domingo, 4 de março de 2012

O Elefante Branco Europeu...

Não, a expressão já não é só a referência  a grandes obras públicas de que, em Portugal, foram exemplo, designadamente, o Alqueva, o Porto de Sines ou até o projecto de TGV... hoje, a expressão é legítima na problematização da União Europeia que integramos. De facto, a crise estrutural e transnacional que, progressivamente, a Europa vem enfrentando desde há quase 4 anos, deve conduzir-nos a uma séria reflexão sobre o processo de construção deste espaço continental comunitário que começou por ser económico e se desenvolveu socialmente, a pensar na unidade política requerida para efeitos de credibilidade e influência internacional, no quadro da geopolítica dos chamados "blocos regionais". Neste contexto, um estudo cuidado e imparcial desta matéria denotaria que, ao contrário do que as actuais lideranças nacionais e supranacionais querem fazer crer, subscrevendo ideologias liberalizantes alheias às dinâmicas humanas, o problema não radica na teoria igualitária em que assentou o projecto de uma Europa Social capaz de ter como suporte legislativo transversal a defesa dos Direitos dos Cidadãos e, consequentemente, uma Europa em que não fosse anulado mas antes redireccionado constantemente, o papel do Estado Social ou, em rigor, o exercício da função social do Estado. O problema decorreu da adopção de um modelo económico importado dos EUA em que a liberalização dos mercados é, efectivamente, o centro da dinâmica da sociedade, sem atender à singularidade histórica e à identidade cultural dos países que foram integrando o que hoje é a UE. contudo, nem por isso teriamos chegado a este ponto de ruptura social global, se as lideranças europeias que se sucederam a Jacques Delors tivessem mantido a lucidez política indispensável à execução de projectos arrojados. Não foi o caso!... por isso, com pequenas questiúnculas emergentes das lutas eleitorais nacionais a transitarem para a lógica da gestão transnacional, a UE desenvolveu mecanismos redutores das competências que uma sociedade democrática poderia inspirar, insistindo em perseguir o modelo do liberalismo económico e financeiro que caracteriza a sociedade norte-americana - apesar do reconhecimento da sua falência que a Presidência de Barack Obama assumiu... por isso, agora, as populações europeias dependem de fundos comunitários (em proporções gravissimas, consoante o estado actual das suas economias) e se não houver discernimento e coragem política, corremos o risco de hipotecar até a possibilidade que este recurso nos permite de reestruturar a orgânica socio-económica, através da sua eventual canalização para atenuar os défices públicos. Resta-nos esperar que o bom-senso impere, ciente de que todas as áreas de intervenção são potenciais criadoras de emprego, diversificando e qualificando todas as capacidades de intervenção social sem as quais não sobreviveremos à crise e cujo esvaziamento conduzirá a um futuro incapaz de competir e de se aproximar de qualquer modelo de sucesso. A batalha está no terreno e do discernimento político dependerá a recuperação do caminho de uma revitalização social sempre adiada ou... a imobilidade perante o grande "elefante branco" com que nos confrontamos.  

1 comentário:

  1. Há sempre imprevistos de agenda. Eu não contava este post seu e tinha já decidido (e até avisado) que só falaria da(s) crise(s) depois de a Seara Nova (conhece?) publicar as excelentes intervenções feitas ontem pelos profs. António Avelãs Nunes e João Ferreira do Amaral. Picou-me. Como tomei muitos apontamentos, vou ver se me consigo orientar... é que toca em muitos pontos que carecem de ser discutidos. É que, se há défices que não estão a ser resolvidos um é o da discussão...

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