"(...) E agora estão na praia, em Espinho. O miúdo que não suporta mangas curtas também embirra com o mar. O pai quer levá-lo a molhar os pés. A avó não deixa. Então o pai leva-o às cavalitas e desata a correr para as ondas, enquanto diz: Nós não temos medo do mar, nós não temos medo do mar.
E atira-se com o miúdo agarrado ao pescoço. Nada com ele assim pelo mar dentro. O miúdo chora, cada vez mais agarrado ao pescoço do pai que de súbito pára, levanta-o nos braços, solta uma gargalhada e diz:
- Nós não temos medo do mar.
Então o miúdo que se assustava com as ondas abraça o pai e repete com ele:
- Nós não temos medo do mar.
A avó chora. O pai passa-lhe a mão pela cabeça. E nós não temos medo do mar. (...)"
(Manuel Alegre in "O Miúdo que Pregava Pregos numa Tábua", ed. Dom Quixote)
Caríssima amiga Ana Paula Fitas,
ResponderEliminarsem dúvida que a literatura, mais que a política descasada de humanismos, tem muito a ensinar-nos como reflexo de vida e de vidas vividas.
Desconhecia que Manuel Alegre para além da pura poesia, que encantou várias gerações, se abalançou também numa literatura de prosa poética. A avaliar pelo excerto escolhido é um livro que valerá a pena ler!
Na verdade, a escola da vida e os ensinamentos das gerações mais velhas e dos nossos entes queridos, rectos e sérios, são o molde da formação de um Ser Humano pleno!
Um cordial abraço, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Carissimo amigo Nuno Sotto Mayor Ferrão,
ResponderEliminarSubscrevo e congratulo-me com a autenticidade vertical das observações que aqui partilha e a cujo elevado nível já nos habituou... quanto a este pequeno-grande livro de Manuel Alegre estou certa que, ao lê-lo, confirmará as suspeitas que este excerto lhe suscitou... é um livro maravilhoso de que, sem que o soubessemos, tinhamos saudades... um livro daqueles que nos retratam da melhor e da mais sentida e real forma, o essencial dos valores rectos e sérios que quase parecem esquecidos nos caminhos da história e do tempo ou na vertigem dos dias... mas que, afinal e felizmente!, existem e são os que ainda garantem que é possível viver conformemente ao que torna melhores os Seres Humanos, permitindo-lhes contribuir para tornar o mundo melhor.
Receba o meu abraço cordial e fraterno.