Berlim foi, entre 1961 e 1989, exemplo do que já foi designado por "esquizofrenia geopolítica" da Guerra Fria e o seu Muro, tristemente célebre, o rosto, a carne e o sangue dessa loucura... No contexto da estratégia dos Aliados que permitiu a derrota dos exércitos de Hitler, Berlim foi conquistada em Maio de 1945 pelo Exército Vermelho e dividida, para efeitos de controle e gestão política, em 4 sectores: russo, americano, inglês e francês. Contudo, herdeira maior da II Guerra Mundial, a Guerra Fria radicalizou posturas de divisão do mundo para o exercício hegemónico do poder e, em 1948, Berlim passou a estar dividida apenas em 2 sectores: soviético e ocidental. Foi então que Stalin decidiu, como expressão da sua rejeição do Plano Marshall que institucionalizou a aliança política da Europa com os EUA que, até hoje, conhecemos, impôr aos Berlinenses um bloqueio total, tornando-os reféns de um jogo político-ideológico de expressão militar que se prolongaria até final dos anos 80 do século XX. A reacção ocidental, protagonizada pelos EUA através da manutenção de uma "ponte aérea" que distribuiu persistentemente, durante 11 meses, alimentos à população cercada, levou à desistência do plano stalinista em 12 de Maio de 1949 e Berlim passou os 12 anos seguintes num clima de tensões, restrições e conflitos que, pelo medo, criou condições para a criação de 66,5 kms de gradeamento, 302 torres de observação, 127 redes electrificadas e 255 pistas para ferozes cães de guarda preparados para perseguir os que tentassem ultrapassar o espaço interdito. Estava criado o Muro de Berlim e inaugurado um mundo paralelo, coexistente e antagónico, feito de duas realidades que se não podiam tocar, reduzidas ao imaginário sobre a realidade de uns e de outros... um muro que criou ódios, medos, expectativas e suscitou altruísmos, revoltas e curiosidade. O muro da força, da violência e do terror contra a sociedade civil perduraria, com a conivência de todos, até 1989.
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