Quando, no final do século XX, se anunciou o "fim das ideologias" e o "fim da História", assistiu-se à emergência do pragmatismo como retórica de uma espécie de angustiada pós-modernidade, ansiosa por se libertar de um passado que sentia desadequado às respostas necessárias a que apelava o ritmo anunciado de uma mudança vertiginosa, visível na senda da globalização informativa e económico-política. Na altura, dizer que essa representação de um pragmatismo pós-moderno era, ela própria, efeito do confronto com a mudança e como tal, efémera e hiperbólica, seria atribuível a "velhos do Restelo"... convenhamos agora que, hoje, apesar dessa rejeição "a priori", a "moda" do dito pragmatismo resultou numa tal plasticidade de recurso à argumentação que, ao cidadão comum, eleitor, é cada vez mais difícil discernir entre o pensamento comunista, socialista, social-democrata ou democrata-cristão porque, no auge das campanhas feitas por oposição à governação em exercício, todos se socorrem dos mesmos considerandos... são disso exemplos claros, problemas políticos recentes registados em Portugal de que destaco, pela sua evidência, a discussão sobre o Estatuto dos Açores (sobre o qual aqui escrevi) e o discurso do Presidente da República aos Empresários Cristãos (que aqui comentei) em que, designadamente, responsáveis de partidos tais como o PCP, o BE, o PSD e o CDS assumiram as mesmas posturas, ignorando contextos e significados do teor de cada um dos assuntos referidos... registando-se que é no pragmatismo ideológico que este oportunismo eleitoralista encontra sustentabilidade, cabe agora à comunicação social e aos próprios partidos, em nome da honestidade intelectual e política, esclarecer, sistemática e inequivocamente, o teor dos seus projectos, programas e princípios... se é que os têm e se efectivamente querem merecer o voto consciente e sólido do eleitorado. De outro modo, será apenas a mediatização partidária a vencer, através de votos emocionais decorrentes da tradição, da mistificação ou do dogmatismo corporativo, em que o voto é o simples registo de um ritual que a sociedade da imagem impõe, justificando a abstenção e, consequentemente, o reforço do descrédito político.
Mas há dúvidas de que é isso que há muito se passa? Que a relação com os partidos é cada vez menos ideológica e cada vez mais clubistica?
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