domingo, 7 de dezembro de 2008

Da beleza ao espanto e à interrogação



A beleza real das paisagens deixa-nos subitamente mudos, entre o espanto da emoção e a vontade de eternizar o olhar... depois... depois, emerge em catadupas a linguagem, atropelando-se a si mesma na quantidade imensa de coisas a dizer... e assim, entre o silêncio e a vontade de pensar alto, recorro à adaptação breve do excerto que em seguida transcrevo, a partir de um texto que escrevi o mês passado para uma crónica radiofónica emitida no Alentejo:

Se os enquadramentos políticos nacionais, regionais e locais estimulassem a fixação social da população migrante, provavelmente o problema da desertificação humana do mundo rural não se colocaria de forma tão grave como aquela que conhecemos e, talvez estivéssemos, no mínimo, a contribuir duplamente para uma causa justa que diz respeito ao bem-comum: contrariar a discriminação contra os imigrantes e acelerar o necessário equilíbrio da distribuição demográfica pelo espaço disponível… talvez o Alentejo crescesse e florescesse como todos nós desejamos - há demasiadas décadas para podermos acreditar que se nada fizermos, pode ser encontrada solução eficaz para este deserto que nos vai consumindo os campos e a vida…
... interrogo-me: como podemos nós desperdiçar tanto espaço, tanta humanidade e tanto património, deixando que as pessoas se acumulem nas cidades, se discriminem, se maltratem e empobreçam?... não, o futuro não poderá encontrar grandes desculpas para o presente que vamos deixando instalar-se como o vemos, porque temos, além do mais, uma História de milhares de anos que já nos deveria ter servido de lição!...
… mas, afinal, quem conhece as origens de um povo, sem ser pela história que nos vão inventando ou que a memória das famílias, apesar de tudo, demasiado curta para a dimensão da História, nos quer levar a construir?... Da verdade pouco reza a ideologia mas rezam isso sim, muito mais, os factos, a experiência e a vida… um dia todos nós deveriamos reler uma das versões relativas a uma das fontes originárias da população e, consequentemente, da cultura do Alentejo… um escritor menos conhecido do que lhe é merecido, descreveu-a, fictícia e sistémica, num dos mais belos romances que li, escritos em língua portuguesa: chama-se o livro “Vida e Morte dos Santiagos”... e o seu autor, Mário Ventura.

4 comentários:

  1. Obrigado pelas vossas palavras.
    Ana Paula Fitas

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  2. Muito interessante. Bom espaço de reflexão

    Vou passando ...


    BlogAbraço


    iv

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  3. Muito obrigado pelo estimulante comentário, particularmente gratificante por ter sido recebido no dia em que se celebram 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Agradeço a solidariedade.
    Até breve!

    BlogAbraço

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