O juiz Baltasar Garzón vai conhecer esta semana a decisão do tribunal que o está a julgar por, alegadamente, ter "violado" uma amnistia datada de 1977 em que se consideraram ultrapassados e não sujeitos a julgamento, os crimes do franquismo... Testemunho maior da Justiça num tempo em que tudo parece impune e as populações sentem, cada vez com mais violência, a prepotência do(s) poder(es), Garzón, o corajoso juiz que preferiu enfrentar o carácter manipulatório da legislação produzida contra o interesse público e os valores democráticos que assentam no respeito pelos Direitos Humanos, recusou a hipocrisia e o branqueamento da História, enfrentando a fúria da extrema-direita. Porém, "o povo saiu à rua" e são milhares os que têm saido para o espaço público expressando, "alto e bom som", o seu apoio a Garzón, símbolo do reconhecimento de que a democracia não pode branquear crimes que atentam contra a vida humana e lesam, irreversivelmente, o direito à dignidade das sociedades e da própria Humanidade.
Cara Ana Paula:
ResponderEliminar"...recusou a hipocrisia e o branqueamento da História..." quando é tão cómodo, como se se estivesse distraído, não recusar!
J. Rodrigues Dias
Sem palavras, porque Saramago me as roubou:
ResponderEliminar"Hoje, nem ouro, nem prata, vivemos no tempo do chumbo. Que o diga o juiz Baltasar Garzón que, vítima do despeito de alguns dos seus pares demasiado complacentes com o fascismo sobrevivo ao mando da Falange Espanhola e dos seus apaniguados, vive sob a ameaça de uma inabilitação de entre doze e dezasseis anos que liquidaria definitivamente a sua carreira de magistrado. O mesmo Baltasar Garzón que, não sendo desportista de elite, não sendo ciclista nem jogador de futebol ou tenista, tornou universalmente conhecido e respeitado o nome de Espanha. O mesmo Baltasar Garzón que fez nascer na consciência dos espanhóis a necessidade de uma Lei da Memória Histórica e que, ao abrigo dela, pretendeu investigar não só os crimes do franquismo como os de outras partes do conflito. O mesmo corajoso e honesto Baltasar Garzón que se atreveu a processar Augusto Pinochet, dando à justiça de países como Argentina e Chile um exemplo de dignidade que logo veio a ser seguido. Invoca-se aqui a Lei da Amnistia para justificar a perseguição a Baltasar Garzón, mas, em minha opinião de cidadão comum, a Lei da Amnistia foi uma maneira hipócrita de tentar virar a página, equiparando as vítimas aos seus verdugos, em nome de um igualmente hipócrita perdão geral. Mas a página, ao contrário do que pensam os inimigos de Baltasar Garzón, não se deixará virar. Faltando Baltasar Garzón, supondo que se chegará a esse ponto, será a consciência da parte mais sã da sociedade espanhola que exigirá a revogação da Lei da Amnistia e o prosseguimento das investigações que permitirão pôr a verdade no lugar onde ela tem faltado. Não com leis que são viciosamente desprezadas e mal interpretadas, não com uma justiça que é ofendida todos os dias. O destino do juiz Baltasar Garzón é nas mãos do povo espanhol que está, não dos maus juízes que um anónimo pintor português retratou no século XV."
As minhas desculpas por tão extensa citação
Aí está uma causa que merece o meu apoio incondicional. Nada pode justificar, fazer prescrever ou limpar o genocídio de milhares de pessoas, seja por razões politicas, seja por razões étnicas seja por razões religiosas. Viva Garzon e todos os que não viram a cara ás causas justas!
ResponderEliminar... Caminante :))
ResponderEliminar... Garzón rima com Razón e Corazón!!!...
M.José
Afinal nao é so a nossa justiça que esta doente!
ResponderEliminarCaro Rodrigues Dias,
ResponderEliminar... obrigado!... porque é tão fácil fingir que se está distraído :)) ... muito obrigado e bem-haja!
Um abraço.
Rogério... não peça desculpa pelo excelente texto de José Saramago que aqui reproduziu... somos nós, todos os que aqui o podemos ler porque o partilhou, que agradecemos! :))
ResponderEliminarObrigado.
Um grande abraço.
Caro Anónimo,
ResponderEliminar... contra o genocídio e pela coragem de não virar a cara às causas justas, obrigado!
Um abraço.
Oh, Minha Amiga :))
ResponderEliminar... obrigada pela inesperada e feliz rima: Garzón rima de facto com razón y corazón :))
... só a uma boa intérprete de saxofone lhe ocorreria tal comentário :))
Beijos
... pois é, Bruno... infelizmente, o "mal" não é exclusivamente nacional... e se esta constatação nada resolve, deixa-nos, talvez!, menos sózinhos... esperemos que a força da expressão pública do povo espanhol nos sirva, também, para lhe tomarmos o exemplo :))
ResponderEliminarUm abraço.