quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Barack Obama e o Fim da Guerra no Iraque


Na minha opinião, a retirada americana do Iraque não tem sido noticiada ou elogiada devidamente. Compreende-se que a Administração de Barack Obama tem permanentemente "em mãos" dossiers muito quentes de que vale a pena destacar o ainda não resolvido problema de Guantanamo... contudo, a retirada americana do Iraque é, de facto, uma boa notícia não só porque a tão famigerada guerra acaba com a retirada das forças ocupantes ou porque o Presidente Obama cumpriu, no prazo que definira para o efeito, essa retirada mas, acima de tudo, porque o Iraque fica mais livre para procurar internamente as melhores soluções para a sua reconstrução. É verdade que o estado calamitoso em que ficou o país, sete anos depois de uma guerra sangrenta, dificilmente compreensível e menos ainda aceitável para quem a viveu e sentiu como demolição da vida, torna o momento presente simultaneamente angustiante e arriscado... os conflitos internos, a tentação do poder e a crise transversalmente grave com que a sociedade iraquiana fica confrontada são agora um desafio de desfecho imprevisível relativamente ao qual os EUA não poderão, perante a História, ser desresponsabilizados. Contudo, o fim da guerra é o fim da guerra na sua dimensão de desocupação de forças externas beligerantes... e Obama não invocou benefícios, não clamou vitória nem sequer falou em "missão cumprida" denotando o realismo e o sentido de responsabilidade que é urgente assumir na gestão das relações internacionais no século XXI onde a manutenção da paz e o fim da guerra deverão ser a prioridade, sobrepondo-se a qualquer vaidade ou sobranceria que, tradicionalmente, tem servido para justificar a necessidade demagógica de "cantar vitória" sobre os dramas que ficam instalados nos cenários de guerra.

12 comentários:

  1. Ana Paula,
    na realidade é um homem diferente que ocupa a cadeira mais importante da Casa Branca.
    Continua a construir a justificação do Prémio Nobel que lhe foi atribuído por acções futuras.
    Continuemos, também nós, a acompanhá-lo...
    Um abraço.

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  2. Miguel :)
    ... é isso mesmo! Por muito que haja a fazer, é preciso manter o discernimento e não deixar que se perca o que de bom se vai concretizando :)
    Obrigado pela expressão de sintonia :))
    Um abraço.

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  3. Ana Paula Fitas

    Transcrevo do seu texto "os conflitos internos, a tentação do poder e a crise transversalmente grave com que a sociedade iraquiana fica confrontada são agora um desafio de desfecho imprevisível relativamente ao qual os EUA não poderão, perante a História, ser desresponsabilizados". È isso. Quanto à saída e "fim" da guerra vejamos o que acontece até Dezembro de 2011... O ponto de referência é para estes 7 anos e 5 meses. O exército americano sofreu quais 4500 baixas. O número de iraquianos mortos durante o conflito, foi de cerca de 100 mil. .. Sem presença americana, as suas baixas tenderão para zero, para onde tenderão as Iraquianas?

    Vamos ver...

    Abraço

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  4. É óbvio que há um abismo entre Obama e Bush ( apesar de muitos dos nossos analistas pretensamente especializados em política americana tenderem a ignorá-lo)
    Obama, no entanto, tem-me desiludido.Quer em relação à América Latina, quer quanto ao interminável conflito israelo-palestiniano, ou mesmo no que concerne ao Afeganistão.
    A retirada do Iraque é, sem dúvida, um dado positivo. O problema esteve na invasão ( a que Obama é obviamente alheio) e nos resultados catastróficos que daí resultaram. Talvez demore décadas até a paz regressar ao Iraque. E quanto à democracia, é melhor nem pensar.
    Abraço

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  5. Não basta a vontade de um homem para mudar o rumo da civilização, contudo, com a nossa disponibilidade solidária com as medidas correctas, sem dúvida que contribuiremos, para que as vontades do Sr. Barack Obama, expressas quando da tomada de posse sejam possíveis de concretizar.
    Eu também acredito que estamos perante um homem bom. Sei que os interesses em jogo são muito poderosos, a indústria da guerra, tem que ser convertida numa indústria da paz e assim, ganhará a humanidade.
    TC

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  6. Minha Querida Amiga,

    … e, em minha opinião , se Vinicius é «o Branco mais Preto» Obama será o Preto mais Branco… nisto vai que continua a deixar rastos por onde passa … na arte de bem julgar e do bem agir no tecido da vida … que sua marcha continue … sempre adiante e, que a gentil chama da energia não se apague… rumo a uma vida em convivencialidade … boa e desaguada…

    Aquele Abraço + Beijo

    Saravah

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  7. E tem a minha boa amiga TODA a razão.
    Bem haja pela lucidez e sagacidade.
    Esta é uma muito boa noticia, que tem de ser MAIS divulgada.
    Abraço,
    J. Albergaria

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  8. Cara Ana Paula Fitas
    Plenamente de acordo...
    Que não deixem de continuar a ser discutidas as estratégias necessárias para a retirada do Iraque e esta ocorra com o maior sentido de responsabilidade e fio condutor do objectivo em causa e conduzido pelos EUA.
    Parece existir, no entanto, um sentimento comum a boa parte dos iraquianos, que esperam pelo dia em que retomem o controle do seu país, mas temem os efeitos da saída das tropas americanas, incluindo uma guerra civil e a volta da violência sectária sem um governo de união.
    Que o governo do Iraque esteja preparado para enfrentar qualquer emergência, mesmo o vazio deixado pela retirada das tropas americanas e que se instale no país uma comunicação transparente, digna de uma sociedade aberta e com consciência da sua própria responsabilidade cívica.
    Haverá um preço na mudança?
    Um Grande Abraço Amigo e Solidário :)
    Ana Brito

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  9. Ana Paula,

    É sempre com imenso interesse que leio os seus textos, mesmo quando não comento. Nunca discordei, mas alguma vez teria de ser a primeira.
    Barack Obama, na opinião de alguns de que também partilho, está a cair em certas derivas, cedendo às pressões dos conservadores norte-americanos. Ainda vão permanecer no Iraque até finais de 2011 50.000 soldados. É obra!
    Melhor do que eu, falará o artigo de 'The Nation' sobre o discurso do presidente dos EUA, do qual me permito fazer o 'link':http://www.thenation.com/blog/154423/obamas-awkward-speech-not-quite-peace-and-nowhere-near-prosperity.
    Como sempre, um abraço amigo,
    Carlos Fonseca

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  10. Caros Amigos/as,
    É gratificante ler os vossos contributos por neles se tornar evidente a capacidade que ainda temos para discernir o que, apesar de todas as limitações e da dimensão das nossas expectativas, ainda nos permite reconhecer os contributos para a mudança... sem esquecer todos os reparos que aqui bem nota o amigo Carlos Fonseca, ainda assim, como a minha querida amiga que, evocando Vinicius de Moraes, diz que Obama "é o preto mais branco" dos dias que correm, podemos ter no horizonte da política internacional que, sem mudar radicalmente tudo o que desejariamos por não ser execuível e por, provavelmente, a dinâmica de forças em que se move, obrigar a cedências que também muito me inquietam mas que, presumo, estratégicas?!?!
    Um grande abraço amigo e grato a todos :)

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  11. Interessante...o fim de uma guerra sangrenta ocupa menos espaço na TV do que um jogo de futebol

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  12. Caro Anónimo,
    Obrigado pela pertinente observação!!! ... é, de facto, absurdo ... quiçá, suspeito... mas, como diz, inequivocamente "interessante".
    Sinceramente, obrigado!
    Bem-haja!

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