terça-feira, 27 de abril de 2010

Urgências (2) - Do Desemprego à Saúde a Soldo


Para fazer a ligação ao post anterior, começo por referir que os call-centers são o mais flagrante exemplo do erro estrutural das políticas de emprego... não apenas pelo que implicam e significam ao nível da desumanização dos serviços (daí a imagem que escolhi para ilustrar este apontamento e que, como muitos reconhecerão, é uma cena do filme "Nas Nuvens") com consequências que podem ser gravissimas para os utentes e para os próprios trabalhadores mas, também, porque a precariedade contratual dos seus funcionários em nada contribui para a sustentabilidade social e para o aumento da riqueza ou da produção nacional... claro que têm a vantagem de permitir a quem aí trabalha, não estar, pelo menos temporariamente, desempregado mas, esse é um efeito perene que não integra a criação de emprego, nem concorre para a segurança ou a estabilidade quer dos cidadãos, quer das famílias (factor decisivo para a dinâmica saudável das sociedades de consumo)... lembremos-nos aliás, a este propósito, que na Índia, onde se situam os maiores call-centers do mundo, os seus trabalhadores são cidadãos que vivem, de acordo com os padrões que, por ora, ainda temos no ocidente, de forma paupérrima! Contudo, apesar de tudo isto ser uma evidência, a lógica deste capitalismo desenfreado, feito de um neo-liberalismo que se auto-representa como complacente, valorizando a criação do trabalho precário como uma benesse, chegou ao ponto extremo de, sob uma ideologia perversa e pervertida, desenvolver empresas que promovem o trabalho temporário, minimizando o quanto concorrem para consolidar a realidade da rotatividade e da exploração dos trabalhadores... e, para cúmulo, atingiu agora sectores estruturais, especializados e que põem em risco direitos fundamentais dos cidadãos, da educação à saúde! As recentes notícias sobre os desempenhos médicos nos serviços de urgências hospitalares, contratualizados através de empresas que, a soldo, vendem serviços de pessoas licenciadas em Medicina às administrações hospitalares é um erro grave e um risco sério para a segurança dos cidadãos nos serviços de saúde... é verdade que a Ordem dos Médicos está atenta mas, é urgente intervir uma vez que, no nosso país, há muitos agentes políticos disponíveis para apoiar privatizações a todo o custo e a qualquer preço - contrariamente ao que constatamos ser o grande esforço e a grande vitória interna de Barack Obama nos EUA...

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