terça-feira, 5 de julho de 2011

Lições do Passado para a Construção do Futuro...

"(...) Ousam dizer-nos que o Estado já não consegue suportar os custos [das] medidas sociais. Mas como é possível que actualmente não tenha verbas para manter e prolongar estas conquistas, quando a produção de riquezas aumentou consideravelmente desde a Libertação, quando a Europa estava arruinada? Apenas porque o poder do capital, tão combatido pela Resistência, nunca foi tão grande, insolente, egoísta, com servidores próprios até nas mais altas esferas do Estado. Os bancos, agora privatizados, preocupam-se principalmente com os seus dividendos e com os elevadissimos salários dos seus administradores, e não com o interesse geral. O fosso entre os mais pobres e os mais ricos nunca foi tão grande; e a corrida ao capital e a competição nunca foram tão incentivadas. O motivo basilar da Resistência era a indignação. Nós, os veteranos dos movimentos de resistência e das forças combatentes da França livre, apelamos às gerações mais jovens que dêem vida ao legado da Resistência e aos seus ideais, e que os transmitam. Dizemos-lhes: revezai-vos e indignai-vos! Os responsáveis políticos, económicos, intelectuais e a sociedade em geral não podem desistir, nem deixar-se impressionar pela actual ditadura internacional dos mercados financeiros que ameaça a paz e a democracia. Desejo a todos, a cada um de vós, que tenham o vosso motivo de indignação. É precioso. Quando algo nos indigna como eu me indignei contra o nazismo, tornamo-nos militantes, fortes e empenhados. Juntamo-nos a esta corrente da História, e a grande corrente da História deve prosseguir graças a cada um de nós. E esta corrente avança para uma maior justiça, uma maior liberdade, mas não para a liberdade descontrolada da raposa no galinheiro. Estes direitos, cujo programa a Declaração Universal redigiu em 1948, são universais. Se conhecerem alguém alguém que deles não beneficie, compadeçam-se e ajudem-no a conquistá-los. (..) A pior das atitudes é a indiferença, dizer «como não posso fazer nada, desenvencilho-me como posso». Este tipo de atitudes conduz à perda de uma das componentes essenciais do ser humano. Uma das componentes indispensáveis: a capacidade de indignação e a consequente militância. (...)" (Stéphane Hessel in "Indignai-vos")...  

2 comentários:

  1. Ana Paula, permita-me que lhe conte algo acerca de uma mania que tenho: a de tentar perceber por que razão há pessoas que se dão aos outros com a generosidade do sangue. Alguns de forma tão generosa como utópica, e por que não dize-lo, às vezes inútil.Dos muitos exemplos que felizmente temos condições de conhecer, já procedi à análise da vida e obra de uns quantos Seres Humanos de eleição, sendo que o último caso pelo qual me interessei, por razões de comemeoração e exercício de memória, foi Zeca Zfonso. A obra que deixou permitiu-me aprofundar quem era o homem, quem era o artista, quem era o sonhador, quem era o corpo que guardava aquele coração e alimentava aquele peito, aquela voz: aquela alma. Depois de estudar as letras das suas canções, os ritmos, a musicalidade das palavras, a genuina significação de cada palavra, cheguei à conclusão que o nosso maior criador de propostas, de ambientes e circunstâncias resumiu a sua vida numa canção: Grandola Vila Morena. Sabe porquê? Porque ele sempre viveu, repito, viveu lá.Aquela canção não é um hino a nada de especial, é o retrato de uma vida. E quem é assim, só é com os outros. Portanto, de nada vale lamentar o mundo, há que construir outro, pelo exemplo, sem esperar outra recompensa que não seja de acordo com o imperativo categórico de Kant. Quem é com os outros é, quem é porque é, talvez seja. Um abraço!

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  2. José Luís... obrigado!... obrigado pelo extraordinário sentido alegórico com que, generosa e justamente, ilustra o sentido do ser, do dizer e do pensar... Extraordinário exemplo e extraordinária ilação... até porque o imperativo categórico de Kant é a única recompensa que nos não desilude e nos reforça a convicção, a confiança, a persistência... e, talvez, também por isso, a única realmente eficaz... obrigado pela luz que trouxe à Nossa Candeia!
    Um abraço.

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