Do debate sobre o Programa do Governo, vale a pena destacar: entre os membros do Executivo, a boa intervenção da nova Ministra do Trabalho, Helena André e as palavras do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que afirmou como ponto de partida e não de chegada, o Programa que o Primeiro-Ministro foi apresentar à Assembleia da República. Dos grupos parlamentares que se reconhecem como de esquerda, releva a intervenção de Francisco Assis do PS enquanto nos grupos parlamentares que se identificam com a direita, se evidencia a intervenção de Paulo Portas... Os destaques justificam-se pelo facto de, por um lado, Helena André ter transmitido, na forma e no conteúdo da sua intervenção, a atitude inovadora de uma governação que se pretende lúcida e capaz de encarar os problemas sociais do país com um sentido de responsabilidade que implica, simultaneamente, o esforço de articulação entre as possibilidades reais de uma economia fragilizada e as justas reivindicações cívico-políticas que, em diálogo, deverão deixar o estatuto de exigências para passar a plataformas de recurso das oportunidades que é urgente construir para responder à precariedade social que atinge a maior parte da população... e é recorrentemente neste sentido que se registam as palavras de Francisco Assis e as declarações de Luís Amado, manifestando a consciência da indispensável capacidade de diálogo que o Executivo tem que estar preparado para encetar de forma sistémica e consistente, sem ceder ao azedume que a pressão mediática pode desenvolver a partir de situações que, indirectamente, podem, como é o caso "Face Oculta", contribuir para o já antecipado "desgaste" governamental que é essencial saber contornar... porque o desgaste é um dos mais gravosos efeitos internos nos processos de continuidade governativa em contextos democráticos e, consequentemente, um dos pontos de incisão do trabalho da oposição que neles encontra um aliado privilegiado na medida em que, inclusivé, pouco esforço lhe requer... quanto a Paulo Portas, refira-se o facto da sua intervenção decorrer de uma análise racionalista do estado precário que uma maioria relativa sempre representa. Finalmente, uma observação sem destaque para as intervenções dos restantes partidos com representação parlamentar: enquanto o PSD foi profundamente desinteressante e banal e o BE repetidamente juvenil-arruaceiro e moralista-acusatório, a CDU foi mornamente previsível... ficou assim vazio à esquerda o lugar de protagonista que se requeria como força da oposição consistente e realista! Tudo isto porque o grande desafio é ainda inaceitável para parte significativa dos grupos partidários que privilegiam as suas expressões singulares de um poder efémero em detrimento do interesse nacional que se revê na leitura desdobrada do tradicional binómio "pobreza/riqueza" e a que, cada vez mais urgentemente, é preciso responder com o planeamento sustentado do aumento da produtividade nacional assente, por um lado, no combate à pobreza e à exclusão social e, por outro lado, na criação de emprego e de riqueza.
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