressão para quem os contrariasse e algumas prebendas para os acólitos...
    Gostei da sua análise.

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  4. Caro Carlos Barbosa de Oliveira,

    Obrigado pelo seu comentário seguramente sustentado... vindo de si, é ainda mais gratificante saber que vale a pena irmos partilhando as nossas análises.
    Um abraço.

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