Os ventos não sopram de feição para os cidadãos, qualquer que seja o seu estatuto, trabalhadores ou desempregados. O lado mais negro desta "crise" que perde, a "passos largos", o seu carácter conjuntural e se começa a assumir como a tendência estrutural das sociedades, pelo menos destas primeiras décadas do século XXI, é, inequivocamente, a má gestão social em que assenta a política, que inflige danos dificilmente recuperáveis à qualidade de vida que as democracias pareciam ter criado e garantido. Testemunho maior deste facto são os resultados da chamada "concertação social" que, de "concertação", tem apenas o facto de significar a concordância "entre partes" a que é completamente alheio o interesse de quem trabalha e o próprio bem-comum, entendido enquanto interesse público. Na verdade, as chamadas "conquistas" deste acordo assinalam, sem escrúpulos, o fim dos direitos laborais e um retrocesso cívico e político como, de há muito, não há memória... é caso para dizer que, "água mole em pedra dura tanto dá até que fura" no sentido em que a constante acusação contra a protecção e os direitos de quem trabalha, deu os frutos desejados... Registe-se, na voragem desta vertiginosa inversão social que vivemos e a que assistimos, que a vigência destes direitos não evitou a calamidade económica a que nos conduziu a exploração económica da especulação neoliberal... mas, acima de tudo, entenda-se: as novas regras vão acentuar esta "crise", sem qualquer benefício para a sociedade e a democracia, como o prenunciam já, não só a continuidade da "desaceleração" económica europeia mas, também, a previsão do desemprego acima dos 13,4% para o ano em curso. Garantidos o aumento da pobreza, da exclusão social, do medo e da violência social, bem como, a diminuição sem paralelo do poder de compra, do consumo, da motivação e da confiança de consumidores, estamos perante a construção de uma arquitectura política capaz de concretizar o que, até há pouco, se considerava improvável: fazer o tempo voltar atrás... Quanto ao preço desta tão grande irresponsabilidade, veremos como será pago, sendo certo que os seus construtores serão os primeiros a insistir em que a solução é: regredir, regredir, regredir... Até onde? O tempo o demonstrará.
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