... um extraordinário poema a que a voz da autora, Natália Correia, confere a sonoridade exacta do sentir que o fez nascer e do que transmite, inscrevendo-nos na alma, o poder da palavra... gravado num serão na casa de Amália Rodrigues, na boa companhia de Vinicius de Moraes, David Mourão-Ferreira e José Carlos Ary dos Santos, eis "A Defesa do Poeta":
"Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo
um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do
esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível
um lápis
de armazenado espanto
e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de
mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de
cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores
banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o
parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças
que salvo do incêndio
da
vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois
os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não
vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de
ninguém
minha cobardia é
esperar-vos
umas estrofes mais
além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por
ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da
natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha
defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito
de
perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma
impudência
a mesa posta
de um verso
onde o possa escrever
Ó subalimentados
do sonho!
a poesia é para comer."
Natália Correia
Cara Ana Paula Fitas
ResponderEliminar"Hoje, mais do que nunca..."
Abraço
Rodrigo
:)obrigado, caro Rodrigo, :)
ResponderEliminarAbraço.
Fui feliz em vir aqui...
ResponderEliminarObrigado.
... bem-haja por isso, Rogério :)
ResponderEliminarObrigado.
Que refrescantes, sempre, estas passagens por aqui. Abençoada, Ana Paula!
ResponderEliminarUm beijinho, minha amiga
Lena Pato