segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Dos Jornais Nacionais à Língua Portuguesa e à Informação

É um disparate... e é pena! A edição impressa de hoje, do DN, apresenta um título escrito em português... do Brasil! "Doutor, quero que meu filho seja mais alto" pode ler-se na página 14 de um dos maiores jornais diários nacionais... pode ser lapso, gralha, qualquer coisa... mas, é incorrecto e desagradável para o leitor, contraproducente para quem recorre aos jornais como instrumento didáctico-pedagógico e veículo de negligência cultural no tratamento da língua portuguesa. Esperemos que as redacções reforcem o trabalho de revisão... quer na imprensa, quer nas televisões onde erros ortográficos graves continuam a aparecer, repetidamente, nas notícias em rodapé. Se não é possível prever, para efeitos de correcção, os erros semânticos e sintácticos, a acentuação ou a dicção dos intervenientes dos serviços informativos, os media podem, pelo menos, ser rigorosos no uso da Língua - já que, com a qualidade do que seleccionam e a respectiva forma de abordagem, continuam a deixar muito a desejar. A título de exemplo, destaco ainda na mesma edição, a notícia sobre as Pirâmides do Egipto que exigiria, em nome da informação e do respeito pelo leitor, a explicitação do que enuncia. A questão é relevante porque a informação poderia revolucionar o conhecimento da História do Mediterrâneo e a sua omissão deixa margem para se duvidar do seu conteúdo... não ocuparia muito mais espaço a referência às metodologias e às fontes, pois não?... e se esse fosse o problema poderiam ter diminuido o espaço ocupado pelas fotografias... o problema é uma questão de critérios... e os critérios são como os valores: determinantes para a qualidade da intervenção e da informação.

4 comentários:

  1. Infelizmente ninguém olha para a língua como deve ser tanto na imprensa escrita como nos audiovisuais. O Acordo Ortográfico é o que é e dele não se pode esperar que venha resolver nenhum dos graves problemas com que a língua se defronta, sendo, pelo contrário, previsível que acrescente mais alguns aos que já temos.
    Uma das coisas que mais me preocupa é o ensurdecimento da língua. Algo me diz que uma língua que ensurdece, na qual apenas (ou quase só) se lêem as consoantes, é uma língua destinada a morrer prematuramente. Esse ensurdecimento, muito frequente nos sotaques que dominam os media, é hoje muito mais extenso do que era aqui há 50 anos, como os registos fonográficos existentes amplamente demonstram. O Acordo Ortográfico com a eliminação das consoantes mudas, mas que estavam lá para nos lembrar que a vogal é aberta, vai contribuir para esse ensurdecimento.

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  2. Caro JMCorreia Pinto,

    Obrigado pelo seu comentário e, particularmente, pela expressão feliz e perfeitamente ajustada relativa ao "ensurdecmento da língua". A verdade é que, também a mim, muito me preocupa o fenómeno linguístico que aqui refere em termos que subscrevo sem reservas e que, por tão bem caracterizado, passo a citar: "Algo me diz que uma língua que ensurdece, na qual apenas (ou quase só) se lêem as consoantes, é uma língua destinada a morrer prematuramente."... entristece-me profundamente este "ensurdecimento" da língua, mais evidente e grave no uso que lhe é dado pelos media, onde jornalistas, comentadores e políticos exibem a sua vaidosa dicção urbana (perdoe-me a ironia!!) denotando uma ignorância dolorosa... uma dupla ignorância, se me permite: porque, por exemplo, no Brasil, há já quem ande a trabalhar junto das populações índias para recuperar as suas línguas e dialectos, estudando-as e, sim!, ensinando-as às novas gerações! Chama-se a isto preservação do património etnológico e cultural e valorização identitária da cultura... Mais uma vez, obrigado.
    Um abraço.

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  3. Ogrande problema é que já não há nem critérios, nem revisores, na imprensa portuguesa. É o vale tudo, porque o importante é vender jornais, nem que para isso seja necessário acoplar-lhes brindes de gosto duvidoso.

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  4. Tem razão, Carlos... toda a razão!... e é pena!... principalmente por tanto termos esperado do jornalismo que, afinal, o mercado tanto desvirtuou.
    Abraço.

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