As dívidas soberanas não vão poder ultrapassar os 3% e o défice deve corresponder a 0.5% do PIB de cada país! Além disso, estes limites (que só deixam feliz a narcisista Chanceler Angela Merkel, em contraste com o Reino Unido e a Hungria que não aderiram às mudanças hoje anunciadas, também contestadas pela Holanda e a Finlândia) implicam a sua inscrição nas Constituições nacionais, relegando "de jure" e "de fatu" as soberanias nacionais para 2º, 3º, 4º ou 5º planos e impondo, com muito frágil consenso por maioria qualificada e sem aproximação à pretendida unanimidade a não ser (ainda que com reservas!) entre os que já integram a Zona Euro (e apesar da reunião dos 27 se ter prolongado até às 5h da manhã!!!), a supranacionalidade que se institui, afinal!, por imposição do Directório Franco-Alemão, contra o espírito da Europa Comunitária que os fundadores e a adesão dos Estados-membros subscreveram. Extraordinário é, não só o facto do Primeiro-Ministro se mostrar surpreendido e decepcionado mas, acima de tudo, a afirmação do PS em que se regista a sua tentação em aceitar tal medida, contra a opinião dos mais credíveis analistas e especialistas, como é o caso do Professor Jorge Miranda que, justa e correctamente!, afirma que a inscrição destes limites faria sentido na Lei Orçamental e não na Constituição - até porque, como muito bem diz, o facto desta inscrição ter sede constitucional não implica o seu cumprimento! Para além de sabermos a verdade a que Jorge Miranda se refere, pela experiência própria de mais de 30 anos de democracia (a nossa Constituição garante a todos, entre outros, o direito à educação, à saúde, à habitação e ao emprego; contudo, tal determinação não é, de forma alguma!, cumprida!!!), vale a pena dizer: este pacote de medidas não tem valor absolutamente nenhum para o reforço das democracias e das economias europeias, consistindo exclusivamente num mecanismo de controle político da Europa, destruidor das economias nacionais e da própria UE. Por isso, a única resposta válida a estas imposições é levar à mesa negocial a hipótese de saída do Euro por parte dos Estados-membros (com contrapartidas, como disse Ilda Figueiredo, eurodeputada), até a Alemanha e a França se reconhecerem sózinhas, assumindo a sua vulnerabilidade. (ler aqui)
Excelente texto. Apenas duas notas:
ResponderEliminarPrimeira: seria bom que o que resta desta pobre democracia se impusesse e que a assembleia da Republica se prenunciasse sobre estas conclusões, responsabilizando quem lá está ou em alternativa esta impusesse um referendo. O que mais me impressiona no caso islandês até nem é o aparente sucesso da posição (postarei sobre isso mais logo)de não pagar a dívida. É sim a coragem de colocar no povo a decisão...
Segunda: Quer se queira, quer não, a Alemanha sai-se bem desta, independentemente do muito que se possa dizer sobre a subserviência das nações e sobre os resultados. Os mercados estão reconhecidos como tendo a última palavra e... todos a esperam. Esse é verdadeiramente o drama.
Quanto à nossa saída do Euro. Será dolorosa, mas inevitável. Agora? Mais Tarde? Quem sabe?
Obrigado, Rogério. Obrigado pelas boas palavras e, acima de tudo, pelo bom contributo que aqui traz a estas observações... e, em particular, a duas das referências que aqui traz: o caso islandês e o que é "verdadeiramente o drama"...
ResponderEliminarUm abraço.
« O Protocolo de Budapeste », livro de Adam LeBor, neste blogue há dias referido, embora seja apresentado como ficção, poderá constituir uma pista para o que actualmente se passa a Europa.
ResponderEliminarHá ficções que são mais assertivas que a realidade !
Mas quem é que hoje-em-dia tem vinte euros para comprar um livro, quando o dinheiro mal chega comer ?
A.S.
... o eixo de rotação do braço da Fraulein, ora se estende á esquerda, direita ou em frente, também noto espessa penugem no buço ( pergunto-me quando é que um buço é considerado bigode?) ... o fantasma do negro falcão mostra sinais de reminiscência ou será efeito especial da modelagem tridimensional ?!...ai, ai... só arrepios no coração da democracia e ideais éticos!!!...
ResponderEliminarAbraço de Solidariedade
M.José
Carissimo A.S.,
ResponderEliminarObrigado pela referência ao facto da ficção ser muito mais assertiva do que a própria realidade, face ao entendimento de quem nela vive e cujo grau de envolvimento dificulta a percepção distanciada requerida pelo rigor analítico... além disso, a questão das prioridades em clima de depressão económica é mais importante do que se possa pensar e, por isso, num tempo em que mais se justifica o pensamento crítico, mais dificuldades as pessoas têm em encontrar tempo e matéria de reflexão para o efeito... paradoxos que agravam o mundo e os dias!...
Um abraço.
Isto é que se chama poética incisiva, minha amiga :))
ResponderEliminar... não há nada como o espírito metafórico :))
Beijinhuusss :)