Depois dos recentes acontecimentos nacionais em que a comunicação social envolveu de forma empolgada o nome do Primeiro Ministro, recorrendo à pura especulação até um grau exponencial que chegou a levar alguns a pensar que poderia estar em causa a continuidade governamental, no discurso de abertura do Congresso do PS, ouviu-se José Sócrates assumir a determinação pela transparência política como se, finalmente, hoje, a verdade voltasse a não ser receada pelo exercício do poder que nos habituámos a ver dominado pela demagogia. Interessante, o discurso de António Costa, orador de primeira água e verdadeiro mobilizador, apresentou de forma incisiva a Moção cuja coordenação geriu, salientando de forma clara os grandes aspectos que esse documento contempla, sem incorrer no erro de se lhes referir de forma equívoca ou condescendente; refiro-me ao casamento homossexual, relativamente ao qual defendeu os direitos para todos (nomeadamente à constituição de família independentemente da orientação de cada um), demonstrando que o tema pode ser abordado sem qualquer enfoque fraccionário e, à questão da regionalização que, por razões de coerência estrutural, deverá criar condições para ser efectivamente levada a efeito, após novo referendo que, desta vez, se anuncia capaz de vencer. Importante, o discurso de Ana Gomes, defendendo uma acção reformista mais eficaz do sistema fiscal, da justiça e do combate aos off-shores e aos mecanismos que materializam a corrupção, acentuou (designadamente pelo carácter combativo da euro-deputada que levou a bom termo uma luta em que se empenhou, praticamente sózinha, no que se refere à investigação dos voos da CIA sobre território nacional) o denominador comum que tem atravessado os discursos deste Congresso e que, de Fonseca Ferreira a Jaime Gama, afirma como prioridade política dos socialistas, o desenvolvimento de medidas contra a crise e o combate ao desemprego. Defendendo também a reforma económica num quadro de estabilidade esteve Jaime Gama e, particularmente incisivo no que respeita ao combate à corrupção e à política de off-shores, Vera Jardim que foi claro na determinação política com que a Moção de José Sócrates se apresenta no que respeita a esta matéria. Até ao momento, relevantes foram ainda as intervenções de Vieira da Silva, defensor do combate à desigualdade, do reforço da protecção social e das políticas sociais sustentadas e a de António Vitorino, que afirmou a defesa do emprego, da coesão social e da luta contra a pobreza como eixos orientadores do próximo ciclo eleitoral, essenciais à futura acção governativa. Destaque também para o facto de, de Fonseca Ferreira a Francisco Assis (que desdramatizou a influência política do BE, reiterando a confiança nos portugueses), ter sido comum o reivindicar de uma maioria absoluta que, como dissera António Costa, é necessária à estabilidade governativa porque "os tempos não estão para governos fracos". Ouvidas foram também outras vozes conhecidas: Paulo Pedroso, Jorge Lacão, Augusto Santos Silva, António José Seguro e militantes/delegados anónimos, muitos deles referindo o nome de Ferro Rodrigues como o de um bom cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu... Finalmente, numa comunicação aos jornalistas, Fonseca Ferreira anunciou que irá apresentar uma lista própria à Comissão Nacional do PS e que os militantes que o apoiam irão organizar a partir de Março, uma corrente interna a designar por "Esquerda Socialista"... Não sei o que esperava a oposição ou a comunicação social deste Congresso que, a priori, consideraram este evento, uns, como Vicente Jorge Silva um não-acontecimento, outros, muitos, um unanimismo à volta do líder e que outros ainda reduziram à participação ou não de Manuel Alegre nos trabalhos... mas, efectivamente, um partido detentor de uma maioria absoluta, responsável pela governação, no contexto de uma crise internacional inédita e após uma campanha demolidora contra o seu Secretário-Geral e Primeiro-Ministro, está a realizar um Congresso adequado e digno do momento político que vivemos, no quadro do que é próprio ao funcionamento democrático... pelo menos, é isso que resulta do acompanhamento dos trabalhos que as televisões nos permitem... apesar do desalento e da decepção que isso provoca à oposição já que, se o BE preferiria constatar um efeito gravemente perturbador do evento resultante do facto de Manuel Alegre não ter estado presente, se tem que contentar com a auto-representação de que o PS o elegeu como principal inimigo e que, o PSD, pela voz da Dra Manuela Ferreira Leite se vê reduzido a ter apenas como comentário político expressões reveladoras de imaturidade democrática, como foram a afirmação de que uma cimeira informal europeia é mais importante do que o Congresso de um partido de governo com 3 actos eleitorais "à porta" e cujo desespero político lhe permitiu apenas ouvir no Congresso do PS a defesa da eutanásia e do casamento homossexual... Ridículo? Quem?
(este texto foi progressivamente actualizado até às 19.20h de hoje, sábado)
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