terça-feira, 23 de agosto de 2011

Do assédio sexual de Strauss-Kahn à América do Presidente Obama

 Strauss-Kahn, ex-director do FMI, saiu ilibado das acusações de violação a uma guineense, empregada no hotel onde esteve alojado numa das suas visitas aos EUA. Após uma primeira avaliação, a magistrada que primeiro o ouviu, aceitou um milhão de dólares e enviou-o para prisão domiciliária. Agora, o Procurador norte-americano responsável pelo processo,  considerou não "dar por provado" que o acto sexual foi forçado e Strauss-Kahn, já conhecido por assédio sexual (repare-se que, neste momento, o homem enfrenta outra acusação em França, desta vez por parte de uma jornalista), foi libertado das acusações, tendo já vindo dizer que o processo foi uma "difícil provação"... enfim!... numa cultura onde os direitos humanos, em termos de género, continuam a ser violados, com grande destaque para a violência contra as mulheres, e a que acresce a tradicional discriminação étnica e económica, a decisão, infelizmente!, não surpreende ninguém. Por isso, a declaração do magistrado não tem eco público senão como mais uma manifestação do desrespeito pela igualdade de direitos e de completa negligência relativamente aos direitos humanos e aos direitos das mulheres... apesar de ser verdade que muita esperança se depositou em que este pudesse vir a ser um caso exemplar na América de Obama... Porém, um olhar atento sobre a sociedade norte-americana dos nossos dias, a cujo conhecimento não estamos habituados a aceder, permitiria que compreendessemos melhor a polémica e infeliz decisão do dito Procurador: porque os EUA estão a viver (ainda que dessa realidade não tenhamos grande informação) um momento em que republicanos e extrema-direita tentam tirar dividendos das dificuldades da actual governação, com base em acusações ideológicas e racistas que acusam o próprio Presidente Barack Obama não só de ser "comunista"(???) como de racismo para com os brancos... pois... no mundo nada é a "preto e branco" e a complexidade dos nossos dias merece a nossa melhor atenção. 

3 comentários:

  1. Eu até admito que DSK tenha sido alvo de uma cilada, Ana Paula, mas o que me custa mais engolir é que se tenha provado que houve relação sexual (forçada?), mas depois se argumente que o caso não deve ir a tribunal porque a vítima é mentirosa. Fico sem saber se a decisão seria a mesma no caso de ela não ser preta, pobre e empregada de um hotel.

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  2. Carlos,
    Eu também poderia admitir que pode ter sido uma cilada... não fosse o procedimento habitual nestes casos de violência sexual contra as mulheres, ser exactamente esse o argumento de recurso do "predador"! De facto, esse é o argumento mais comum do perfil do agente de assédio e de violação, "aceitável" juridicamente porque, contrariando as mais elementares regras de segurança em termos de auto-defesa das vítimas, não é possível demonstrar a violência do acto... relembro que, no caso recente do Tribunal da Relação de Lisboa que absolveu um psiquiatra que violara uma paciente grávida, a incipiência do defensor do acusado permitiu ao juiz argumentar que a expressão da vontade da vítima enquanto negação, se ignorada!, não é suficiente para considerar a consumação do facto como "crime"!!! ... por isso, tal como no caso do Porto, a consideração da "mentira" da vítima é a repetição do mais velho argumento legitimador da violência contra as mulheres... não esquecer que os antecedentes do ex-director do FMI nesta matéria eram públicos e conhecidos de todos, inclusivé do PS francês... lamentável! ... e sim, se a vítima fosse branca e não subalterna socio-economicamente, a avaliação poderia ter sido substancialmente diferente - é a questão que permanecerá no espírito dos que conseguem perceber o problema à luz de outras causas sociais...
    Obrigado por comentar.
    Um abraço.

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  3. Como estou com um problema no meu PC ( não é nenhum partido politico), não sei se o comentário chegou em condições. Se chegou a Ana Paula fará o favor de o substituir. Sempre tive algumas duvidas da veracidade desta acusação. Sempre achei uma história mal contada. Não é norma, nos hoteis, as camareiras não trabalharem sozinhas, trabalharem na companhia de uma colega? Para evitar situações como as que levam à acusação do senhor? O senhor não é virgem nestas situações, é verdade, mas teremos que o condenar só porque tem antecedentes? Mesmo enfrentando uma acusação de uma jornalista, que diz ter sido violada por este senhor....quando foi a violação? 2001 ou 2002? Só agora vai a tribunal? Os politicos, com a sede de poder, não são capazes de fazer coisas bem piores? Montar uma cabala com intenção de destruir um adversário? Porque razão só agora se dá tanta publicidade a este caso? Terá a ver com um anuncio de uma possivel candidatura à PR francesa? São só duvidas! Este senhor até nem me é simpático, há qualquer coisa que não me inspira confiança, mas daí a condená-lo... Quanto ao racismo, se bem que os americanos o sejam e muito..não vou por aí. Muito menos agora que o PR é preto. Não acredito que os oposicionistas vão tão longe e façam ameaças destas.
    Abracinho
    Zeparafuso

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