sábado, 27 de junho de 2009

A Construção Social da Esperança - 1





... a "talhe de foice" e com o pretexto inicial do Irão, esboço os traços iniciais de uma interacção sobre o pensar a Esperança, que, aqui mesmo, no A Nossa Candeia, uma reflexão de Francisco Oneto despertou... em jeito de brainstorming, em busca de um bote quase improvável no meio do oceano, caminhando sempre ao encontro do indispensável esforço de repensar o mundo... começo com uma memória: há cerca de 12/13 anos, numa aula de "Interacção Cultural em Sociedades Complexas" leccionada ao 5º ano da Licenciatura em Serviço Social, no contexto do estudo comparado de práticas e valores, os meus alunos de então e eu própria, assistimos a um documentário sobre "A Condição Feminina no Paquistão"... não vou, naturalmente, descrever as 3 horas de análise e reflexão a que procedemos mas, considero importante saber-se que, com mais facilidade do que seria suposto, jovens de ambos os sexos, aturdidos pela crueldade e a legitimidade da desigualdade de tratamento entre homens e mulheres à luz do pensamento político e religioso que uma parte significativa do mundo reconhece como válida, enunciaram um conjunto de observações assentes na comparação entre valores e práticas em contextos civilizacionais diferentes... assisti aí a uma espécie de "construção social da esperança" ao constatar que era inequívoco para todos que a igualdade, como a liberdade, é um processo aberto, em construção, em que -todos!- temos ainda, dos espaços envolventes da antiga Pérsia às planícies norte-americanas ou aos territórios europeus, muito a fazer... porque a complexidade subjacente aos fenómenos do relacionamento inter-pessoal e social e aos seus reflexos políticos é muito mais do que a simples constatação das aparências... porque a construção social da esperança tem muitas vezes os custos da própria vida... mas, existe... entre a lapidação e a manifestação, há, como as 2 fotografias aqui reproduzidas denotam, uma mudança digna de registo - apesar do resultado ser o mesmo: a morte de uma mulher!... A complexidade da realidade contemporânea de que a actual situação socio-política do Irão é expressão, evidencia a pertinência da problemática: entre Ahmedinejad, o ditador que negou o Holocausto e ameaçou o mundo com a proliferação do nuclear e Mussavi, ex-Primeiro-Ministro do sangrento regime de Khomeini, a população iraniana vive duplamente refém de uma tradição que domina os vastos territórios rurais do seu país e a vontade da mudança que as suas cidades reflectem... entre a pobreza e o medo que fica agora a descoberto (enquanto Obama e Medvedev conseguirem resistir à tentação de se pronunciar ou de intervir - atitude que merece o maior aplauso de todos nós por permitir aos iranianos o confronto com os seus próprios terrores sem a transferência causal da culpa dirigida aos bodes expiatórios do Ocidente), olho, atenta, para o Irão... onde se persiste numa luta pela construção social da esperança, sem a qual a mudança será, talvez, mais do que improvável...

2 comentários:

  1. Na verdade, o exemplo da Revolução Portuguesa de Abril de 1974 bem poderia ser um exemplo para o mundo... Que bom seria assistir a revoluções com flores nos canos das espingardas, sem tiros, sem vítimas, dando voz aos povos... Mesmo sem esperança de que isso possa suceder no Irão, resta a música, a que os sufis sempre deram primazia...
    Obrigado

    Francisco Oneto

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  2. Francisco,
    Ao ler as suas palavras, ocorreu-me que se os Sufis adquirissem meios de influenciar o poder e a intervenção cívica, os seus povos poderiam ter aberto um atalho para a Esperança!?... será?...

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