segunda-feira, 22 de junho de 2009

A montanha pariu um rato!!!

Surpreende-me a facilidade com que se assumem banalidades como se de ocorrências extraordinárias se tratasse... surpreende-me mais ainda que a Ciência, nomeadamente as Ciências Sociais em que se deve incluir a Economia ou, pelo menos, a análise técnica e responsável elaborada por especialistas ("experts" como soe dizer-se num país onde se confunde cultura com conhecimento de um idioma, à data, dominante ao nível das relações internacionais), se não incomode de ser divulgada mediaticamente sem o respeito pela sua própria natureza e pela sua significação... vem esta breve reflexão a propósito do designado "Manifesto dos 28 Economistas"... porque, afinal, se não erro no documento em questão!, trata-se apenas!!!, de uma espécie de relatório ou seja, de sistematização de dados conhecidos que podem ser úteis se pensarmos em recorrer a um documento-diagnóstico do país mas que, objectivamente, pouco acrescenta ao que temos vindo a reconhecer, sucessiva e parcialmente, em diversas áreas do investimento público, ao longo das últimas décadas... porém, se, por um lado, como costuma dizer-se "a montanha pariu um rato", por outro lado, é preocupante que não sejam enunciados caminhos alternativos, opções viáveis e devidamente demonstradas para a Economia portuguesa e para o futuro do país... continuamos num país onde "fazer ciência" é "coisa" de inventores e outros amigos de "minhoquices" ou, simplesmente mas, pior um pouco, reféns dessa concepção medieval do conhecimento que se esgotava no célebre "Magister dixit"... no século XXI... é obra!... e uma evidência sobre as razões para um não reforço da esperança de que o país precisa.

5 comentários:

  1. Cara amiga, bem o diz: "análise técnica e responsável".. Ora pergunte-lhes pelos três princípios de gestão da qualidade total . E já agora, qual a "missão" (a razão de ser das "organizações") deles...(economicamente falando). De novo, o velho problema deixado pelo modo como se entende esse: "fazer ciência" quase como "methodos" (no sentido de caminho + desvio + fingimento) próprio do sujeito da modernidade (autónomo, sistemático, ego-centrado, teorético)... Para se "chegar" a uma "verdade aleteológica" tem de se perceber que o sentido de "experiri" acaba por nos levar para a dimensão do "como se" fazer uma experiência fosse sofrer uma experiência -(a qual pergunta pela dimensão pática de sofrer a perguntabilidade do nosso horizonte).Abraço

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  2. Cara Ana Paula
    Muita matéria de reflexão para um tempo tão escasso...
    Há uma coisa que preciso de dizer: pessoalmente, tenho imenso orgulho no facto de ter tido como professores, gente cujos mestres foram Malinowski, Radcliffe-Brown, Max Gluckman, Jack Goody, Maurice Godelier... E mais: nunca nenhum dvd substituirá o efeito da transmissão oral e o valor da experiência directa, do testemunho que a docência canaliza no seio de uma disciplina tão peculiar como a antropologia (das outras disciplinas falarão os seus praticantes). O fluxo da palavra criadora...
    Mas mais importante, e à margem de qualquer ironia, é a questão da "esperança de que o país precisa"... Não tenho certezas nenhumas na esperança e no que ela designa - justamente, porque a esperança representa o equilíbrio do que é incerto, o tal cheque em branco ao devir que fatalmente afecta quem se preocupa com a economia e faz manifestos. A esperança tornou-se coisa de banqueiros e investidores. E desde há muito, pois a economia é uma doutrina soteriológica onde a escolha racional é tão decisiva como a maçã do Jardim do Éden... e que tem o seu dogma: o dogma da Imaculada Escassez sempre prontamente convertido em doutrina a partir da própria praxis, beneficiando dos contextos de competição, crise, dificuldade, incerteza... sobrevivendo e nutrindo-se da perpetuação da violência e da dominação, do roubo, da opressão e da fome...
    Tão potentes são os demónios deste mundo, que só algum homenzinho semi-nu, frágil e simpático (penso no Mahatma Ghandi...) poderá, talvez, fazer-lhes frente... E penso na comovente descrição que Lanza Del Vasto fez do seu encontro com Ghandi...
    A esperança será uma categoria universal?
    (eu penso que não, mas não tenho certezas...)
    Obrigado Ana Paula

    Francisco Oneto

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  3. Jeune Dame,
    De facto gostaria muito de "os" interrogar sobre os "três princípios de gestão da qualidade total" e a "razão de ser das organizações"... obrigado pela partilha pedagógica da conceptualização do «"methodos"... próprio do sujeito da modernidade», reveladora da consciência que envolve toda esta problemática. Um grande abraço.

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  4. ... E aproveito para pedir desculpa pela desconexão estrutural. Os diálogos das sombras têm destas coisas. Vicissitudes do digitalismo (ou do capitalismo cognitivo - o do conhecimento como mercadoria...).

    Francisco Oneto

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  5. Caro Francisco,

    Aceite, antes de mais, o meu pedido de desculpas por só agora responder às importantes e estimulantes palavras, com que sempre contribui para enriquecer esta gratificante reflexão partilhada... quanto à "desconexão estrutural" a que se refere deixe que lhe diga que me fez sorrir... porque, de facto "os diálogos das sombras têm destas coisas" e nada mas, mesmo nada substitui a densidade da transmissão oral da experiência ou, menos ainda, "o fluxo da palavra criadora"... estou, como já reparou, a recorrer à citação de expressões que utilizou no seu texto porque serem, objectivamente, felizes e adequadas... obrigado, Francisco!... obrigado também por partilhar comigo a ilustre docência e interacção que teve a rara e preciosa oportunidade de desenvolver com os maiores nomes da antropologia que muito me honraria ter conhecido; contudo, no meu caso, a interacção com os autores que refere decorre da riqueza do que o seu pensamento publicado me permitiu... contudo, tive a felicidade de encontrar outros que, como o Francisco, tiveram a oportunidade de os conhecer... assim, se me permite, direi que um pensador faz escola e uma escola cria redes... e é essa, segundo creio, a melhor herança e o grande património que, além das obras, nos deixaram - pelo menos aos que, com eles, não privaram... quero ainda, Francisco, agradecer-lhe a excelente reflexão que aqui enuncia sobre a natureza da "esperança" e sobre a dinâmica da sua conceptualização... e porque, talvez a perspectiva da "construção social da esperança" nos permita avançar neste diálogo penso escrever, logo que possa, entre hoje e 6ªfeira, um texto para cuja exploração analítica conto o seu olhar e a sua argumentação... pode ser? Mais uma vez, obrigado, Francisco. Receba o meu abraço amigo.

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