segunda-feira, 13 de julho de 2009

Acordai!...



Regressei hoje de uma curta pausa, junto ao mar, onde gaivotas e alfazema sobrevoam e se debruçam sobre a areia fina onde o sol escalda e o mar acalma... na viagem de fim de tarde, doeu-me, como sempre!, o Alentejo!... esse Alentejo, sóbrio e contido, imenso e desértico, abandonado, injustiçado como se fosse um castigo a dimensão da terra e o poder dos homens, cada vez menos!, na planície desmineralizada... "Oh, Alentejo dos Pobres, Terra da Desolação, Não sirvas quem te despreza, É tua a tua Nação"... a canção, já antiga e que se pensou nunca mais ter que ser cantada, volta à memória e, sobre ela, enuncia-se, sussurante, a frase incrédula: "é o preço!?"... foi então, enquanto avançava no asfalto da estrada anónima que atravessa o solo que já foi fértil e sagrado, que se me desenhou, caleidoscópico, um esboço de pensar: um texto que escrevi há uns dias aqui mesmo, o texto de Manuel Alegre no Expresso de sábado, o texto de Baptista Bastos,publicado no DN na passada 4ªfeira e, a terminar, o som cantado do poema de José Gomes Ferreira "Acordai" na inesquecível composição do Maestro Fernando Lopes Graça... sim, é isso!... um esboço de pensar que, de repetido, se formulou composto na expressão de uma evidência que tão dificilmente parece ser compreendida: É urgente a Convergência da Esquerda... uma convergência estrutural, séria e digna do país que temos e da gente que somos... com António Costa na Câmara Municipal de Lisboa e Manuel Alegre na Presidência da República, por exemplo... com um Governo capaz, eficaz e sólido, que não seja vulnerável às fragilidades que os seus opositores sempre terão capacidade para explorar... sim, é isso! Há prioridades... ou, como diz a sabedoria popular, "cada coisa a seu tempo"... pois... agora é urgente, acima de tudo, ter em conta o que tão bem reflecte Baptista Bastos quando, no texto supra-citado, com clarividência vê: "tudo o que assusta"...

8 comentários:

  1. Cara Ana P.,
    «Acordai» também para o pensamento caminhante: aquele que é próprio da nossa contemporaneidade, marcando a experiência heteroautonómica e, rasgando ao mesmo tempo, com pensamentos de identidades estáticas. É urgente , é também urgente que a filosofia responda ao apelo do pensamento (sempre que os desligamos temos apenas pensamento teorético que nada ajuda a pensar: «tudo o que assusta»)...Grande abraço.

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  2. Extraordinário:sou pouco de acreditar "que nada acontece por acaso". E acontece esta coincidência de andar há três ou quatro dias, a trautear este maravilhoso hino,sim para mim é um hino, de Lopes Graça!
    É sem dúvida este nosso pensar comum , da necessidade urgente da Esquerda levar a sério o que lhe é exigido: o interesse superior do País, não o dos Partidos.
    Também Saramago, que tão mal tratado tem sido nos ultimos dias,diz no seu Ensaio Sobre a Cegueira, "cada coisa chegará no tempo próprio"...
    Oxalá !
    Termino com outra frase de Saramago, do mesmo livro:HÁ ESPERANÇAS QUE É LOUCURA TER.POIS EU DIGO-TE, SE NÃO FOSSEM ESSAS EU JÁ TERIA DESISTIDO DA VIDA"...
    Boa noite, Ana Paula, muito,mesmo muito obrigada ,por mais esta parilha e pelo texto, que mais uma vez irei partilhar-penso que não se importa- com alguns amigos.
    um abraço amigo
    tina

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  3. Perdoe o "não comentário", mas talvez isto lhe interesse:
    http://irrealidadeprodigiosa.blogspot.com/2009/07/0073-sobre-historia-preto-e-branco.html

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  4. Olá Jeune Dame,

    Como sempre, eis um bom contributo para pensar a desconstrução da demagogia: o pensamento caminhante que nada do que atravessa ignora e que tudo filtra pelo crivo da análise interdisciplinar e epistémica a que o futuro não nos permitirá, por razões éticas, escapar. Um grande, grande abraço.

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  5. Tina,

    Fico feliz pela coincidência deste nosso, como diz, "pensar comum" e é muito gratificante que queira paratilhar com pessoas amigas este texto. Obrigado! ... entretanto, aproveito para lhe dizer que o "Ensaio sobre a Cegueira" é, também para mim, uma obra clarividente que já li há muito tempo mas que as citações me refrescou muito claramente... obrigado também pelo refrescar da memória. Quanto ao hino que é, efectivamente, o "Acordai" mantenhamo-lo aceso nas nossas mentes e nos nossos corações... para que não se esqueça: o pesadelo do passado e os riscos do presente em nome do futuro.
    Um grande abraço amigo,
    Ana Paula

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  6. António Carlos,

    Muito obrigado por me abrir o caminho para o "Irrealidade Prodigiosa"... além do mais, a arqueologia dita "pré-histórica" é um dos campos do caminho que mais urge explorar, persistindo na sua explicação como acesso a uma mais ajustada compreensão da realidade. Parabéns pelo excelente blog de que, naturalmente, passarei a ser uma Seguidora atenta.
    Um grande abraço.

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  7. Obrigado eu. Quanto ao papel da Arqueologia, ou de uma certa Arqueologia (infelizmente minoritária e quase desconhecida), está também adormecido. Mas, se me permite o abuso de mais um link, talvez aqui se possa antever um pouco dessa utilidade: http://irrealidadeprodigiosa.blogspot.com/2009/04/0057-prever.html

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  8. Vou ver, António Carlos. Muito obrigado!... fico feliz por saber que pertence a essa/esta (se me permite!) minoria que não deixará, no âmbito das suas possibilidades, de acordar "uma certa Arqueologia" de cujo conhecimento e exploração tanto carece a sociedade, a política e a própria Epistemologia, designadamente das Ciências Sociais que, tembém "por acaso" andam, em Portugal, sempre em águas semi-turvas, num estranho limbo"...

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