sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Moçambique - A Pergunta...


Se no Ocidente, por cá, na Europa, tal como por acolá, nos EUA, vivemos numa espécie de "limite", a sentir que atravessamos uma débil ponte de corda sobre o rio que corre em desfiladeiros indiferentes à nossa apreensão, ao nosso medo e às nossas expectativas... o que dizer ou esperar de Moçambique, um dos mais pobres países do mundo (ler aqui e aqui)?... nada? ... tudo?... seguramente, ambos os termos respondem aos nossos medos... e, por isso, o melhor é ajudar para que o recurso à corrupção, ao tráfico de influências e à suspeição determinada contra potenciais acusados, se não transforme, passando de "catártico saudosismo" a uma simples, pura e autêntica cumplicidade que, sob a forma de manutenção de uma forma de vida claramente desigual, caracteriza os pobres que choram e mendigam todos os dias.

15 comentários:

  1. Cara Ana Paula Fitas,

    EStou a recolher informação. Se for caso disso virei aqui comentar...

    Abraço

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  2. Caro Rogério Pereira :)
    Muito agradeço o esforço e fico a aguardar... curiosa e ansiosa... porque há notícias que são dadas como se de algo estranho se tratasse apesar da evidência e da justeza das causas... a gestão económica da vida dos povos não pode continuar refém de uma lógica financeira que sacrifica os que a alimentam - e é isso que choca profundamente... tanto quanto choca a forma mediática de apresentar os problemas, descontextualizando em imagens que parecem esgotar numa espécie de violência gratuita a complexidade da realidade (a propósito do fim da guerra do Iraque um dos comentadores veio aqui registar, com toda a razão, que é no mínimo "interessante" verificar que, nas televisões, o fim de uma guerra ocupa menos espaço que um jogo de futebol...)...
    Grande abraço.

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  3. Quando acabar a corrupção, quando os governos de Moçambique tomarem consciência das potencialidades deste país, teremos um Moçambique abastado. Moçambique para ser um país de vanguarda precisa de gente a trabalhar e não partidos, cuja quantidade só interessa ao governo. Dividir para reinar.

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  4. Oh pátria
    mocambiquero-te
    neste alumbramento
    e amar-te
    devo-o à carne e ao nervo
    deglutidos em revolta.

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  5. As revoltas de Maputo (5 de Fevereiro de 2008 - 1 e 2 de Setembro de 2010)

    1. O Governo não conseguiu interpretar os custos económicos e sociais dos vários tipos de conflitos e incluir nas suas soluções os custos previsionais da intensidade futura da sua expressão, particularmente para casos em que a se verifica a emergência de lideres informais em contra-ponto à ausência de uma oposição qualificada, dos sindicatos e das associações da sociedade civil.
    2.O modelo económico do país e o modelo de criação de riqueza tem de ser revisto
    3.A nivel político, é perigoso a população constactar que só através da revolta consegue atingir os seus objectivos.

    feliciano de mira

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  6. Caro Zé Parafuso :)
    Penso que a "receita" (passe a expressão!) que aqui apresenta, deveria ser pensada e reflectida face à realidade política de muitos países, entre os quais, Moçambique :))
    Obrigado pela síntese crítica :)
    Abraço.

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  7. Caro Anónimo,
    Grata e reconhecida pelo seu testemunho sentido, aceite a expressão sincera da minha solidariedade.

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  8. Caro Feliciano de Mira,
    Obrigado pelo seu comentário.

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  9. Cara Ana Paula Fitas
    Embora a crise social pareça ter acalmado em Moçambique penso que esta revolta popular é justa. A população teme a carestia e se não forem repostos os abastecimentos a situação tenderá a complicar-se visto que os stocks de produtos se encontram em fase de esgotamento.
    Comemoram-se, entretanto, os acordos de Lusaca que há 36 anos atribuíram a independência ao país e no plano mais optimista e caso se venha a confirmar o final da crise social...talvez nos meados da semana esteja reposta a normalidade em Maputo. O aumento dos bens essenciais - do pão (fórmula de ouro para a população) - dos combustíveis, da água...justificam os protestos e há ainda a questão do descontentamento associado ao final dos preços subsidiados que me parece ser uma imposição do FMI e das suas preocupações com o endividamento do país em crescendo. Passados cerca de 8 meses das eleições será que a estabilidade governativa se encontra ameaçada? Haverá necessidade de uma revisão geral, específica e estratégica por parte do governo? Provavelmente...
    O caso de Moçambique preocupa os países vizinhos, Portugal e a CPLP na medida em que os tumultos agitam o trabalho de democratização em vigor e que convém consolidar. É muito triste as pessoas não terem dinheiro para comer, as lojas estarem vazias, haver filas intermináveis...deitarem-se sem comer!
    Aguardemos os acontecimentos até 4ª feira...Que situação...que revivência mais traumática!...
    Um abraço amigo e solidário :)
    Ana Brito

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  10. Ana Paula,

    O governo de Moçambique, como muitos outros de países africanos, é manifestamente corrupto. De resto, em orgãos de comunicação locais, considerados isentos, foram divulgados detalhes de negócios e da fortuna do PR moçambicano.
    Mas existe outra entidade diabólica na provocação do descontentamento social: o FMI, que exigiu a aplicação do aumento de preços dos bens essenciais, como o pão e o arroz. Joseph Stiglitz, em livros e artigos, não se cansa de clamar contra o funesto papel do FMI - lembre-se o que o sucedeu ao povo argentino com a dolarização do peso.
    Não obstante a tremenda crise em que são co-responsáveis, os organismos que lideram o 'sistema financeiro internacional' continuam impunemente a repetir políticas desastrosas, conducentes a inequidades na distribuição de rendimentos e ao fomento da pobreza de milhões de seres humanos. O FMI é um desses organismos e, nas conturbações sociais de Maputo e Matola, teve fortes responsabilidades na protagonismo das causas. Deste aspecto, porém, pouco ou nada é referido pela imprensa portuguesa.
    Um abraço amigo,
    Carlos Fonseca

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  11. A mim já pouco me choca estas matanças de animais humanos, pois pelo que leio e ouço, o importante é saber se, no final destas manifestações chatas feita por esse bando de "pobretanas", já se pode fazer negócio! A ligeireza, ou será frieza?!, com que se descreve nos meios de comunicação o número de pessoas mortas, nem sei se podemos apelidar de "pessoas"!, é de tal forma gigantesca que por isso já nada me choca... Somos mesmo uma espécie que só vê duas coisas: DINHEIRO e RELIGIÃO... e com base nestas duas coisas se justificam as maiores barbaridades...

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  12. Caríssima amiga Ana Paula Fitas,

    Sem dúvida que as crises que o Ocidente vive nada significam comparados com os episódios trágicos que se passaram em Maputo. A belíssima imagem que a Ana nos apresenta desperta-nos para o simbolismo que a mesma encerra, porque nessa terra de clamorosa beleza com tonalidades crepusculares inolvidáveis tem de existir paz, pão e respeito pela vida alheia e pelos bens dos outros neste país.

    É, por isso, necessário auxiliar este país com uma Força de Intervenção de Paz no âmbito da CPLP, como o Movimento Internacional Lusófono defendeu para a Guiné-Bissau, ou no mínimo no âmbito da ONU. Além, de ser necessária a ajuda imediata alimentar e espiritual a estas populações.

    Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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  13. O dia 7 de Setembro, hoje, é considerado o Dia da Vitória em Moçambique, em homenagem à assinatura dos Acordos de Lusaka. Junto um pequeno excerto do discurso de Samora Moisés Machael,na altura presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), por altura da tomada de posse do Governo de Transição em 1974.

    “(...) Queremos chamar atenção ainda sobre um aspecto fundamental: a necessidade de os dirigentes viverem de acordo com a política da Frelimo, a exigência de no seu comportamento representarem os sacrifícios consentidos pelas massas. O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores. A corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as cunhas, o nepotismo, isto é, os favores na base de amizade, e em particular dar preferência nos empregos aos seus familiares, amigos ou a gente da sua região fazem parte do sistema de vida que estamos a destruir. (...)

    Apesar das situações que tenho estudado e vivido, sobre e em Moçambique, e de todas as contradições do processo governativo moçambicano, sou da apoiante Frelimo e crítico da sua Governação da direcção do Estado, quando considero que está a praticar erros.

    feliciano de mira

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  14. ...da ética da responsabilidade...e, da democracia que é esquiva...e, da necessidade de um olhar atento...e, da intervenção participativa no seu constante aperfeiçoamento...

    Diz, Mia Couto, num dos seus contos «Afinal Carlota Gentina não chegou de voar?»
    (...) Eu somos tristes. Não me engano, digo bem. Ou talvez: nós sou triste? Porque dentro de mim não sou sozinho. Sou muitos. E esses todos disputam minha única vida. Vamos tendo nossas mortes. Mas parto foi um só. Aí, o problema. Por isso, quando conto a minha história me misturo, mulato não de raças, mas de existências.

    ...«mulatos, não de raças mas de existências», não é o que todos somos nesta aventura em que vivemos?...

    Um Abraço esperançoso

    Saravah

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  15. Caríssima amiga Ana Paula Fitas,

    Esta bela mas triste imagem é símbolo da realidade Moçambicana que está, como a Ana bem nos diz, a anos luz das crises que estão a afectar as sociedades da abundância do Ocidente. Na verdade, é importante que se faça um esforço de ajuda por parte de Portugal e da CPLP para garantir a paz civil na sociedade Moçambicana e o abastecimento de bens essenciais para que não surjam novas revoltas e não se instale o clima de degradação moral que afundará este país irmão no completo caos.

    Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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