segunda-feira, 8 de junho de 2009

Complexidades de uma Abstenção Anunciada...


Na Europa, hoje, venceu a abstenção com uma média de 57% contra 43% de votantes... além disso, a característica generalizada dos resultados eleitorais deu a vitória ao centro-direita... na sequência dos resultados que deram forte expressão, na Holanda, à extrema-direita, "a coisa Berlusconi" (a expressão foi lançada por José Saramago num artigo que, aqui, pode ler) alcançou 40% dos votos em Itália e, em França, Jean-Marie Le Pen voltou a ser eleito para Estrasburgo... razão seja dada à lúcida, ainda que magoada, leitura de Vital Moreira que, além de atribuir os resultados de hoje aos efeitos da recessão determinada pela grave crise internacional, chamou a atenção para o facto da "fragmentação partidária" justificar o receio pela "governação do país no futuro". Em Portugal, a abstenção atingiu praticamente os 63% (que, nos Açores, chegou aos 78%)... por isso, vale a pena pensar o panorama político nacional, desta vez colorido a amarelo do Norte a Santarém e no Algarve, a rosa apenas em Lisboa e Portalegre e, a vermelho, nos distritos de Beja, Évora e Setúbal. Voltou, se assim se pode dizer, a vencer o eleitorado e a lógica tradicional que procura a segurança e a confiança quando o meio envolvente ameaça a estabilidade e produz a insegurança - o que justifica a vitória da CDU nos 2 maiores distritos do Alentejo e em Setúbal e o resto do país a alternar entre PS e PSD... o que é, aqui, digno de registo são alguns dados que concorrem para a explicação da abstenção enquanto reflexo do desinteresse ou melhor, da desmobilização cívica relativamente ao voto. Antes de mais, refira-se o imenso erro das sondagens (que não é inédito, infelizmente!, no nosso país!) que, sistematicamente, deram e alardearam a vitória ao PS, reduzindo a consciência da necessidade do voto por parte de muito eleitorado e que, por outro lado, desenvolveram a urgência em afirmar politicamente o PSD num momento em que a sua imagem estava excessivamente "apagada" e "desgastada" e em que emergia como estratégia a redução da hipotética margem de vitória do PS em que assentou a mobilização dos militantes e simpatizantes do Partido Social-Democrata... Com os devidos cumprimentos aos vencedores, cabe dizer que, mais do que aos respectivos Secretários-Gerais, cabem a Paulo Rangel, Miguel Portas, Ilda Figueiredo e Nuno Melo os parabéns pelos resultados alcançados... quanto ao Partido Socialista, para que se não repitam surpresas desagradáveis, vale a pena lembrar a sua acrescida responsabilidade na constituição de listas, programas e estratégia de campanha para as legislativas que deverá afastar-se de ligeirezas negligentes ou contextos cénicos que esgotem ou substituam a substancialidade explicativa e transparente da mensagem... porque, como, de facto, os tempos não são gratuitos nem "correm de feição" e muito deve o partido do governo pensar sobre o futuro próximo... Hoje, a Europa dos Cidadãos ficou mais ameaçada pelo espírito de "Europa Fortaleza" e nada de particularmente bom podemos esperar deste facto, dada a crise económico-social que nos afecta a todos... compreende-se a alegria de quem sente recompensadas as suas expectativas e a decepção de quem "foi apanhado de surpresa" mas, na verdade, os resultados não são ilógicos nem, realmente, surpreendentes... Vital Moreira sabe isso... e todos os seus colegas no Parlamento Europeu vão precisar do precioso contributo que a sua inteligência, saber e independência trará para a consolidação da Europa de Todos que continuamos à espera de ver solidamente (re)construida.

2 comentários:

  1. Cara amiga,
    Já era para ter articulado uma pequena ironia relativamente a estes resultados eleitorais, porém a situação é demasiado alarmante para tal “gracejo”.. A dita “Europa de Todos” antes de tudo precisa de ser (re)pensada para depois poder ser “(re)construída”.. Como disse: “venceu a abstenção” e dizer isso é dizer tudo o que não “disse” mas está implícito... é mais do que “desinteresse” ou “desmobilização cívica”, na medida em que também há quem vote por votar, fanatismo, notoriedade pública ou algo mais..e isto diz tudo. Abraço.

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  2. Cara amiga,
    De facto, perante toda a informação a processar, é difícil gracejar... aliás, acredito que, tal como diz, no contexto de uma tão elevada taxa de abstenção, parte significativa dos votos expressos decorrem desse voluntarismo militante, eventualmente gratuito ou fanático, que se oculta sob o signo da incondicionalidade... por isso, é gratificante encontrar nas palavras que aqui registo, a sensata expressão dessa urgente atitude saudável que nos convoca a todos: repensar para reconstruir... Abraço.

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