Apesar do reconhecimento internacional que, na mais recente edição do Festival de Berlim, atribuiu a dois realizadores portugueses prémios de mérito (ver aqui), o cinema português entrou, apesar de tudo (ler aqui), num período de luto (ler aqui). De facto, a interrupção do Fundo de Investimento ao Cinema e ao Audiovisual põe em causa o desenvolvimento de uma das artes maiores do nosso tempo - e se é sempre lamentável que assim aconteça no campo da criação e da promoção cultural porque nada substitui a função social da arte, no caso do cinema, a questão assume contornos particulares sobre os quais vale a pena reflectir... não só pelo que significa para esta indústria nacional emergente e para a vida dos profissionais do sector mas, também, porque actualmente a multimedia é uma linguagem do simbólico privilegiada e, neste sentido, relegar para segundo plano o investimento na criação cinematográfica, significa reduzir o espaço de oportunidades dos mais jovens no que respeita ao desenvolvimento de motivações e competências culturais. A questão não pode, por isso, ser considerada de importância menor em tempos de crise, quando a violência espreita e as catarses criativas são uma das mais eficazes formas pedagógicas de resposta à participação cívica. E se os termos em que aqui colocamos o problema não tem sido o ângulo de abordagem mais comum desta realidade, vale a pena relembrar que, ao contrário de uma visão em muito ultrapassada pela realidade, num mundo cujo processo de mudança alterou indiscutivelmente o mercado de trabalho e em que a chamada globalização informativa incorporou o quotidiano dos cidadãos através da televisão, da internet e das redes sociais, a intervenção cultural não pode continuar a ser perspectivada como mero instrumento de lazer mas, isso sim, como uma dimensão integradora do desenvolvimento multifactorial dos indivíduos e das sociedades.
Sem comentários:
Enviar um comentário