É doloroso assistir às catástrofes que, inexoravelmente, o mundo vive, por natureza e condicionalismo, eco-cultural... mais doloroso é ver o desesperado desalento das pessoas, incapazes de contrariar as tragédias que ninguém previne, evita ou minimiza pela atenção aos custos previsíveis... e os custos são vidas!... vidas/vidas e vidas/mortes... São milhares de pessoas sem casa, com fome, com sede, acompanhando "in loco" a agonia de outros tantos cidadãos, milhares de pessoas feridas, no corpo e na alma, para sempre, milhares de pessoas que nunca mais esquecerão que nem o chão é firme, para além do quotidiano combate sem tréguas por uma sobrevivência precária, tão difícil de vencer, ao longo de anos e gerações... os povos, colectiva e individualmente, têm uma capacidade de resistência sempre superior ao que sobre ela se presume mas, de facto, há cenários tão devastadores gravados no saber e no sentir de cada um, que se torna quase desumana a possibilidade de ultrapassar o trauma. Tem sido incansável, é certo, a mediatização da ajuda internacional mas, sejamos claros: não chega! Nunca chega! ... e, pior que isso!, não anula nem apaga a realidade! ... A culpa, a culpa de toda a Humanidade e dos países ricos, do capitalismo desenfreado e selvagem tem o rosto do Haiti!... porque, no século XXI, a desinteligência inaceitavelmente absurda e incontornavelmente persistente com que teimam em gerir o mundo, permite que os frágeis e pouco consistentes alertas que a ciência ainda vai fazendo ouvir, sejam ignorados... até que o medo aconteça perante os factos! Depois de se alardear a sociedade do saber, da informação e do conhecimento, devem os Governos e os financeiros de todo o mundo cobrir-se de vergonha pelas prioridades bélicas de comercialização de bens móveis e imóveis com que obrigam a política a olhar o mundo e pela qual se rendem os homens, tentados pelo lucro fácil e a imagem efémera de uma fama sem sentido que desaparecerá na voragem da História... por isso, o que move quem determina, pessoas e organizações, os campos de investimento nacional, europeu e internacional é, apenas, o interesse egocêntrico, pessoal e de grupo... porque o "sistema" não se faz sózinho mesmo que a economia aparente uma mecânica própria... o "sistema" move-se pela acção dos seus protagonistas e esses, sim, esses!, são culpados pela cumplicidade e a negligência dos efeitos conhecidos por todos, "a priori". Não podemos ser complacentes com a crueldade que se esconde sob a capa anónima do "sistema"... no fundo de nós, persiste porém, felizmente!, a nossa capacidade de retirar ensinamentos de tudo o que é susceptível de ser conhecido... chama-se Esperança, essa aprendizagem humana, humilde e autêntica que nos faz resistir e persistir mesmo quando, como agora, Somos Todos Haitianos!
São estas catástrofes que nos fazem sentir pequenos, menores e envergonhados.
ResponderEliminarSão estes acontecimentos que nos abalam a alma e nos fazem repensar os valores pessoais.
Mas a nossa maior vergonha centra-se naqueles que a nosso lado olham impávidos e serenos para estas imagens de destruição e morte. É nestas alturas que assistimos e vemos e perto a miséria humana, não só dos que sofrem com estes fenómenos, mas a miséria da alma humana que não se abala com eles.
Vergonhoso é o mundo em que vivemos. Valores de baixa importância são os que estamos a deixar!
O Haiti é hoje o rosto da nossa vergonha, tens toda a razão!
Lurdes
Excelente texto, Ana Paula, que toca com o dedo em tantas feridas da nossa civilização!
ResponderEliminarNinguém tem culpa do sismo que ocorreu, mas há muita culpa a distribuir por esses protagonistas, por explorarem um país e o deixarem tão pobre e tão indefeso que não tem qualquer meio de se defender, com construções precárias, sem qualquer meio e infra-estrutura de apoio aos sobreviventes, sem modo de ajudar quem ainda morre lentamente soterrado.
Obrigada por tão comovente e profunda análise.
Somos todos haitianos!
Um grande abraço
Olá Querida Ana Paula,
ResponderEliminarQue abordagem magnífica! Os meus sentimentos estão consigo até ao fundo da minha alma, mas falta-me a Esperança...o humano vai ter de ser "corrigido" pela sua Mãe! para bem de todos os outros seus filhos e nossos irmãos! A Natureza não nos acha superiores, apenas nós o achamos...a tal presunção que nos trouxe à beira do abismo.
Mark Twain dizia que quem é optimista depois dos 40 é porque não sabe o suficiente e quem não é pessimista depois dos 50, é porque pouco aprendeu.
Eu por vezes sinto-me o verdadeiro grão de pó, completamente impotente...Imagino quantos se sentirão assim...
Numa altura destas, tenho vergonha de ser humana!
Há dinheiro para armamento? Há!
Há dinheiro para investir na NASA ou CERN?! Há! conquistemos o Espaço!!!
Os nossos representantes envergonham-me. Fomentam guerras, fazem experiências tortuosas com animais. Quebram protocolos ambientais e fazem tráfico, crime organizado com consentimento dos Estados. Traficam drogas, traficam CFC e R12 , dois dos mais perigosos assassinos à escala global e outros tóxicos potentes. Por isso o buraco do ozono não fecha. Já nem se lembram de falar nisso, nem convém, pois está a aumentar!
Desbaratam as Florestas do Mundo, deixam milhões a morrer à fome nos Países pobres e à doença, podendo esta ser muitas vezes evitada e até erradicada. E nós que podemos fazer?! Iniciar uma guerra mundial sem armamento? O poder está todo de um lado. Estamos encurralados e fomos levados ao engano!
Aplicavam aqui neste País, no Haiti, os lucros da vacina da pandemia que engendraram para investir em armamento! As mesmas empresas que curam e salvam, também investem em larga escala na morte, na doença, na Guerra: as farmacêuticas.
Os cientistas ou obedecem a um sigilo ou ficam em perigo de vida, outros fazem o seu trabalho com a maior das cumplicidades! Autómatos!
Não confio nos homens que tem demasiado poder nas mãos, nem dos que a isso aspiram.
Quando vier o pagamento com juros cobrado pela Mãe Natureza, vai ser mesmo muito mau!
E pelo pecador padece o justo. Certinho.
Não teremos tempo de repor todo o mal feito pela humanidade e estamos a chegar ao limite, não nos iludamos.
Um beijo de um grão de pó atormentado... :(
Ana Paula
ResponderEliminarEu quase jurava que deixei aqui um comentário, mas parece-me que por vezes escrevo, julgo que envio, e... não sei se envio ou não. Alguns comentários, dado não terem qualquer teor que os faça excluir de publicar, vão mesmo para o tecto com as minhas distracções. Acho que me está a acontecer muito :(
De qualquer modo, como hoje estou sem pingo de inspiração, deixo-lhe apenas um agradecimento: obrigada.
Um beijinho
Queridas Lurdes e Fada do Bosque... sem palavras, deixo o apelo a que os vossos comentários sejam lidos como Textos, como Post's do A Nossa Candeia... Obrigado!...
ResponderEliminarUm grande, imenso e sentido abraço fraterno e um beijinho
Querida Manuela,
ResponderEliminarNão se preocupe com esses "lapsos" :) que nos vão acontecendo a todos e que costumo atribuir à densidade das preocupações que nos inquietam a alma :)
... mas, será que se não referia a um comentário ao post anterior e de tanto gostei ao ponto de ter dedicado este post a si própria, à Fada do Bosque e à Tina? :)
... mesmo sem o ter lido, registo a intensidade de que se faz a sua escrita, o seu pensar e o sentir... e, por isso, todos os que lerem este comentário, o considerarão publicado e ficarão à espera dos seus próximos escritos... porque a inspiração lhe surge tão regularmente que um momento de não-inspiração é apenas um respirar para tomar fôlego :)
Um beijinho
Manuela :)
ResponderEliminarAfinal o seu comentário chegou!!! ... e os lapsos não são assim tão frequentes!!! :)
Obrigado pelo texto que enviou e pela referência ao deficit civilizacional que vivemos!
Somos todos haitianos!
Um grande beijinho :)