sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Da Guerrilha Orçamental...

Conhecida que é a situação económica do país e o respectivo impacto na rede dos mercados internacionais, com plena consciência das dificuldades socio-económicas da população atingida por uma taxa de desemprego que, segundo algumas fontes, ultrapassa já as 700.000 pessoas e cuja relação entre salários e custo de vida se encontra em progressiva quebra, o debate entre os partidos da oposição e o Governo mais parece a encenação de uma guerilha pseudo-ideológica que os portugueses têm cada vez menos paciência para ouvir. De facto, os argumentos são a repetição das velhas receitas que, da esquerda à direita, denotam a incapacidade de se adequar à contemporaneidade dos problemas. Não está, naturalmente!, em causa, a legitimidade do debate mas, isso sim, a justeza do seu conteúdo e a verdade é que as críticas retóricas a que constantemente assistimos, se limitam a propagandear juízos de natureza macro assente em projectos socio-políticos ideologicamente diferenciados que esperam frutificar sobre o descontentamento social. Contudo, mais sábio do que a propaganda antiquada do antagonismo gratuito, o discernimento dos cidadãos não reconhece nessas alegações, a objectividade e a clareza de soluções que o rigor dos tempos impõe... não será por isso de estranhar que o senso comum vá repetindo baixinho: "p'ra pior já basta assim!"... apesar do oportunismo gratuito da persistente aparência de preocupação social com que a guerrilha se vai apresentando, cujo sentido se revê na sintomática evocação: "o rei vai nu".

(Observação: leia-se a este propósito o texto de hoje de Eduardo Pitta no Da Literatura.)

14 comentários:

  1. Já tinha saudades de um comentáriozinho a dizer " estamos sintonizados..."
    Num opúsculo que estou a ler a propósito de assunto bem diferente diz-se a certa altura:
    "os inimigos da Pátria eram agora os portugueses e agiam no próprio coração institucional do país."
    Deu-me vontade de transplantar a citação para as apreciações que se têm feito nos últimos dias.
    Parece que tudo, indiferentemente do que é realmente necessário e deveria ter prioridade, fica sujeito à lei dos interesse de grupo. das lutas pela hegemonia política, pelo desgraçado populismo que se abateu sobre a nossa Informação.
    Bom,adiante. Preocupemo-nos nós (povo anónimo) que, pelos vistos, somos mais importantes para o país e de quem o país mais espera...
    Um abraço.
    PS.:Temos de conversar um dia destes sobre "outras tartefas" que se avizinham. Ok?

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  2. Não será de repetir baixinho "p'ra pior já basta assim ". É para gritar, QUEREMOS MELHORAR E VOCÊS NÃO SERVEM. Isto é o que pensam todas as pessoas desempregadas, que, algumas delas acreditaram na campanha do PM e dos 150.000 empregos. A conclusão é que pior não pode haver, por isso tenham coragem vão-se embora e se os vindouros não prestarem se forem igual a estes, então.....arrange-se outro esquema que poderá passar por formas mais duras de luta. Há um ditado que diz " Para grandes males, grandes remédios ". Os nossos governantes, não sei se serão governantes, não sabem, nem nunca passaram por dificuldades para comerem, para comprarem medicamentos, não ter dinheiro para pagar o empréstimo da casa....sabem lá o que isso é. A única coisa que interessa, é o que têm mostrado, é passarem 2 ou três mandatos no governo ou como oposição e terem uma reforma que lhes permita fazer grandes vidas. Vale a pena dar exemplos ? Daria um de uma pessoa que descontou durante 40 anos e tem uma reforma de 400€. Se este não servir, façam-me, os nossos governantes, mudar de opinião, sem irem aos prémios pagos a gestores da EDP, pelos bons serviços prestados, quando há gente a passar fome.

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  3. Cara Ana Paula Fitas,

    Desse antagonismo,
    artificial,
    há alguém que não se sai nada mal.
    Vai poder colher trunfos eleitorais como pomba da paz. Vai ver...

    PS – Venho também dizer-lhe que avisto este seu blogue da minha janela, dissimulado entre a folhagem, o casario e um rio

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  4. Repare, não é verdade que só haja Cassandras. Há quem proponha soluções. Elas podem é não agradar ao sistema que alguns chamam de democrata mas que é uma plutocracia partidária com laços maçónicos em todos os partidos. Solução única: corte de vencimentos na função pública. Solução que será adoptada: subida de impostos e ataque aos pensionistas e idosos. Não se pode queixar muito: foi isto que defendeu nos seus textos....

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  5. T.Mike,
    Excelente e oportuna citação a que aqui nos traz, incisiva e perfeitamente ajustada à dinâmica política dos dias... além disso, como já vai sendo comum, em sintonia, também eu penso que as pessoas são mais importantes e merecem mais de todos nós :)
    ... vamos então combinar conversar sobre os tempos que se avizinham.
    Um abraço.

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  6. Caro ZéParafuso,
    ... o que posso dizer além do que aqui nos diz?... que junto a minha à sua voz e a todas as que reclamam mais justiça social, mais equidade e mais democracia porque temos o dever de exigir, em voz alta, soluções mais justas, sérias e adequadas, capazes de travar a contínua degradação da qualidade das pessoas e de finalmente se levar a cabo um programa efectivo de luta contra a pobreza que, em Portugal, torne realidade a Fome Zero!
    Obrigado.
    Um abraço.

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  7. Caro Rogério,
    ... como sempre, tem toda a razão!... lá diz o ditado que: "em terra de cegos, quem tem um olho é rei" e, neste caso, quem vai lucrar com todo artificialismo da pseudo-crise construida sobre a falta de soluções para a crise, é quem sabemos que ganha com a pouca imaginativa e pobre estratégia dos seus aliados...
    ... daqui a pouco vou espreitar a sua janela :)
    Um grande abraço.

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  8. Caro Anónimo,
    O seu comentário revela que não lê nem conhece os meus textos e, por isso, resta-me lamentar que escreva um tão despropositado comentário. Não me refiro aos considerandos que a sua opinião tece sobre o país ou a sua governação e dinâmica socio-cultural e política - apesar de considerar que as solução que proclama não passam de receitas que se apregoam sempre que se não sabe o que fazer, atirando culpas para fáceis objectos de culpa... mas, na verdade e objectivamente, na contestação ao seu comentário refiro-me, naturalmente!, como o percebem claramente todos os que acompanham o que escrevo, ao completo desfazamento entre o que defendo e o que diz... porque nunca, em lugar algum, pode ter lido, escritas ou defendidas por mim as palavras, medidas ou posturas que refere.

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  9. Ana Paula,

    Como diz - e eu subscrevo - a Clara Ferreira Alves, a crise que vivemos, além das causas de ordem internacional, é fruto de políticas do 'bloco central' detentor do poder nos últimos 34 anos. Com Cavaco, iniciou-se a desastrada desindustrialização; a agricultura estiolou e a estratégia de terceriazação da economia (serviços) fracassou. Viveram-se anos de euforia, produto de abundantes fundos comunitários, sem que, todavia, tenham resultado benefícios duradouros para o tecido económico e social do País.
    Como tudo isto não bastasse, e com muitos enriquecimentos polémicos de permeio, estamos subordinados a uma geração de políticos sem qualidade. É fruto da lógica das juventudes partidárias, dizem alguns. Certamente, assevero eu.
    Não se infira que defendo o partido A ou B. Fui activo apoiante de Manuel Alegre em 2006 e acho que ele não soube capitalizar o apoio que recebeu - para mal dos portugueses que não têm trabalho, ou tendo-o ganham miseravelmente, ou ainda para inúmeros sumetidos a regimes de aviltante precariedade.
    Do cenário a protagonistas, formou-se um 'nó' complexo, até pela exposição internacional. Quem é capaz de o desfazer? Não sei.

    Um abraço amigo,
    Carlos Fonseca

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  10. Caro amigo Carlos Fonseca,
    Obrigado pelo seu texto que não vou comentar por preferir subscrevê-lo, tal é o tom sentido e autêntico que dele transpira... se me permite, Carlos, o seu texto teve em mim um efeito que faz sentido tendo como som de fundo o cantar de António Zambujo "Trago Alentejo na Voz" - podendo a referência ao Alentejo passar à alusão a Portugal.
    Obrigado, Carlos.
    Um abraço amigo.

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  11. Ana Paula,

    Obrigado. É o que me vai na alma. Provavelmente, à maneira do António Zambujo,'Trago Portugal na Alma". Em cada mês, pelo menos 15 dias sou aldeão alentejano, e lá os sentimentos refinam-se.
    Um abraço amigo.

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  12. Um grande abraço amigo, Carlos :)
    Bem-haja!

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  13. Oh Caríssima Ana Paula Fitas,

    Quem a lê com mais atenção diária que este pobre idoso que nada mais tem para fazer? E por isso sejamos cordatos: a Senhora Professora defendeu uma certa opção política nas legislativas. O resultado está à vista. Sabe, sou dos que pensam, que em democracia é uma pena o voto ser secreto: quem vota neles é que os devia pagar. Em todo o caso sempre houve redução salarial. Receita sem imaginação? :)
    Cumprimentos.

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  14. Carissimo Anónimo,
    Cordatamente, a minha pergunta é: que opção política viável (isto é, com efectiva possibilidade de vencer as eleições) poderia garantir uma forma de actuação diversa?
    Quanto à sua observação de que "quem vota neles é que os devia pagar", pergunto: e poderia alguém, se assim fosse, garantir que os não-votantes o não seriam apenas para não ter que pagar? Como poderia então garantir a democracia e a legitimidade eleitoral se o que estivesse em jogo fosse: poderemos vir a ser pagadores?...
    Relativamente à defesa do voto não-secreto acredita que a sociedade contemporânea tem condições para que tal ocorra sem condicionalismos, designadamente, o medo?
    Quanto à receita sem imaginação da redução salarial, na minha opinião não é disso que se trata mas, isso sim, enquadrar a medida num contexto de avaliação mais justo que implicaria, em primeiro lugar, a redução das assimetrias socio-económicas e só depois, se ainda se constatasse necessário, se optaria pela redução de salários médios... sim, claro que, como diz: "sempre houve redução salarial" mas poderia ter sido menor para os que menos ganham, mais altos os níveis definidos para imputar cortes e menor a imoralidade do contexto em que foram feitos - leia, por exemplo, o meu mais recente post chamado "Obscenidades Públicas".
    Cordiais saudações.

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