A voz das autoridades europeias leu hoje o veredicto já compreendido por todos: "(...) Esta crise providencia uma lição dolorosa.(...) As sociedades industrializadas também precisam de supervisão (...) de uma rigorosa supervisão (...)"... a par desta constatação, a intervenção estatal no sistema bancário e as sucessivas injecções de capital nele instiladas denotaram-se até ao momento insuficientes para estancar a crise e novas formas de intervenção vão surgindo (como os "bad banks", que também já aqui referimos)... justifica-se por isso que o problema seja equacionado noutros termos: na verdade, a realidade coloca-nos hoje perante questões até há pouco impensáveis como é o caso do conceito de trabalho (veja-se a este propósito o texto bem sugestivo de José Manuel Dias no Cogir), cuja tradicional representação social é posta em causa pelas actuais dinâmicas do mercado. De facto, o aumento desmesurado do desemprego e da pobreza, bem como o investimento desenfreado na redução de custos de produção proporcionada pelo recurso a novas tecnologias são faces de uma moeda que transformou as relações de produção, tornando mais barato o valor da mão-de-obra dado o excesso de procura relativamente à escassez da sua oferta. O fenómeno tem consequências sociais gravosas que estão, de há muito, à vista e cujo agravamento não pára de crescer a um ritmo assustador se o equacionarmos em termos de custos sociais. De nada servirá, portanto, continuarmos na lógica cega dos pequenos ataques político-partidários nos contextos nacionais porque o máximo que as intrigas e os conflitos conseguirão, serão sucessivas mudanças de protagonistas no exercício do poder. Provavelmente, o grande debate do futuro será em redor da sobrevivência e da protecção dos direitos dos cidadãos a uma existência digna, e dele não se poderá escamotear o problema do emprego a que subjaz o conceito de trabalho sobre o qual assentámos os modelos de desenvolvimento vigentes. Colocar o dedo na ferida é muitas vezes a única forma de percebermos onde se localiza a origem da dôr... e só com um bom diagnóstico poderemos encontrar a terapia adequada... aliás, talvez assim, possamos também reavaliar a diversidade política e reestruturar as relações internacionais sem os "a priori" etnocêntricos que nos fazem julgar as diferenças como erróneas apenas por não reproduzirem os padrões que consideramos correctos (veja-se o texto de Correia Pinto no Politeia) e que, provavelmente, não são mais do que formas conjunturais de reagir às dinâmicas envolventes... hoje, mais do que nunca, impõe-se a boa-fé entre povos e governos como forma de chegarmos ao ponto de partida: participamos de uma mesma humanidade e temos que coexistir partilhando esforços e recursos.
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