quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Compreender Londres e Manchester... além do medo, da boçalidade e da ignorância!

É difícil falar sobre a pobreza quando ela grassa entre nós e ameaça explodir, de revolta!, no mundo à nossa volta, destruindo o que faz os lugares comuns da vida urbana que nos habituámos a ver como sinais de civilização... é provavelmente por isso e pelo grande medo que isso provoca, que todos correm às televisões, aos jornais, à conversa de café para condenar, sem reservas nem compaixão, os filhos dos nossos concidadãos que, votados à exclusão social, vivem em bairros degradados, sem emprego, sem expectativas de mudança e, consequentemente, sem esperança. É difícil aceitar que a sociedade em que vivemos, a sociedade europeia, guarda no seu seio, dissimuladas mas latentes e prontas para se revelarem, as sementes do racismo e do ódio. É difícil pensar que podem ser colegas de escola dos nossos adolescentes e dos nossos desempregados, aqueles que agora sairam à rua, na velha Inglaterra de "bom-tom", para reagir, sem ideologia organizada partidariamente, ao fosso entre ricos e pobres que se agrava progressiva e paralelamente à medida que até o simbolismo da igualdade de oportunidades é defraudado e regride, terminando com os chamados "direitos adquiridos" - que as gerações anteriores pensaram conquistas definitivas de uma democracia em que acreditaram e que, além de justificar consumismos de todas as cores, incentivou mais ou menos conscientemente as migrações, em nome de uma prosperidade com "pés de barro", insustentável porque assente na exploração dos mais pobres em nome do fascínio de um mercado ganancioso que se queria sempre maior.... porém, é disso que se trata quando pensamos a violência urbana nas economias industrializadas que temos: de pobreza, de desemprego, de racismo, de deficiente escolarização e de uma estrutural falta de expectativas que atravessou já 2 ou 3 gerações e se encontra agora num ponto de "não-retorno"... de "não-retorno" sim, porque, independentemente da acção policial ditada pelos governos em momentos de grande tensão social, a violência continua dentro das casas, das personalidades, dos comportamentos e dos modos de pensar... reguardada é certo, porque ninguém corre para ser magoado, ferido ou morto mas, viva e pronta a revelar-se ao menor pretexto... pronta a revelar-se até no médio ou no longo prazo sob a forma de ideologias consistentes de reacção à gestão política e económica dos nossos dias! A História escreve-se nas ruas e não se apaga!... os cidadãos emitem os sinais da mudança que é preciso empreender com coragem, já!, independentemente das bolsas e do mundo da alta finança onde se decidem as economias e as dívidas soberanas e onde, em última análise, se joga o futuro de guerra e paz da Humanidade. Só não vê quem não quer ver, cobardemente escudado no medo e na convicção fácil de que a força policial resolverá os problemas de milhares e milhões de pessoas condenadas à exclusão ... como se "uma mentira contada muitas vezes se tornasse verdade" só porque a contamos uns aos outros, em voz alta, na televisão e na rua, como se nos tentassemos convencer do conteúdo que propagamos. A verdade sobre a violência nas ruas de Londres e de Manchester é que os europeus precisam urgentemente de se confrontar consigo próprios e reconhecer as suas próprias limitações!... só depois estarão em condições de começar a pensar sobre os "outros", estes que agora nos querem fazer parecer o "inimigo" e que mais não são do que a sua própria imagem no espelho da  sociedade europeia que somos.

5 comentários:

  1. Querida Ana Paula lógico que eu vim aqui no seu blog hoje para saber melhor o quê e como foram as coisas na Inglaterra (risos).
    Parabéns pelo seu texto, e se vc me permite, eu copiarei e colarei no meu blog porque você é uma mestra primorosa eu não poderia fazer melhor, e com orgulho colocarei essa cola...
    Gozado eu estava ontem por um grande acaso na lanchonete de um posto de gasolina perto da minha casa aqui em Goiás, e ví a parte do jornal da noite na tv justamente que contava que em Liverpool, Manchester e Londres centenas de pessoas (vândalos) saquearam comércios e colocaram fogo e tudo mais e depois o primeiro-ministro falou algo como: "se eles pensam que ..(...) nós sabemos quem eles são e serão punidos" (rs), e que haviam sido colocados 16 mil policiais nas ruas.
    Ana Paula daí eu comentei com a moça da lanchoenete ela falou "o que aconteceu?" eu disse: você não viu agora na tv a reportagem, ela me disse: não.
    Isso querida porque são cenas comuns no Brasil rebeliões, prisões, revoltas, mas infelizmente nada organizadas apenas uma ou outra e logo "o fogo se apaga".
    Como eu já coloquei num comentário e vc sabe melhor do que eu, a globalização trouxe uma tremenda desmobilização do povo, mas eu creio no filme do geográfo Milton Santos, brasileiro que disse que haverá agora no 3o. milênio uma revolução mesmo das minorias.
    Bem, daí o gerente do posto falou "isso aí é revolta porque a polícia pegou um cara lá e a Inglaterra é país rico" . E era só essa informação que eu tinha que esses atos tinham a ver com UMA RETALIAÇÃO DA POPULAÇÃO . AGORA eu chego aqui e leio que é porque estão excluídos, é isso??
    Mon DIEU...
    Infelizmente pessoas do bem devem ter sido prejudicadas, claro e que não tinham diretamente av er com isso tudo, mas é o "viver em sociedade" e seu preço...
    Ana Paula sinceramente eu gostei, vejo como SADIO O ATO DE REVOLTA E ESPERO MAIS DO PAÍS DOS HOOLIGANS E DE PAUL MCCARTNEY (rsrs), país tambem de Lady Dy e da rainha Elisabeth, beijinhos, Daniela

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  2. Querida Ana Paula:)

    Confesso que estou perplexa com a magnitude dos riots que grassam por toda a velha Albion. Estou muito de acordo que é necessário um novo olhar e uma nova abordagem para analisar esta explosão de violência fundada em pura raiva, impotência e frustração provocadas por um modelo de sociedade que se esgotou no consumismo e na ausência de valores.A resposta aqui está, é preciso pensar nisto.

    beijinho

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  3. Cara Ana Paula Fitas, sei que sinceramente procura a razão das coisas. Partilho consigo a reflexão inquietante de ter esta juventude (como diz, sem ideologia ou alinhamento partidário) uma expressão cultural com imenso conteúdo e expressão dramática. Refiro-me à musica e mais concretamente ao RAP. Ao RAP branco e também ao negro. No meu post de hoje dou dois exemplos, um deles, considerado moderado é, no entanto significativo. As letras também o são e as imagens produzidas, de uma beleza extraordinária, facilitam a adesão às mensagens e promovem réplicas ainda mais intensas. Esta violência é por mim apresentada como uma sequela de um movimento sem precedentes. Os videos do rapper em questão tem mais de 400 milhões de visualizações!!!

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  4. Cara Ana Paula, esta sociedade arrasta dentro de si a semente da destruição.Só com mais democracia, mais inclusão social, mais justiça é possível termos mais 50 anos de paz. Esta é a grande lição de um fenómeno que começou há 30 anos com Reagan e Tatcher. Há sempre "uma mão invisivel". A do mais forte!

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  5. Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote(88anos)simplesmente digo que o sorridente Blair do Partido Trabalhista,alinhou à Direita e até deu o braço ao Bush criminoso de guerra e como tal o seu Trabalhismo desiludiu os Trabalhadores ingleses e assim abriu caminho aos Conservadores e aos Tatcheristas.Remato êste meu desabafo dizendo mas,porém,todavia,contudo.....
    Com populismo e demagogia/muita mentira,verdade parece/mas em liberdade e democracia/cada Povo tem o Governo que nerece.

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